De forma ainda mais imprevisível do que o lançamento do ChatGPT, uma publicação nas redes sociais da OpenAI, na passada sexta feira, anunciava uma ‘transição de liderança’. Explicada no site, a ‘transição’ revelava-se um eufemismo para a demissão de Sam Altman, o CEO e uma das vozes mais destacadas da tão citada ‘revolução da Inteligência Artificial’. Num comunicado vago, escrito em burocratês, a decisão era apresentada como uma deliberação do conselho de administração e fruto da consideração de que Altman não teria sido “ser sempre sincero nas suas comunicações com o Conselho de Administração”. Uma justificação que apanhou de surpresa tudo e todos, e que, acrescentando muito pouco de substancial deixava todo o campo de possibilidades em aberto para se especular. As dúvidas ainda hoje persistem – passaram 7 dias –, tal como a indefinição sobre o futuro da OpenAI e da sua badalada promessa.
Depois de consumada a saída, as notícias deram conta de avanços e recuos em relação à própria OpenAI, de uma aproximação à Microsoft e, por fim, de um regresso à casa de partida com uma recomposição do conselho de administração. Mas mais interessante do que ver esta história pelo prisma do seu progresso pessoal é ver como esta reflecte as grandes narrativas que dominam a área da IA. Afinal de contas, Sam Altman e a OpenAI representavam – até aqui de forma indistinguível – uma das facções mais entusiastas da tal revolução, não só repetindo frequentemente as profecias do possível desenvolvimento de uma Inteligência Artificial Geral, como dando a cara por produtos estrela (ChatGPT), fechando acordos bilionários (Microsoft) e marcando encontro com as mais altas figuras de estado – só em maio de 2023, Altman reuniu-se com 22 chefes de estado ou semelhante.
De onde veio Sam Altman?
Não é conhecido há tanto tempo quanto Mark Zuckerberg, não tem uma presença nas redes sociais tão irritante quanto Elon Musk, nem uma fortuna tão conhecida como a de Jeff Bezos. Sam Altman tem 38 anos e, apesar de só agora estar no centro das atenções, a sua carreira em Sillicon Valley já leva quase 20 anos com mais ligações ao nosso quotidiano do que vislumbramos de imediato. Fã assumido de Steve Jobs, tal como o seu ídolo, Altman é um dropout — abandonou o curso de ciências da computação em Stanford numa fase muito prematura, quando tinha 19 anos. E foi no mesmo ano que fundou a sua primeira start-up com algum sucesso, a Loopt.
Altman desenvolveu a Loopt, uma rede social baseada em geolocalização, com o namorado, Nick Sivo, que conhecera na faculdade, e foi com esta empresa que entrou para um dos primeiros programas de incubação e aceleração da YCombinator. Como CEO conseguiu mais de 30 milhões de dólares de investimento mas nunca conseguiu uma base de utilizadores regular. E apesar da dedicação – diz-se que chegou a contrair escorbuto por falta de apanhar luz solar de tanto de trabalhar – a Loopt acabou por ser vendida em 2012. Depois do fim do sonho da Loopt, também a relação de sonho que mantinha com Sivo terminou. Nessa altura, Altman decidiu fazer um ano sabático para processar as perdas. Terá passado entre o mundo dos videojogos e literatura, viagens e um retiro espiritual. E pelo caminho fundar a Hydrazine Capital, uma ‘pequena’ empresa de Capital de Risco que teve como um dos primeiros investidores o famigerado Peter Thiel. À moda do clichê startupiano, a falha dificilmente podia ser prenúncio de algo melhor.
A experiência de Altman na Loopt valeu-lhe tal reputação que em 2014 foi convidado por Paul Graham para assumir a presidência da YCombinator (YC). E se ao leitor mais desatento ao mundo das startups este nome pode não querer dizer muito, pelo programa de aceleração da YC passaram empresas com Dropbox, Reddit, Airbnb ou Stripe – umas antes da chegada de Altman à presidência, outras depois, mas todas elas com a sua influência em dado momento do percurso. Altman é mencionado como um dos investidores iniciais da plataforma Airbnb – mantendo o fundador, Brian Chesky, como um dos seus conselheiros mais próximos ainda aos dias de hoje – bem como Reddit, de que chegou a ser CEO durante oito dias, para mencionar apenas dois exemplos.
A chegada à presidência da YC e a fundação da OpenAI não distam muito no tempo. Próximo dos grandes círculos de poder, Altman juntou-se a Elon Musk, Ilya Sutskever – um reconhecidissimo engenheiro na área da I.A. –, Greg Brockman, John Schulman, e Wojciech Zaremba para criar uma empresa sem fins lucrativos que pudesse desenvolver “um computador que pudesse pensar como um humano em todos os sentidos e usá-lo para máximo benefício da humanidade”, com financiamento de centenas de milhões de dólares de bilionários das tech; a ideia, meio messiânica, era a de que sendo possível desenvolver uma Inteligência Artificial Geral, mais esperta de que um humano, a OpenAI serviria de força para que estas capacidades fossem postas ao serviço da humanidade. O que neste caso parece cada vez mais que significaria sobretudo alinhada com os valores dominantes nas suas bolhas.
Durante alguns anos, Altman dividiu o seu tempo entre a presidência da YC e a construção da OpenAI. E foi mais ou menos nessa altura que começou a demonstrar de forma cada vez mais pública as suas grandes visões políticas. Em 2017, criou a iniciativa The United Slate e procurou durante algum tempo um candidato que pudesse dar a cara pelas suas ideias em eleições na Califórnia. Politicamente, Altman define-se como progressista, e grande parte das suas propostas será provavelmente consensual – redução do preço da habitação, criação de um sistema de saúde para todos, transição para 90% de energia limpa até 2050, diminuição do fosso de salário entre CEOs e trabalhadores… É a forma como crê que estas metas podem ser atingidas que se torna particularmente reveladora da sua forma de ver o mundo. Não só, como é óbvio, Altman vê na tecnologia a solução para muitos dos males do mundo, como vê no sistema capitalista o único modelo de desenvolvimento capaz de desbloquear todo o seu potencial.
Voltando à OpenAI, apesar da crença de Altman, em 2018 Musk começou a perder a paciência e a esperança na capacidade da OpenAI de liderar o desenvolvimento de IA e propôs-se a assumir a liderança da empresa. Os co-fundadores rejeitaram a ideia e Musk acabou por abandonar a empresa e levar consigo os seus milhões indispensáveis às operações. Diz-se que prometera continuar a financiar as operações cumprindo os acordos pré-estabelecidos, mas as transferências terão parado imediatamente depois da sua saída, deixando a OpenAI em más condições financeiras, sem forma de pagar os avultados custos inerentes ao desenvolvimento e treino de modelos de IA. Foi então que a non-profit criou a sua subsidiária com fins lucrativos. Sobre a estrutura da empresa teremos oportunidade de falar mais à frente. Mas no que toca ao retrato pessoal de Altman, na fotografia ficou o facto de abdicar de qualquer parte da empresa – um sinal ambíguo para os investidores que tanto viam nisso uma atitude altruísta como um sinal de uma falta de compromisso.
Mas se algum dia faltou compromisso, crença nunca faltou. Apesar dos voltefaces, a confiança na OpenAI permanecia em crescendo, acompanhada pela fé no desenvolvimento de IA revolucionária e do potencial de revolucionar por completo a humanidade, de resolver a maioria dos problemas com que nos enfrentamos. Algo bem expresso no seu ensaio Moore’s Law for Everything: “Um grande futuro não é complicado: precisamos de tecnologia para criar mais riqueza e de políticas para a distribuir de forma justa. Tudo o que é necessário será barato e toda a gente terá dinheiro suficiente para o poder comprar. Como este sistema será extremamente popular, os decisores políticos que o adoptarem cedo serão recompensados: eles próprios se tornarão extremamente populares.” e no seu portfólio de investimentos.
Em 2021 investiu numa empresa de investigação em energia nuclear de fusão, apostando 375 milhões de dólares nesta solução tecnológica para o problema dos crescentes custos de energia subjacentes ao desenvolvimento tecnológico. E cerca de 180 milhões noutra de rejuvenescimento, que promete dar mais 10 anos de vida — Altman diz que investiu toda a sua liquidez nestas duas empresas. E já antes havia fundado a Worldcoin. A empresa de criptomoedas que, em troca da digitalização a íris de cada olho (sim, a que está nas estações de comboio em Lisboa), promete criar uma carteira de criptomoedas associada que no futuro poderá servir de mecanismo de redistribuição de capital e um sistema de autenticação. E que parece saída de um episódio de Black Mirror.
Entre a crença na Inteligência Artificial Geral, a preocupação do seu potencial apocalíptico, a cultura de desenvolver tecnologia para tentar suprir todos os problemas do sistema vigente e poder continuar a expandi-lo (Capitalism for Everyone) e a sua obsessão pela morte e por um potencial apocalipse – para o qual diz estar preparado há muito com “armas, ouro, iodeto de potássio, antibióticos, baterias, água, máscaras de gás da Israel Defense Force, e um grande terreno em Big Sur para onde pode voar” – é aqui que se encontra o Altman de 2022, ano de lançamento do ChatGPT em que finalmente chegaria aos headlines na europa. Sendo que ao perfil público e profissional, se soma ainda uma misteriosa relação com a familiar que chegou a ser apontada como uma das razões da demissão. Um entre 4 irmãos, Sam apenas mantém relação próxima com os outros dois rapazes, sendo acusado pela sua irmã, Annie – mais nova nove anos – de ter comportamentos abusivos quando ambos eram menores, que acusa também toda a família de ter ficado com a parte de uma herança que lhe seria devida pela morte do seu pai.
Entre o lucro e a humanidade
Com a entrada de rompante do ChatGPT, a OpenAI nunca teve a devida atenção. Apesar de no Shifter, por exemplo, a primeira menção à empresa ter sido em 2019 – na altura em que a OpenAI dizia que o GPT2 era uma ferramenta demasiado perigosa para ser lançada publicamente – e a segunda aquando do lançamento do DALL-E, as particularidades da empresa ficaram sempre fora da equação. Criada como uma organização sem fins lucrativos e sob a vaga promessa de liderar o desenvolvimento de uma Inteligência Artificial benéfica para a humanidade, a história da empresa para além da fachada das promessas ajuda a contextualizar os recentes acontecimentos e a especular sobre as suas consequências.
Numa reportagem de 2020, a Technology Review fazia um retrato dentro de portas da empresa apontando as suas particularidades. Com acesso privilegiado ao ambiente mais íntimo onde tudo acontece, o jornalista descobriu primeiro um grupo de pessoas extremamente entusiasmado, onde dominava uma cultura geek, com tendência para o “altruísmo efectivo”, a obsessão por se acharem mais racionais do que os outros, e piadas recheadas de jargão técnico como “Qual é a função da tua vida?” ou “Para que te estás a optimizar?”. Mas também pôde observar como tudo mudou quando os propósitos da subsidária com fins lucrativos entraram em vigor. Logo no ano da mudança, a OpenAI conseguiu um grande acordo com a Microsoft avaliado em mil milhões de dólares, e a pressão para vender começou a fazer-se sentir.
Em suma, desde então, existiam duas grandes correntes dentro da OpenAI representadas no conselho de Administração que se dividiam, essencialmente, entre o desenvolvimento de modelos e produtos com IA e o departamento de pesquisa e investigação sobre a segurança e fiabilidade destes modelos. Entre a missão da subsidiária com fins lucrativos ou a missão original da fundação. Sam Altman (CEO) e Greg Brockman (Chair e Presidente), que ao longo do tempo se tornou na sua sombra dada a grande proximidade e a confessa admiração, faziam parte da primeira. Preocupados com o sucesso comercial da empresa em desbloquear milhões que permitam o seu crescimento e em garantir que os ventos da regulação sopram a seu favor. Enquanto Ilya Sutskever (o principal engenheiro da equipa), Helen Toner e Tasha McCauley compunham essencialmente a segunda. E terá sido desta cisão que nasceu a derradeira brecha.
Apesar de, no papel, a empresa sem fins lucrativos ter o poder de decisão final sobre a subsidiária com fins lucrativos, na prática a relação entre estas duas organizações é muito mais intrincada e complexa, nomeadamente, dados os custos altíssimos que estão associados à pesquisa na área da Inteligência Artificial que obrigam a um financiamento constante, e acabam por inverter a ordem de dependência e revelar a natureza mais concreta da organização. A título de exemplo, a habitual descrição da empresa com fins lucrativos com recurso ao termo legal de ‘lucros limitados’ omite que o limite destes lucros é 100x o investimento inicial, o que na prática é um valor bastante alto para o grau de maturação da empresa. Mas as questões complexas não se ficam por aqui.
Logo depois da conversão para o modelo de negócio, como referido, a OpenAI celebrou um acordo de longa data com a Microsoft. Em troco de acesso praticamente irrestrito às criações da OpenAI, a Microsoft ofereceu inicialmente mil milhões de dólares – num valor que se estima já vá perto dos 10 mil milhões – que a colocaram não só como principal cliente da empresa, mas também como uma das principais financiadoras de toda a operação. Na teoria, a OpenAI permanecia uma empresa completamente separada da Microsoft, mas na prática parecia cada vez mais uma subsidiária desta dedicada ao desenvolvimento de Inteligência Artificial, com Sam Altman e Greg Brockman como os grandes pivôs de intermediação. Algo que se tornou ainda mais evidente depois da demissão original de Altman.
Segundo é possível aferir, na razão da demissão de Altman estará um trabalho de pesquisa levado a cabo por Helen Toner, que terá desagradado Altman. No artigo, Toner é crítica do modelo de desenvolvimento da OpenAI, enquanto elogia uma das suas maiores rivais, a Anthropic, o que terá agravado a ferida no seio do conselho de administração e provocado uma querela entre as duas facções, e provocado um conflito insanável entre as partes. Toner, McCauley, Sustkever, e D’Angelo terão chegado a acordo quanto à necessidade de afastar Altman, por acharem que este estava a ignorar a investigação pensando apenas no lucro, mas se por momentos pareciam no controlo da situação, rapidamente o cenário se inverteu. Revelando de que lado está o poder.
Poucas horas depois da demissão de Altman, as acções da Microsoft caíam de forma abrupta, quando Satya Natella fez o primeiro comentário público. Sem adiantar muito, dizia o essencial: que a mudança de liderança não seria um travão para a Microsoft continuar o seu desenvolvimento de IA com base na tecnologia da OpenAI, uma vez que tinha acesso a todas as licenças de que necessitava para prosseguir. Este comunicado dava a entender o ascendente que a velha tecnológica tem sobre os novos miúdos do recreio, mas não se ficaria por aí. Enquanto a sucessão da OpenAI permanecia em disputa – primeiro foi nomeada uma das responsáveis da área tecnológica como CEO interina, Mira Murati, e depois foi nomeado uma das caras do altruísmo efectivo na empresa, Emmet Shear (con-fundador do Twitch, bem conhecido por takes altamente problemáticos na rede social X), – a Microsoft acolhia de braços abertos Sam e Greg, encarregando-os da divisão de IA.
O caso parecia estar a encerrar-se, com o futuro da OpenAI cada vez mais mal parado, quando de repente uma espécie de motim brotou na empresa, opondo o conselho de administração aos seus trabalhadores. Mais de 700 dos 770 trabalhadores da OpenAI assinavam uma carta exigindo a readmissão de Altman, ameaçando deixar a empresa em direção à Microsoft caso isso não acontecesse – incluindo Ilya Sutskever que agora se dizia arrependido. E assim foi. Numa decisão que surpreendeu tudo e todos, Altman e Brockman voltaram aos lugares cimeiros da empresa, excluindo do conselho de administração todos aqueles que tinham votado pela sua demissão, à excepção de Adam D’Angelo (o fundador do Quora e um dos empreendedores mais elogiados na bolha de Sillicon Valley). A demissão de Altman que parecia um intento da OpenAI de voltar à sua missão original, dando mais enfâse à pesquisa sobre riscos da I.A. acabou por ser completamente revertida. Assim como a tendência das acções da Microsoft, uma das partes mais interessadas no meio disto tudo.
Para onde vai a OpenAI
Feitas as reuniões e as contas, Sam Altman e Greg Brockman estão de volta à OpenAI. Altman voltará ao seu lugar no conselho de administração onde, como referido, só sobrou D’Angelo. À parte disso, foram anunciados novos nomes que ajudarão a completar a composição e que não deixam muitas dúvidas do sentido que a empresa deverá tomar nos próximos tempos. O cenário é de tal maneira claro que até o insuspeito de qualquer afinidade por críticas ao capitalismo, New York Times, titula uma das últimas notícias sobre esta novela com o peremptório “a OpenAI agora é dos capitalistas”. A juntar a D’Angelo surgem, para já, dois nomes especialmente sonantes. Lawrence Summers, antigo secretário do Tesouro norte-americano – famoso por afirmar que a área das ciências e das tecnologias não é para mulheres –, e Bret Taylor executivo com passagens pelo Facebook e pela Salesforce. Sendo expectável que mais se juntem no futuro, e que o papel da Microsoft possa ser recompensado com um assento na cúpula do poder. Para já, no novo conselho de administração da empresa a pluralidade é ainda uma miragem.
Sem grande acesso ao que se passa dentro da empresa – sendo um conselho de administração de uma empresa sem fins lucrativos, as obrigações de reporte acabam por ser menores do que se a empresa fosse cotada em bolsa – não é fácil aferir com certeza as fundações dos medos representados/apresentados por Toner e os demais. Nem os argumentos de Altman para os rejeitar. Por outro lado percebemos como numa das empresas mais valiosas do mundo, responsável por um dos produtos tecnológicos que mais entusiasmo provocou, estão em disputa mais do que certezas, crenças, sobe um modelo de desenvolvimento e os seus potenciais riscos. Se é certo que Altman representa a atitude pro-business, talvez até demais – como vimos – a facção que se dedica à investigação de riscos – por influencia do TESCREALismo de que te falamos na revista Shifter – também assume muitas vezes contornos quase fantasiosos. Como escreve Herry Farrell, professor na John Hopkins, no meio desta confusão emergem semelhanças entre a empresa e uma religião, onde as crenças se misturam com as motivações materiais, e num ambiente aparentemente objectivo e racional, o que há de mais subjectivo e pessoal vem à tona.
Se a OpenAI começou como entidade puramente não-comercial, e até a transição para os lucros parecia ponderada, toda esta confusão acaba por ser um ingrediente secreto para a manutenção de uma certa reputação e acabou por funcionar como mais um reajuste da empresa. Numa altura em que a pesquisa de fundo, nomeadamente da Google, vinha apontando limitações às tecnologias – como neste artigo onde apontam limitações aos algoritmos em uso – assumidas pelo próprio Sam Altman que recentemente disse que seriam precisos mais ‘inovações tecnológicas’ (e mais 80 mil milhões) para continuarem a perseguir a prometida AGI, nada melhor do que uma confusão com contornos difusos mas por nos pôr a pensar no poder apocalíptico do que têm em mãos. Como na cena inicial do Pulp Fiction, resta-nos continuar a especular, com base no reflexo, sobre o que poderá conter esta misteriosa mala.
Coincidentemente, ou não, assim que começou a assentar a poeira sobre as demissões e readmissões, de imediato surgiu mais um mistério para nos entreter. Com o nome Q* e com uma alegada capacidade de resolver questões matemáticas — e ainda longe de qualquer olhar independente, quanto mais de uma análise rigorosa —, já valeu à OpenAI mais uma volta ao mundo em headlines. Sam Altman diz que estava na sala “quando puxaram o véu da ignorância” que lhes permitiu ver mais à frente; resta saber se, tal como é comum no ChatGPT, não estariam a “alucinar”.
Certo é que o futuro da OpenAI passará provavelmente para uma atitude mais pró-comercial do que anteriormente, e se, por um lado, como dissemos, a conversa sobre os riscos existenciais pode ser uma distracção fútil, os perigos da popularização da Inteligência Artificial num ambiente deserto de regulação são bem reais. Tal como a potencial influência de Sam Altman neste domínio, que só em Maio de 2023 se reuniu com Rishi Sunak, Emmanuel Macron, Pedro Sánchez, Olaf Scholz, e a líder da comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, num esforço reportado pela revista TIME como tendo como objectivo influenciar a regulação.