Fogo em Lesbos desaloja milhares de refugiados e cria “crise humanitária sem precedentes”

Fogo em Lesbos desaloja milhares de refugiados e cria “crise humanitária sem precedentes”

10 Setembro, 2020 /
Foto de @th_voulgarakis via Twitter

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Ainda sem ajuda, os migrantes foram retirados do campo de Moria, em Lesbos, depois do fogo com várias frentes ter deflagrado. Agora, vivem na rua, em estacionamentos e em parques de supermercados. União Europeia já mostrou solidariedade com os refugiados.

Foi na madrugada de terça-feira que deflagrou o primeiro incêndio no campo de refugiados de Moria, na ilha de Lesbos, na Grécia. O fogo levou a que, nos dias seguintes, milhares de pessoas tivessem de fugir do maior campo da Europa, que abrigava cerca de 13 mil pessoas, mais de quatro vezes a sua lotação máxima. Para já, sem ajuda, vivem na rua.

O Governo grego acredita que os incêndios terão surgido de forma intencional dentro do campo, depois de as autoridades de saúde diagnosticarem 35 casos positivos de Covid-19. “O medo dos ilhéus de que o vírus se pudesse espalhar foi exacerbado quando as autoridades admitiram que, no final da tarde de quarta-feira, haviam conseguido localizar apenas oito deles”, explica o The Guardian. O Ministro da Migração da Grécia, Notis Mitarachi, disse que “os incidentes em Moria começaram com os requerentes de asilo por causa da quarentena imposta”.

À BBC, Marco Sandrone, coordenador do projeto Médicos Sem Fronteiras (MSF), em Lesbos, disse que a tragédia era “uma bomba-relógio que finalmente explodiu”. Em estado de sobrelotação, os migrantes foram mantidos em “condições desumanas” durante vários anos, acrescenta.

Por outro lado, o Ministro das Migrações suplente, Giorgos Koumoutsakos, já reagiu, alertando que “o centro de receção foi completamente destruído” e “como resultado, milhares de pessoas estão desalojadas”. O político considera um milagre não ter havido mortos ou feridos e apelida a tragédia de “crise humanitária sem precedentes”. O Governo da Grécia já decretou estado de emergência na ilha de Lesbos.

Os bombeiros encontraram dificuldades na contenção do fogo devido a reações mais violentas por parte de alguns migrantes. Segundo o mesmo jornal britânico, ao canal estatal de televisão ERT o chefe do corpo de bombeiros do Egeu do Norte, Konstantinos Theofilopoulos, afirmou que o fogo “deflagrou em várias frentes” e que “encontraram resistência”, nomeadamente com pessoas a atirarem pedras.

A tragédia já percorreu o mundo e ouvem-se ecos de ajuda pelas redes sociais. “Os meus pensamentos vão para todos os que foram colocados em perigo no campo de migrantes de Moria”, começa por dizer o Presidente da Comissão Europeia, Charles Michel, no Twitter. “Solidariedade total com o povo de Lesbos que oferece abrigo, com os migrantes e com os funcionários. Estamos em contacto com as autoridades gregas e prontos para mobilizar apoio”, concluiu.

“Já concordei em financiar a transferência imediata e acomodação no continente das restantes 400 crianças e adolescentes desacompanhados. A segurança e o abrigo de todas as pessoas em Moria são a prioridade”, escreveu, na mesma rede social, a comissária europeia dos Assuntos Internos, Ylva Johansson. A promessa já foi cumprida com três aviões a transportar as 406 crianças da ilha de Lesbos até à Grécia continental.

“A IOM já transferiu 406 crianças desacompanhadas em três voos de Lesbos para o continente grego na sequência dos incêndios de Moria. As crianças estão agora acomodadas com segurança no Norte, graças à ação rápida e coordenação com o Governo grego, Comissão Europeia, ACNUR e UNICEF”, avança a Organização Internacional da Migração (IOM), no Twitter.

Para já, os refugiados permanecem sem ajuda. “As famílias dormiam nas margens das estradas e em estacionamentos e campos de supermercados em toda a ilha, que esteve na vanguarda da crise migratória europeia em 2015-2016”, confirma a agência Reuters.

Considerado o pior campo de refugiados do mundo, a maior parte dos migrantes – cerca de 70% – são de origem afegã. Ainda assim, o local abriga pessoas naturais de mais de 70 países. Numa reportagem da BBC datada de 2019, os psicólogos do campo de Moria alertavam: há crianças “que dizem que querem morrer”.

Autor:
10 Setembro, 2020

Licenciado em Ciências da Comunicação e sempre com a câmara na mochila. Acredito que todos os locais e pessoas têm “aquela” história. Impulsionador da cultura portuguesa a tempo inteiro.

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