O presente e o futuro do Twitter de Donald Trump

O presente e o futuro do Twitter de Donald Trump

13 Novembro, 2020 /
Imagem via Shifter

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Trump poderá continuar a tweetar na conta @realDonaldTrump durante a Administração de Biden mas terá de ter mais cuidado.

Tudo indica que Donald Trump deverá mesmo deixar a Casa Branca para o sucessor Joe Biden, o novo Presidente eleito dos Estados Unidos – a confirmar-se o resultado provisório até agora conhecido. Com esta transição, dar-se-à também uma nova passagem de testemunho digital: as contas oficiais do anterior Presidente deverão ser arquivadas e Biden terá umas novas.

No caso do Twitter, falamos das contas @POTUS (a conta do Presidente), @FLOTUS (a da Primeira-Dama), @VP (a do Vice-Presidente), @WhiteHouse (a da Casa Branca), entre outras. Segundo o protocolo, a Administração de Biden herdará estas contas, e o conteúdo referente ao executivo Trump será arquivado na conta @POTUS45 (porque ele é o 45º Presidente dos EUA), tal como todos os tweets de Obama podem ser encontrados em @POTUS44 e os tweets de Joe Biden enquanto vice-presidente de Obama estão disponíveis (segundo a mesma lógica de arquivo) em @VP44.

Todavia, ao contrário de Obama, Trump pouco utilizou a suas contas oficiais. Ao longo do seu mandato, que terminará em Janeiro de 2021, Trump foi (e continua a ser) polémico no Twitter mas através da sua conta pessoal, que deverá manter – @realDonaldTrump. Através dos perfis oficiais, @POTUS e @WhiteHouse, a Administração de Trump foi partilhando alguns dos tweets escritos pelo Presidente com a sua conta pessoal.

Para Trump, o Twitter tornou-se um canal preferencial de comunicação – onde podia dizer o que quisesse sem o filtro editorial dos órgãos de comunicação social, que Trump foi sempre considerando como agentes controladores de narrativas e propagadores de falsidades. Trump aproveitou todos os pontos fracos do Twitter e das redes sociais em geral para crescer em número de seguidores e para impor a sua versão da realidade. Espalhou desinformação, lançou ameaças, partilhou mentiras.

Em Maio deste ano, o próprio Twitter decidiu colocar um travão a Trump. Depois de um primeiro tweet escondido pela plataforma por conter informação falsa, seguiu-se outro, e outro, e mais outro… A empresa que gere a rede social nunca removeu os tweets porque isso poderia abrir um precedente difícil de resolver, contudo escondeu-os e sinalizou-os. Como escrevemos na altura, empresas como o Facebook, o Twitter ou a Google beneficiam de uma excepção – através da Secção 230 da Lei da Decência nas Comunicações, de 1996 –, que lhes permite não serem responsabilizadas civil e judicialmente pelos conteúdos partilhados pelos internautas nas suas plataformas. É por essa excepção que as redes sociais, em particular o Facebook, tentam ao máximo posicionar-se enquanto plataformas de tecnologia e não enquanto plataformas de media.

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Trump chegou mesmo a ameaçar reavaliar este regime de excepção, o que dificultaria e muito a operação do Twitter e outras plataformas. Contudo, nada mudou até hoje. O Twitter continuou a analisar e a categorizar os tweets de Trump e nos últimos dias, devido à narrativa que Trump está a construir em torno de suspeitas infundadas de fraude eleitoral, é raro encontrar uma publicação feita pelo Presidente norte-americano sem um aviso.

Captura de ecrã do Twitter de Donald Trump (por Shifter)
Captura de ecrã do Twitter de Donald Trump (por Shifter)

Alguns desses avisos lembram os utilizadores do Twitter de que não existem evidências de fraude eleitoral, que determinado tweet foi partilhado quando ainda não existiam resultados eleitorais oficiais ou porque é que o voto por correspondência é um método seguro de voto. Clicando nesses avisos, os internautas são levados para páginas com informação factual de órgãos de comunicação social e do próprio Twitter, de forma a que possam fazer o seu próprio juízo do assunto. Existem ainda tweets de Trump que surgem escondidos, sendo mostrada, no seu lugar, a seguinte mensagem: “Alguns ou todos os conteúdos compartilhados neste Tweet são contestáveis e podem ter informações incorretas sobre como participar de uma eleição ou de outro processo cívico”.

Captura de ecrã da página do Twitter sobre a alegada fraude eleitoral reclamada por Trump (por Shifter)
Captura de ecrã do Twitter de Donald Trump (por Shifter)

O Twitter não está, com esta categorização, a limitar a liberdade de expressão do ainda Presidente dos Estados Unidos, nem a regular o seu conteúdo. A plataforma limita-se a assinalar tweets perigosos por conterem desinformação ou a adicionar hiperligações para páginas onde os utilizadores podem obter informação contextual e factual – mas cabe aos utilizadores fazerem uso da sua razão e posicionarem-se perante os tweets de Trump e os dados fornecidos pelo Twitter. Por esta perspectiva, a empresa que gere a rede social procura manter-se salvaguardada de qualquer conflito com a excepção que a ‘Secção 230’ lhe confere.

Em Janeiro, segundo avançou fonte do Twitter ao The Verge, a conta @realDonaldTrump perderá o estatuto de interesse público que o Twitter confere a líderes mundiais e outros oficiais de governos, permitindo-lhes beneficiar de políticas especiais. É por causa desse estatuto de excepção que Trump pode dizer o que quiser no Twitter sem que essas publicações sejam removidas, como aconteceria se se tratasse de uma conta comum – em vez disso, o Twitter mantém o tweet, assinalando-o, no entanto, porque considera existir nele um interesse público. Por outras palavras, Trump poderá continuar a tweetar na conta @realDonaldTrump durante a Administração de Biden mas terá de ter mais cuidado, arriscando-se a que a sua conta possa ser suspensa ou bloqueada.

Autor:
13 Novembro, 2020

Jornalista no Shifter. Escreve sobre a transição das cidades e a digitalização da sociedade. Co-fundador do projecto. Twitter: @mruiandre

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