Apesar do seu nome artístico já ter chegado a muitos cantos do mundo, Kota The Friend ainda é uma personagem bastante misteriosa visto que nem sequer consegui encontrar o seu nome completo. Kota é um rapper, produtor, músico, fotógrafo e cinematógrafo nativo de Brooklyn, Nova Iorque, e todos estes talentos pessoais são observáveis nos inúmeros vídeos que regularmente lança no seu canal do YouTube. Acima de tudo, Kota apresenta-se como um artista diferente do que estamos habituados e foi nesta diferença que vi o seu potencial inegável.
O seu nome vem do filme Brother Bear, onde uma das personagens se chama Koda. Curiosamente, esta palavra significa “amigo”, portanto, em teoria o seu nome é na verdade “the friend the friend”.
O seu estilo pessoal, que tem vindo a desenvolver desde 2015, é constituído por instrumentais baseados em Jazz com uma percussão minimalista e influências do estilo altamente popular, Lo-Fi. Ao longo de 2017 lançou vários singles e em 2018, o seu primeiro projeto de longa duração, Anything, produzido pelo engenheiro premiado, BLUE. Finalmente, em 2019, Kota lançou o seu primeiro álbum, FOTO, que pecou por ser demasiado comprido. Neste projecto vemos o seu estilo muito característico a ser explorado, mas, ao longo de praticamente 1 hora, acaba por ser tornar algo repetitivo e, nos casos mais extremos, cansativo.
No início de 2020, o artista lançou um curto projeto de 14 minutos para nos preparar sonicamente para o lançamento do seu segundo álbum: EVERYTHING, projeto que constitui o pináculo de tudo o que Kota nos tem apresentado durante a sua carreira de curta duração. Os instrumentais são o ponto focal das músicas, suaves e remetendo para memórias de um passado longínquo, e o rap de Kota é tudo menos intrusivo, apresentando-se sempre como um complemento aos instrumentais, em vez de ser o ponto central. EVERYTHING é um projeto relaxado e pouco pesado, constituindo a banda sonora perfeita para viagens de carro no verão ou para ouvir em momentos em que nos sentimos mais introspectivos.
O conceito do álbum anda em redor de temas como felicidade, apreciação pela vida e a grande pergunta que nos acompanha durante o efémero período em que nos encontramos neste planeta: qual é o sentido da vida? Ao longo dos dois interludes do projeto ouvimos as respostas a esta pergunta de Lupita Nyong’o, estrela principal do filme Us de Jordan Peele, e Lakeith Stanfield, um dos protagonistas da série altamente conceituada de Donald Glover, Atlanta. Kota assenta-se assim como um profeta de positividade e da apreciação da vida, sem nunca se tornar irritante ou foleiro, o que é um equilíbrio bastante difícil de alcançar. Ouvir este álbum é receber um abraço de Kota e, nos tempos que correm, bem que precisamos de sensações calorosas como esta.
Uma curiosidade deste projeto é que foi lançado de uma maneira totalmente independente, o que nos dias de hoje é algo fora do comum e, apesar disso, chegou ao Top 1 do iTunes na categoria de Hip-Hop/Rap, o que me leva à questão: será que é mesmo necessário um artista ser representado por uma editora? Vemos vários artistas (como por exemplo Lil Uzi Vert) a desistirem de fazer música devido à pressão de cumprir contratos e, no final de contas, não é algo estritamente necessário para alcançar sucesso e ganhar fãs.
A maior crítica que encontro para EVERYTHING é o facto de as músicas serem todas bastante semelhantes entre si. Por um lado, isto é bom porque mostra que Kota realmente conseguiu captar o seu estilo pessoal num projeto sólido de 37 minutos. Por outro, isto implica que o álbum não tenha tanto “replay value” como gostaria, ou seja, ao ouvir o álbum 6, 7 vezes, é como se o ouvíssemos 30 ou 40 porque todas as faixas reiteram sobre as mesmas ideias. Como pontos altos, quero mencionar “Summerhouse”, que agradavelmente introduz o projeto, “B.Q.E.”, que conta com a participação incrível de Joey Badass e a participação menos incrível de Bas, e “Volvo”, que juntamente com “B.Q.E.” compõem o conjunto de singles lançados antes do álbum.