Being alone
isn’t easy
other people
have impatient
waiting-room eyes.
Tove Ditlevsen
Um amigo diz-me que amo de maneira volátil. Que para mim todos os livros que acabo de ler são o melhor livro de sempre. Embora preferisse não concordar com ele, não encontro argumentos para o contestar. Desde que comecei a aprender a falar que procuro uma forma de expressar os desníveis, desvios, alterações e contrastes, subtis ou graves, da intensidade que tudo nivela à superfície e que parece ser a face mais clara do que vive em mim. “De manhã, havia esperança. Pousava como um reflexo fugidio no cabelo preto e lustroso da minha mãe, no qual nunca me atrevi a mexer.” São estas as duas primeiras frases de A Trilogia de Copenhaga, livro de Tove Ditlevsen, um dos expoentes da literatura dinamarquesa de que nunca tinha ouvido falar até ser publicado em português, em 2022. Primeiro sem conseguir distinguir uma razão para o abalo que me atravessa o corpo, aos poucos distinguindo que acabo de entrar na vida de uma pessoa num só golpe, de uma forma quase selvagem que me deixa numa espécie de torpor e sou incapaz de compreender inteiramente. Sinto-me confusa, era uma autobiografia e afinal será poesia? Comove-me o extremo acerto da universalidade: a infância é insuperável. Leio as duas frases e não consigo continuar. Com desconfiança e estranheza, reconheço em mim um sentimento de deferência, a intuição prematura de que estou perante uma obra-prima, um tesouro que quero manusear com cuidado. Se calhar o meu amigo tem razão. Ainda por cima, também me sinto imediatamente próxima dela. Porquê, se a minha mãe era exatamente o oposto de uma mãe em quem não nos atrevemos a tocar? Se as palavras me tocam é porque, entre uma e outra, qualquer coisa se mantém, qualquer coisa permanece. Entre a sua infância e a minha interpõem-se mais de 50 anos. O que as une? Como qualquer infância, ambas são cheias de inocência, de credulidade, expetativa, candura, assim como de injustificável, inaceitável violência. Apesar de todas as diferenças, o distanciamento entre mim e o mundo dos adultos era o mesmo, precisamente este, um distanciamento sustentado pelo temor e, tal como o dela, o meu íntimo era ocupado por uma certeza, pelo sentimento que leva a essa decisão, de um certo arrojo, de nos protegermos deles.
Alcançar o impossível: ser uma mulher poeta
Escritora, poeta, mãe de quatro filhos, toxicodependente. Nascida em dezembro de 1917 no seio de uma família operária, as memórias de uma infância marcada pela pobreza extrema tornaram-se um tema vital que atravessa toda a sua obra. A família vivia no bairro operário de Vesterbro, em Copenhaga. Ditlev, o pai de Tove, alternava entre trabalhos mal pagos e períodos de desemprego. Leitor empenhado e sindicalista, partidário de políticas socialistas, sonhador, amargo pela frustração de não ter podido dedicar-se à literatura. Pragmática, cruel, manipuladora, e uma fiel adepta de convenções sociais, ainda que saudosa de uma adolescência com os seus momentos de libertinagem, a mãe assume-se como uma figura funesta nos anos de formação. Tove escreve os seus primeiros poemas aos dez anos e sonha tornar-se poeta. Porém, aos dezasseis anos, é forçada a abandonar a escola e ir trabalhar. Os seus pais consideravam que não era necessário uma rapariga continuar a estudar e, tanto eles como o irmão, Edvin, ridicularizavam a sua ambição. Depois de fazer vários biscates, em 1940, com vinte e dois anos, casa com Viggo F. Møller, que tem cinquenta e dois, editor da revista de poesia Vild hvede, que tinha publicado o seu primeiro poema em 1937.
“It probably wasn’t necessary to marry him to move up in the world, but no one had ever told me that a girl could make something of herself on her own.”1
Ditlevsen escreve para se libertar. Da pobreza, do corpo, da intimidade, dos maus tratos da mãe, do desconforto social, de uma série de casamentos malogrados, da solidão, da maternidade, do frio.
Os livros de Ditlevsen carregam a amarga evidência de que hoje, tal como na época em que Tove viveu, a sociedade continua a anular as meninas e continua a anular as mulheres. Em A Trilogia de Copenhaga, o lixo percorre todas as fases da vida de Tove, todos os estados, todos os lugares. A casa onde Tove cresce fica perto dos caixotes do lixo. Os encontros para brincar com os primeiros amigos são junto aos caixotes do lixo. Os primeiros ensaios de liberdade, bem como o sentimento de uma liberdade inalcançável nos primeiros dias de trabalho, acontecem perto do lixo. O desejo, o sexo, a maternidade, a descoberta do corpo é feita no lixo. A perceção, com alívio, de que o destino dela não é o das amigas, mas a escrita, é feita perante o lixo. O lixo é uma pontuação que tanto permite entrever o seu universo como os lugares onde vive. É a sua gramática. Ditlevsen escreve para se libertar. Da pobreza, do corpo, da intimidade, dos maus tratos da mãe, do desconforto social, de uma série de casamentos malogrados, da solidão, da maternidade, do frio. Com uma argúcia seca e sombria, num estilo construído com uma honestidade despótica, descreve as circunstâncias em que viveu e como aos dez anos decidiu escrever poemas, muito cedo determinada perante a boçalidade com que a família os acolheu: não os mostrar a ninguém.
“Respondi alegremente: Também quero ser poeta! Ele franziu o sobrolho de imediato e disse com ar ameaçador: Não te ponhas a magicar coisas, deixa-te de ilusões! As raparigas não podem ser poetas. Ofendida, fechei-me na minha concha enquanto a mãe e o Edvin se riam da minha insensatez. Decidi que nunca mais revelaria a ninguém os meus sonhos, decisão que cumpri com escrúpulo durante toda a minha infância.”2
Com uma vontade férrea, opõe a íntima convicção de que um dia se tornaria uma «mulher poeta» à crença dominante, fervorosamente defendida pela mãe, de que as raparigas precisavam do casamento para escapar à pobreza e à vergonha, bem como à convicção do pai de que uma mulher jamais poderia ser uma escritora. Descrita como tendo uma linguagem que aborda emoções e experiências ignoradas à época, a sua obra de estreia é um livro de poesia intitulado Pigesind (algo como “Coisas de rapariga”), uma exploração da experiência e da identidade femininas, bem como da memória. Publicado em 1939, haverá de tornar-se um marco na literatura dinamarquesa. Poucos anos depois, em 1941, é publicado o seu primeiro romance, igualmente bem recebido pela crítica, pelos editores e pelos leitores. Entretanto, teve filhos, divorciou-se e voltou a casar, primeiro com Ebbe Munk, em 1942, e depois com o médico Carl T. Ryberg, em 1945. Este último viria a viciá-la numa droga de que nunca se livrou definitivamente e que acabaria por abreviar o fim da sua vida. Em 1949, foi internada pela primeira vez num hospital psiquiátrico (a que regressou várias vezes), e, em 1951, apaixonou-se por Victor Andreasen, editor do Ekstra bladet, com quem foi casada durante vinte e dois anos e de quem fez um divórcio amargo e envolto em escândalo. Quando o casamento com Andreasen terminou, Ditlevsen publica um anúncio anónimo no jornal do ex-marido:
“Having escaped a long, unhappy marriage, I feel lonely in this world where everyone is coupled up. I am 52 years old, 172 centimeters tall, slender and blonde. I have an eight-room apartment in Copenhagen and a lovely summerhouse. I have no lack of money, only love. I’ve made a name for myself in literature, but what good is that when I am missing a loyal and loving companion of a suitable age, preferably a motorist. Interests: literature, theater, people and domestic bliss. Please supply a photograph and details of personal circumstances.”3
A mordacidade do seu estilo era tão inconfundível, que a falta de uma assinatura não era relevante: toda a gente sabia quem tinha escrito o anúncio.
A fama nacional durante a vida e a póstuma fama internacional
Desde a primeira obra, Tove escreve num registo muito diferente dos seus contemporâneos: de forma genuína, não hesita em falar da sua experiência pessoal e da vida das mulheres de meados do século XX. Os seus textos falam sempre, por isso, de temas que eram considerados impróprios: saúde mental, solidão,maternidade, aborto, divórcio e infidelidade, drogas e álcool, e da busca pela criatividade, da tenacidade em continuar a escrever. Questões controversas como estas, em particular expostas na primeira pessoa, não eram aceites na literatura séria. Poeta da classe operária, Tove Ditlevsen descreve em poemas e em prosa as condições dos trabalhadores em Vesterbro, a vida quotidiana das mulheres e das crianças nos bairros populares, os pobres, os marginalizados, os excêntricos, as trabalhadoras do sexo em Istedgade. Nos seus poemas, há vestígios de schlagers (canções pop cativantes com letras sentimentais), quadras e canções de embalar das mulheres trabalhadoras. O trabalho doméstico, a guarda dos filhos, o trabalho de cuidado dos outros, estão sempre presentes. Encontramos tanto a descrição destes trabalhos — de criar os filhos, de servir os homens — como a sua aversão a eles. Não consegue aderir ao destino doméstico que lhe é imposto, e nunca estará à vontade nele. Todavia, apesar de se ver frequentemente descrita como uma outsider literária, em vida, não lhe faltou reconhecimento. A principal editora literária de Copenhaga publicou-a e, no total, Ditlevsen publicou cerca de trinta livros, entre romances, contos, ensaios, poesia, livros infantis e autobiografias. A sua obra nunca parou de crescer, escrevendo cerca de um livro por ano ou de dois em dois anos. Ditlevsen tornou-se prodigiosamente famosa na Dinamarca. Desde o início da sua carreira, aparecia quase semanalmente revistas e jornais, bem como na televisão e na rádio, ou em artigos críticos. Muitos dos seus camaradas escritores desprezavam-na por não se coibir de aparecer em artigos de estilo de vida, dar entrevistas e participar em sessões fotográficas na cozinha, à secretária, com os filhos, quase sempre em casa.
Poeta da classe operária, Tove Ditlevsen descreve em poemas e em prosa as condições dos trabalhadores em Vesterbro, a vida quotidiana das mulheres e das crianças nos bairros populares, os pobres, os marginalizados, os excêntricos, as trabalhadoras do sexo em Istedgade.
Tove nunca será uma heroína em nada, nem sequer na história que escreveu da sua própria vida. Mas como foi possível que não a conhecêssemos até agora? Os seus livros foram incluídos nos currículos das escolas dinamarquesas, venderam muito, Ditlevsen é uma das autoras mais populares do seu país. Em 1955, ganhou o De Gyldne Laurbær (Louros de Ouro), um prémio atribuído por livreiros de enorme relevância. O seu livro de memórias Dependência, publicado em 1971, onde fala da sua toxicodependência e dos seus vários maridos, e incluído na Trilogia publicada em português, é considerado uma obra-prima mundial. O funeral de Tove Ditlevsen, em 1976, foi um acontecimento marcante, reunindo milhares de pessoas em Copenhaga para a homenagear como uma das figuras literárias mais célebres da Dinamarca. A maioria eram mulheres: um “mar de mulheres da classe trabalhadora” que seguiram o seu caixão, e fizeram notar nos jornais que uma manifestação pública de pesar tão avassaladora era invulgar para um autor — exceto talvez para Hans Christian Andersen. Até 2014, contudo, a obra de Ditlevsen foi consistentemente ignorada pelo cânone literário dinamarquês, principalmente composto por autores masculinos, tendo sido qualificada como uma escritora antiquada por usar a rima numa altura em que os autores e críticos modernistas privilegiavam a poesia experimental. Para resumir tudo em duas palavras, era “escrita feminina”. Quando, em 2021, um tradutor de dinamarquês encontra o terceiro livro da trilogia num aeroporto, e obstinadamente o traduz, apenas inicialmente com apoio financeiro, tudo muda. Com a tradução inglesa das memórias em três volumes, The Copenhagen Trilogy (A Trilogia de Copenhaga, 20224), publicada pela Farrar, Straus & Giroux, em 2021, Tove Ditlevsen é postumamente catapultada para a fama, sendo traduzida em mais de trinta países. O New York Times nomeou-o um dos dez melhores livros de 2021, pela sua «espantosa clareza, humor e candura». E contudo: a preocupação com a redescoberta da obra de Ditlevsen tem sido caracterizada por alguns críticos modernos como uma busca feminista — não literária, mas exclusivamente política. Ou seja: “escrita de mulheres”. Não exatamente literatura, mas mais um exercício de divagação de um nicho que, além de polemista, não teria verdadeiramente uma voz, e um lugar, dentro do cânone. No fundo, mera provocação. The Faces (Os Rostos, 2024), um relato sobre uma mente alucinada e a sua experiência de internamento, escrito após uma depressão durante a qual não consegue escrever, é traduzido ainda em 2021, em 2023 chega The Trouble With Happiness [O Problema da Felicidade], uma recolha de contos, e finalmente, em 2024, a primeira tradução em inglês de uma coletânea dos seus poemas.
A beleza, a escrita e o vazio
There Lives a Young Girl in Me Who Will Not Die [Vive em mim uma menina que não morrerá], a tradução em inglês de alguns dos seus poemas recentemente publicada, é a primeira oportunidade para quem não lê dinamarquês de ter acesso a um volume de poesia selecionada escrita ao longo da vida de Tove. Escritos entre 1939 e 1976, são poemas que, com uma candura inquebrantável, ligam a tristeza à infância, a agonia à idade adulta, e falam de saudade, de morte, de perda, de memória. Há neles traços obsessivos, uma curiosidade mórbida, um permanente desejo de subversão. Descreve vividamente a desilusão quotidiana sem nunca perder a inocência de uma criança. A sua vida é exposta até ao osso, entre o belo e o sem sentido. Tove escreve com a nostalgia de algo irremediavelmente perdido, mas não sabemos o quê. Porventura, ela também não. Não é apenas que a sua infância tenha sido roubada, é também que o amor não se cumpriu, e, por muito que se procure, a pessoa escolhida é sempre a errada. E é também algo relacionado com o género em que nascemos e nos aprisiona. É a memória de um vazio que não fica menor com o tempo, mas se aprofunda, e que mesmo os sonhos realizados não preenchem: “You had a girl’s dream of a husband and baby, / and you got what you wanted but were still alone.”5
“Nós, que temos frequentemente mais medo da vida do que da morte, temos como que mais uma dimensão, um sentido de liberdade ao pensar que podemos retirar-nos a qualquer momento com um pedido de desculpas cortês, como quando se deixa uma empresa prematuramente.” — Tove Ditlevsen
Segundo percebo através de artigos dedicados à forma estilística única que criou, a linguagem de Tove, aparentemente simples, torna-se complexa nas imagens que descreve, tornando a tradução difícil. É também aí, a meu ver, que está a sua força. O crítico Niels Barfoed sugere que há algo de desarmado e acessível em Tove Ditlevsen, e uma atitude de desprezo por si própria que por vezes se torna chocante. A menos que consigamos ver que essa mesma atitude indefesa é precisamente a sua forma de resistir. Concordo com ele. De uma grande beleza, uma beleza fina, pueril, diáfana, a escrita de Tove Ditlevsen é ao mesmo tempo um veneno que rapidamente nos submete à escuridão total e nunca nos libertará. A concisão extraordinária com que escrupulosamente expõe a sua vulnerabilidade é de uma lucidez arrasadora, e transmite uma energia comovente. Sentimo-nos próximos (próximas?) da sua sinceridade, da sua sensibilidade apurada. Os internamentos, o mundo dominado pelos homens, o aborto, o abuso, as relações complicadas com a família, mas também, e talvez principalmente, a relação complicada com si mesma, aparecem nestes livros de forma direta. A vagueza da vida é descrita de forma direta. Opaca, volúvel, ambígua, risível, Ditlevsen passa por ela com crescente indiferença, aceitando, e mesmo desejando, os papéis que socialmente lhe outorgam, ao ponto de se tornar totalmente indiferente a tudo menos a duas coisas: a escrita e o líquido transparente. A primeira liberta-a, a segunda torna-a totalmente dependente. Mas a primeira não a protege da segunda. É na droga que a escritora descobre a felicidade pela primeira vez, uma felicidade «pura», «indescritível», «infinda», «doce», «desconhecida», «extasiante», como tantas vezes é referida, e é ela que a eleva “ao único nível onde queria existir”. Eis o êxtase, a fuga total. Gift, o título que Tove dá à terceira parte da trilogia, tem em dinamarquês o duplo significado de casado e veneno. Neste capítulo a escrita condensa-se, torna-se compulsiva, agoniza. “E se eu lhe contasse a verdade? Se lhe contasse que estava na realidade apaixonada por uma seringa com um líquido translúcido e não pelo homem que tinha acesso à referida seringa? No entanto não lho disse. Nunca o confessei a ninguém.” Em 1973, três anos antes da sua morte autoinfligida, na peça que intitulou O meu obituário, Ditlevsen escreveu: “Antes da sua morte prematura, Tove Ditlevsen conseguiu escrever mais de uma dezena de livros, dos quais os mais importantes são as suas memórias. Com implacável honestidade, escreveu sobre os homens com quem, pela bondade do seu coração pródigo, partilhou mesa e cama. Infelizmente os seus contemporâneos não apreciaram a sua honestidade, o que acabou por levar a que nenhum homem se atrevesse a conversar com ela na rua por medo de aparecer no seu próximo volume.” No ano seguinte, começou a escrever também sobre o seu desejo de morte: “Nós, que temos frequentemente mais medo da vida do que da morte, temos como que mais uma dimensão, um sentido de liberdade ao pensar que podemos retirar-nos a qualquer momento com um pedido de desculpas cortês, como quando se deixa uma empresa prematuramente.”
Aprendi (muito inesperadamente, pois não é no cinema que se aprende a viver?) duas coisas nestes livros: que todos, sem exceção, queremos alguma coisa dos outros. E que a escrita implica uma certa falta de empatia, um alheamento. Não se pode ser direto sem ser severo? De onde vem esta beleza?
Este artigo faz parte do Inventário, uma rubrica do Shifter que recupera histórias, pontos de vista e personagens do passado, que nos ajudam a desvendar e compreender o presente.
- “Provavelmente não era necessário casar com ele para subir na vida, mas nunca ninguém me tinha dito que uma rapariga podia fazer algo por si própria, por si mesma.” Tradução minha. Consultado a 17 de junho de 2025: https://www.theparisreview.org/blog/2025/02/07/the-image-of-the-doll-tove-ditlevsens-worn-out-language/
↩︎ - (Trilogia, p. 26) ↩︎
- “Depois de ter escapado a um casamento longo e infeliz, sinto-me só neste mundo onde toda a gente está unida. Tenho 52 anos, 172 centímetros de altura, sou esbelta e loira. Tenho um apartamento de oito assoalhadas em Copenhaga e uma linda casa de verão. Não me falta dinheiro, apenas amor. Fiz nome na literatura, mas de que serve isso quando me falta um companheiro leal e carinhoso de uma idade adequada, de preferência um automobilista. Interesses: literatura, teatro, pessoas e felicidade doméstica. Por favor, forneça uma fotografia e pormenores sobre a sua situação pessoal.” Tradução minha. Consultado a 17 de junho de 2025: https://www.theparisreview.org/blog/2025/02/07/the-image-of-the-doll-tove-ditlevsens-worn-out-language/
↩︎ - As obras de Tove Ditlevsen até aqui traduzidas em português foram publicadas pela Dom Quixote, respetivamente em 2022 e 2024. A tradução do dinamarquês é de João Reis.
↩︎ - “Tinhas o sonho de menina de um marido e um bebé, / e conseguiste o que querias mas continuaste sozinha.” Tradução minha.
↩︎