“Motoristas da Uber vão poder escolher preço das viagens. Podem cobrar até o dobro do normal” foi assim que na semana passada no jornal ECO surgiu uma das primeiras notícias sobre a nova ideia da Uber. A aplicação permite agora que cada condutor defina a tarifa aplicada a cada viagem, entre 0,7 e 2x. Se por um lado para os passageiros esta pode ser uma boa notícia, para os condutores o caso não é bem assim. Quem o partilhou foi desde logo um condutor da plataforma que ao Shifter pediu o seu anonimato.
A possibilidade de definição da tarifa na Uber é uma medida paradigmática da forma como a empresa trabalha e de como a pressão sob os seus trabalhadores é um dos seus motores. Mais do que permitir simplesmente que algumas viagens sejam pontualmente mais baratas, ou ocasionalmente mais caras, o que a Uber está a fazer com esta medida é pôr os motoristas a competir por uma estratégia de preço baixo que, em última instância, se reflectirá no seu preço.
A medida que tinha sido apresentada na Califórnia em Junho deste ano foi, como sempre na Uber, apresentada como uma forma de dar mais independência aos condutores mas o seu resultado prático pode ser mais perverso do que o press release prevê. É simples de perceber porquê: na Uber trabalham centenas de trabalhadores independentes, alguns dos quais através de sub-contratação de outras empresas, sem uma integração em plataforma que lhes permita ter uma voz una perante o seu empregador, Uber. Assim, ao colocar nas mãos dos condutores a possibilidade de alterar o preço da plataforma, a Uber arrisca-se a colocar os seus colaboradores numa luta desenfreada pelo maior número de passageiros provocando uma descida do preço à custa da baixa da tarifa.
Num testemunho rápido ao Shifter, um motorista revela que já existem grupos de conversação em que os condutores da Uber procuram definir uma estratégia consertada de adopção da nova medida – por exemplo, definindo todos uma mesma tarifa – contudo, remanesce a preocupação de que alguém possa aproveitar para baixar a tarifa do nível estabelecido fazendo assim uma espécie de concorrência desleal. De facto, e olhando à regulação, esta medida não parece ilegal, contudo, lembra-nos a tendência expressa pela Uber de não tratar os seus colaboradores como trabalhadores assalariados e com direitos, valendo-se do estereótipo do condutor de Uber que o faz como complemento.
Em termo concretos, é expectável que em resposta a um pedido de carro a aplicação vá solicitar o condutor que tenha sempre o preço mais baixo, cultivando uma imagem de baixo preço da plataforma, e assim, condutores que tenham uma tarifa mais elevada do que o praticado naquele local serão aconselhados a baixar a sua tarifa ou a assumir o preço automático.
A Uber já perdeu 23 mil milhões de dólares… Então e o “sucesso”?