Tudo indica que Donald Trump deverá mesmo deixar a Casa Branca para o sucessor Joe Biden, o novo Presidente eleito dos Estados Unidos – a confirmar-se o resultado provisório até agora conhecido. Com esta transição, dar-se-à também uma nova passagem de testemunho digital: as contas oficiais do anterior Presidente deverão ser arquivadas e Biden terá umas novas.
No caso do Twitter, falamos das contas @POTUS (a conta do Presidente), @FLOTUS (a da Primeira-Dama), @VP (a do Vice-Presidente), @WhiteHouse (a da Casa Branca), entre outras. Segundo o protocolo, a Administração de Biden herdará estas contas, e o conteúdo referente ao executivo Trump será arquivado na conta @POTUS45 (porque ele é o 45º Presidente dos EUA), tal como todos os tweets de Obama podem ser encontrados em @POTUS44 e os tweets de Joe Biden enquanto vice-presidente de Obama estão disponíveis (segundo a mesma lógica de arquivo) em @VP44.
Todavia, ao contrário de Obama, Trump pouco utilizou a suas contas oficiais. Ao longo do seu mandato, que terminará em Janeiro de 2021, Trump foi (e continua a ser) polémico no Twitter mas através da sua conta pessoal, que deverá manter – @realDonaldTrump. Através dos perfis oficiais, @POTUS e @WhiteHouse, a Administração de Trump foi partilhando alguns dos tweets escritos pelo Presidente com a sua conta pessoal.
Para Trump, o Twitter tornou-se um canal preferencial de comunicação – onde podia dizer o que quisesse sem o filtro editorial dos órgãos de comunicação social, que Trump foi sempre considerando como agentes controladores de narrativas e propagadores de falsidades. Trump aproveitou todos os pontos fracos do Twitter e das redes sociais em geral para crescer em número de seguidores e para impor a sua versão da realidade. Espalhou desinformação, lançou ameaças, partilhou mentiras.
Em Maio deste ano, o próprio Twitter decidiu colocar um travão a Trump. Depois de um primeiro tweet escondido pela plataforma por conter informação falsa, seguiu-se outro, e outro, e mais outro… A empresa que gere a rede social nunca removeu os tweets porque isso poderia abrir um precedente difícil de resolver, contudo escondeu-os e sinalizou-os. Como escrevemos na altura, empresas como o Facebook, o Twitter ou a Google beneficiam de uma excepção – através da Secção 230 da Lei da Decência nas Comunicações, de 1996 –, que lhes permite não serem responsabilizadas civil e judicialmente pelos conteúdos partilhados pelos internautas nas suas plataformas. É por essa excepção que as redes sociais, em particular o Facebook, tentam ao máximo posicionar-se enquanto plataformas de tecnologia e não enquanto plataformas de media.
Twitter adiciona botão de fact-check a tweets de Trump. Presidente ameaça fechar redes sociais
Trump chegou mesmo a ameaçar reavaliar este regime de excepção, o que dificultaria e muito a operação do Twitter e outras plataformas. Contudo, nada mudou até hoje. O Twitter continuou a analisar e a categorizar os tweets de Trump e nos últimos dias, devido à narrativa que Trump está a construir em torno de suspeitas infundadas de fraude eleitoral, é raro encontrar uma publicação feita pelo Presidente norte-americano sem um aviso.
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Alguns desses avisos lembram os utilizadores do Twitter de que não existem evidências de fraude eleitoral, que determinado tweet foi partilhado quando ainda não existiam resultados eleitorais oficiais ou porque é que o voto por correspondência é um método seguro de voto. Clicando nesses avisos, os internautas são levados para páginas com informação factual de órgãos de comunicação social e do próprio Twitter, de forma a que possam fazer o seu próprio juízo do assunto. Existem ainda tweets de Trump que surgem escondidos, sendo mostrada, no seu lugar, a seguinte mensagem: “Alguns ou todos os conteúdos compartilhados neste Tweet são contestáveis e podem ter informações incorretas sobre como participar de uma eleição ou de outro processo cívico”.
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O Twitter não está, com esta categorização, a limitar a liberdade de expressão do ainda Presidente dos Estados Unidos, nem a regular o seu conteúdo. A plataforma limita-se a assinalar tweets perigosos por conterem desinformação ou a adicionar hiperligações para páginas onde os utilizadores podem obter informação contextual e factual – mas cabe aos utilizadores fazerem uso da sua razão e posicionarem-se perante os tweets de Trump e os dados fornecidos pelo Twitter. Por esta perspectiva, a empresa que gere a rede social procura manter-se salvaguardada de qualquer conflito com a excepção que a ‘Secção 230’ lhe confere.
Em Janeiro, segundo avançou fonte do Twitter ao The Verge, a conta @realDonaldTrump perderá o estatuto de interesse público que o Twitter confere a líderes mundiais e outros oficiais de governos, permitindo-lhes beneficiar de políticas especiais. É por causa desse estatuto de excepção que Trump pode dizer o que quiser no Twitter sem que essas publicações sejam removidas, como aconteceria se se tratasse de uma conta comum – em vez disso, o Twitter mantém o tweet, assinalando-o, no entanto, porque considera existir nele um interesse público. Por outras palavras, Trump poderá continuar a tweetar na conta @realDonaldTrump durante a Administração de Biden mas terá de ter mais cuidado, arriscando-se a que a sua conta possa ser suspensa ou bloqueada.
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