Flexitarianismo: uma dieta a pensar na saúde do ambiente

Flexitarianismo: uma dieta a pensar na saúde do ambiente

11 Outubro, 2018 /
Foto de Kevin Mccutcheon via Unsplash

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É preciso tornar verde o sector alimentar ou... acabamos por comer o planeta.

Façamos um ponto prévio que embora seja óbvio nem sempre está presente nas nossas cabeças: todas as nossas acções têm, pelo menos, duas consequências. Uma em nós, outra na nossa envolvente ou, se quisermos, no ambiente. Por muito que os sistemas sofisticados de distribuição e as campanhas de marketing vão escondendo da nossa vista (e, por conseguinte, do nosso coração) o processo que nos traz o bife ao prato, a verdade é que este é longo, complexo e dispendioso do ponto de vista natural, consumindo recursos e resultando em sub-produtos tóxicos e poluentes e na saturação dos solos.

“O sistema alimentar é um dos grandes motores das mudanças climáticas, da mudança no uso das terras, da destruição de fontes de água e da poluição de ecossistemas aquáticos e terrestres pelo uso excessivo de nitrogénio e fósforo.” São estas as primeiras palavras de um estudo publicado esta semana na revista Nature e citado no jornal The Guardian, que volta a chamar a atenção para o problema e a alertar para a necessidade de mudança de comportamentos e processos a bem da sustentabilidade do planeta.

Um equilíbrio entre carne e vegetais

Conduzido por Marco Springmann, da Universidade de Oxford, o amplo estudo traça previsões para o mundo em 2050 e aponta um cenário pouco animador para essa altura, em que se estima que a população da terra tenha aumentado em 2,3 mil milhões de pessoas. Em causa, está sobretudo o consumo de carne algo que se estima que a par com a população mundial possa vir a sofrer incremento pela melhoria das condições de vida. Como resume outro dos envolvidos no estudo, é preciso tornar verde o sector alimentar ou.. acabamos por comer o planeta; uma conclusão que repete a ideia deixada pelos últimos relatórios ambientais das principais instituições, como o recente apresentado na Assembleia das Nações Unidas.

Apesar de não apontar uma solução concreta — até porque neste caso falamos de opções diárias e estritas a cada um —, o estudo levanta pistas sobre qual a melhor dieta para o nosso planeta: o flexitarianismo ou, por outras palavras, o vegetarianismo moderado, que se traduz em média numa redução de 75% na quantidade de carne, 90% da quantidade de porco, 50% no número de ovos compensado com 3x mais consumo de feijão e 4x mais consumo de nozes ou sementes.

Melhor tecnologia na agricultura e pecuária

Para além da dieta, o estudo aponta para a necessidade de melhorias tecnológicas no sector da agricultura e pecuária, que resultem numa redução dos recursos ou da sua saturação, bem como dos desperdícios inerentes a toda a cadeia de produção. O uso de fertilizantes menos abrasivos é um ponto importante nesta mudança.

Em suma, uma das principais ideias que ficam desta investigação prende-se com a necessidade de combinar diversos factores a bem da sustentabilidade do planeta. Relacionando os dois pontos anteriormente explorados, é fácil percebermos que dificilmente se melhora alguma coisa consumindo mais plantas se essas forem cultivadas de uma forma nociva para o planeta com o recursos excessivo a químicos fertilizantes que acabem por poluir solos e aquíferos.

Outros cientistas, ouvidos pelo jornal britânico The Guardian, reiteraram as noções iluminadas pelo grupo de pesquisa mesmo não fazendo parte do grupo. Neste momento é praticamente consensual entre a comunidade científica e as principais organizações mundiais que para preservar o ambiente há que promover mudanças no estilo de vida dos consumidores; resta saber como essas mudanças podem ser implementadas em cada local, se através de incentivos, de impostos ou de outras vias como simplesmente a educação para a problemática.

Por exemplo, em países mais ricos e supostamente mais desenvolvidos, como Reino Unido ou Estados Unidos da América, as percentagens de mudança são ainda maiores fruto de, em média, o seu consumo de carne ser superior ao dos restantes países. Em contraponto, e porque nada é simplesmente preto no branco, nos países sub-desenvolvidos continua a haver uma carência dos produtos que os outros consomem em excesso.

Não sendo nada de propriamente surpreendente este estudo acaba por chamar a atenção para a complexidade da cadeia alimentar e para os padrões e tendências que se vão solidificando erodindo o meio ambiente longe da nossa vista. Numa perspectiva geral, a necessidade destas mudanças não é difícil de perceber, ainda menos se pensarmos na proveniência de cada tipo de alimento — se por exemplo legumes ou frutas conseguimos facilmente aceder a produtores locais, produtos como carne ou peixe chegam às nossas casas depois de um caminho muito mais longo e por vezes sujeito a mais processos industriais intermédios, na média dos casos.

Uma ideia geral a valorizar é a preferência pelo consumo de produtos locais, o respeito pela sua sazonalidade e a tomada de consciência em relação a todo o processo a que estão sujeitos os produtos até chegar ao nosso prato.

Autor:
11 Outubro, 2018

O João Gabriel Ribeiro é Co-Fundador e Director do Shifter. Assume-se como auto-didacta obsessivo e procura as raízes de outros temas de interesse como design, tecnologia e novos media.

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