Mesmo desde antes da eleição em 2016, Trump já usava o Twitter como principal meio de comunicação da sua narrativa política. Aproveitando-se do carácter espontâneo da rede e da possibilidade de tweetar na primeira pessoa, o presidente norte-americano levou todo o seu mandato a usar a plataforma do pássaro azul para incendiar a opinião pública. Críticas a jornalistas, sátiras sobre Obama, ameaças e comunicados de política internacional, conselhos sobre o Covid-19… já passou de tudo pela rede social do presidente norte-americano.
Apesar do cargo que ocupa e da responsabilidade institucional que devia representar, Donald Trump usa frequentemente o Twitter para fugir ao guião e, simplesmente, espalhar desinformação que consubstancie as viragens políticas que quer ir introduzindo. Nos últimos tempos, e com a corrida eleitoral de 2020 a aproximar-se, Obama tem sido a vítima de uma estratégia que parece ter Biden como alvo. No meio de tudo isto, sobra a questão sobre a responsabilidade das plataformas, neste caso o Twitter, sobre a disseminação de notícias falsas.
A rede social liderada por Jack Dorsey já foi diversas vezes centro de polémicas pela sua inércia, mas no seu espírito permissivo vai fazendo pouco mais do que parece extremamente essencial. No caso de Alex Jones foi mesmo a última plataforma a banir o conspiracionista e o Infowars, mas no caso de Trump o caso torna-se especialmente complexo de lidar tendo em conta o cargo deste utilizador de Twitter.
Assim, o Twitter vai agindo dentro do que considera ser essencial para travar a desinformação propagada pela conta de Trump e outras que a orbitam e, agora, estreou uma nova funcionalidade. Agora, pela primeira vez, um tweet do presidente Donald Trump surge na rede social acompanhado por uma etiqueta em que os utilizadores podem clicar para conhecer a verdade dos factos sobre o assunto mencionado – Trump sugere que os votos por correspondência se tornem numa fraude numa acusação sem fundamento.
A decisão surge pouco depois de o mesmo Twitter ter sido obrigado a emitir uma declaração pública de desculpas ao viúvo de Lori Klausutis pela utilização que Trump tem feito da plataforma para insinuar que foi o jornalista e ex-congressista da Florida, Joe Scarborough quem a matou. Timothy Klausutis, marido de Lori, falecida em 2001, escreveu uma carta para Jack Dorsey pedindo que eliminasse os tweets de Trump que resgatam essa teoria da conspiração. Dorsey não os apagou mas pediu desculpa publicamente, numa atitude que, de certa forma revela a fina linha de moderação existentes nas redes sociais, provavelmente receosas de algum tipo de represálias por parte dos poderes centrais, em parte controlados pelo próprio Trump.
Trump, por sua vez, já reagiu, acusando o Twitter de estar a interferir nas eleições de 2020 ao introduzir a etiqueta indicando a desinformação. O Presidente norte-americano ameaçou também fechar as redes sociais ou regulá-las fortemente porque “os republicanos sentem que as plataformas de redes sociais silenciam completamente as vozes conservadoras”.
A adição de um botão de fact-checking aos tweets de Trump assinala paralelamente a ausência de regras universais a todas as plataformas digitais. Quer isto dizer que a mesma mensagem do Presidente norte-americana sujeita a escrutínio no Twitter surge publicada sem qualquer sinalização no Facebook, o que pode levantar dúvidas sobre o tratamento que diferentes plataformas fazem de um mesmo conteúdo.
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