Inspiração. Referência. No limite, plágio. A discussão sobre direitos de autor, propriedade intelectual, cópia vs inovação artística, sampling, remix não é nova e está longe de ter um desfecho. Ao longo da história e na cultura contemporânea são vários os nomes sonantes na sua arte que já admitiram que fazer referência ao trabalho de outro artista é parte crucial do seu processo criativo. De Beyoncé a Mark Twain, de Jim Jarmush a Picasso, há uma defesa da ideia de que remixar, referenciar e reproduzir inovações anteriores permite aos artistas abrirem um diálogo cultural sobre as imagens e cultura que moldam o nosso mundo e permite que a arte, a tecnologia e a sociedade no geral continuem a evoluir.
“Todas as ideias são tidas em segunda mão, consciente ou inconscientemente, extraídas de um milhão de fontes externas. Estamos constantemente a encher a nossa literatura de frases aleatórias emprestadas de livros que nem nos lembramos e que agora imaginamos como sendo nossas.” – Mark Twain
Estes processos de inspiração já levaram vários criadores a enfrentar problemas legais por causa do seu trabalho, e levantaram questões em torno da impossibilidade da originalidade, ou de criar algo totalmente novo, de raiz, que não tenha a mínima influência de algo que lhe precedeu, numa altura em que a história de arte já remonta, literalmente, à Idade da Pedra.
“Nada é original. Rouba de qualquer lugar que te diga algo ou inspire a tua imaginação… A autenticidade é inestimável; a originalidade é inexistente. E não te preocupes em ocultar o teu roubo – celebra-o se quiseres.” – Jim Jarmusch
Porque essa referência pode ser uma forma até de homenagem e louvor ao trabalho alheio – como nos confidenciou o produtor português MadKutz nesta entrevista – e porque, temos de admitir, sem invenções anteriores não teríamos o iPhone, a saga Star Wars, as latas de sopa de Warhol ou o trabalho de artistas como Kaws ou Shepard Fairey (Obey), o criativo Pablo Dominguez decidiu criar a página Where Things Come From, para mostrar, precisamente, as referências de algumas obras icónicas dos nossos tempos, de áreas que vão da arte, ao cinema, literatura, design e fotografia.
O conceito é simples. Cada publicação é uma galeria de imagens que nos mostra uma obra, e a referência visual que a inspirou. O trabalho de pesquisa de Dominguez mostra-nos que há filmes inspirados noutros filmes, em pinturas do século XIX, anúncios inspirados em obras de Manet, e capas de álbum inspiradas na pintura Renascentista de 1500 de Raphael; e faz-nos perceber que até Matisse em 1905 se inspirou na obra de Agostino Carracci de 1589.