Jonatan Aron Leandoer Håstad, mais conhecido como Yung Lean, é um artista sueco e foi um dos principais impulsionadores do estilo Cloud Rap, estilo este caracterizado por instrumentais simples e pelo uso de autotune e de sintetizadores espaçosos e repletos de reverb para formar as harmonias e as melodias das faixas. Curiosamente, a carreira de Lean começou da maneira mais millennial possível: em 2013 lançou “Ginseng Strip 2002”, que acabou por se tornar viral. Esta faixa foi o primeiro grande sucesso do artista, que não se deixou ficar por aí. Tendo já angariado um conjunto de fãs dedicados, Lean lançou o seu primeiro álbum em 2013, Unknown Death 2002 que, apesar de interessante, muitos consideraram que teria alguns problemas de coesão entre as 12 faixas que o compõem. Posteriormente, em 2014, Lean lançou o seu sophomore álbum, Unknown Memory que, reflexo da experiência ganha, corrigiu alguns dos problemas do seu predecessor e solidificou a sua reputação como artista.
Desde 2014, Lean lançou mais quatro projetos e apesar de em todos haver faixas de interesse, têm ficado sempre aquém das expectativas altas que criou com os seus dois primeiros trabalhos – ainda que tenha sido sempre notado que, à medida que o artista ia lançando novo material, houve uma progressão e um afastamento gradual da clássica receita para fazer Cloud Rap. O artista estava então a tentar encontrar-se a si próprio e à sua sónica pessoal. O epítome deste amadurecimento artístico é o álbum de 2018, Poison Ivy, que durante a sua curta duração, explora uma grande variedade de géneros musicais, sempre com o cunho pessoal de Lean presente.
Chegamos então a 2020, e Lean anuncia Starz, o seu quarto álbum. Apesar de não ter sentido os seus mais recentes projetos com tanto impacto como senti os seus dois primeiros, dois dos três singles lançados captaram a minha atenção e mereceram a minha análise: “Violence“ é uma faixa acelerada com um instrumental muito reminescente de Unknown Memory e “Boylife in EU” tem uma progressão incrível e um refrão bastante contagiante. “Pikachu”, por outro lado, deixou-me de nariz torcido pelo instrumental rudimentar pouco interessante. Para além disto, estava bastante curioso com o rumo que o artista ia dar à sua carreira nesta fase, visto que em todos os álbuns se sente uma evolução cada vez maior no que diz respeito à sua abordagem na criação de música.
De uma maneira geral, Starz acaba por ser uma mistura de todos os elementos que Lean usou ao longo da sua curta carreira. A tracklist inclui algumas faixas mais vulneráveis, outras mais agressivas e todas elas acabam por ter aquele toque amador intencional a que o artista nos tem habituado em todos os seus produtos musicais. Um facto interessante é que parte deste projeto foi gravado por terras lusitanas, portanto se calhar ainda vamos ter a sorte de o ver ao vivo quando o mundo o permitir.
A primeira faixa, “My Agenda” é barulhenta, agressiva e apesar de abrir bem o projeto, a sua justaposição com a segunda faixa, “Yayo”, não ficou muito bem conseguida, visto que ambas estão em dois polos completamente distintos – “Yayo” é suave e pouco mexida e “My Agenda” é o completo oposto. A terceira faixa, “Boylife in EU”, em conjunto com “Violence”, são um dos pontos mais altos do projeto. Ainda falando em pontos altos, temos “Starz”, uma faixa de synth pop que conta com a participação surpreendente de Ariel Pink. Esta faixa é sem dúvida uma das melhores da tracklist e fecha a primeira metade do álbum de uma maneira positiva. Os sintetizadores usados em conjunto com a voz de Lean formam uma barreira de som muito agradável.
Se a primeira metade do álbum é, no geral, bastante boa, a segunda acaba por desiludir um pouco, porque leva a crer que Yung Lean foi perdendo o fôlego e a energia angariada até então à medida que avançam as faixas. Em “Butterfly Paralyzed” a voz do artista está carregada de auto tune e, ainda assim, parece fora de tom. Esta decisão pode até ter sido tomada de forma consciente, mas mesmo assim há qualquer coisa que me impede de apreciar totalmente o produto final. Por outro lado, faixas como “Dogboy”, “Pikachu” e “Hellraiser” deixam muito a desejar e acrescentam muito pouco à tracklist no geral. No meio de tanta faixa mal-aproveitada, é possível apreciar “Iceheart”, que aparece como um retornar às raízes de Lean em Unknown Death, onde o rapper actua sobre um instrumental espaçoso e carregado de reverb.
Apesar dos solavancos desta segunda parte, Lean consegue terminar este projeto em grande com “Put Me in a Spell”. A música é suave e a voz do artista combina bastante bem com o instrumental minimalista escolhido. A parte final da faixa é um crescendo composto por sintetizadores e uma grande libertação vocal.
Starz está repleto de decisões bastante arriscadas e de ideias musicais muito interessantes que por vezes, acabam por funcionar mal. No entanto, quando funcionam bem, funcionam bastante bem e é sempre de louvar um artista que arrisca e tenta produzir exatamente aquilo que o seu interior lhe diz para produzir, em vez de seguir o que está na moda ou o que é mais aceite pela comunidade em que se insere.
O valor de Yung Lean, para mim, não está relacionado com quanto me identifico com a música que faz, mas sim com o facto de ele ser mais um exemplo de um artista que tenta ao máximo não ficar agarrado a uma sónica em concreto, que tenta evoluir. E sinto que num mundo repleto de repetição e de artistas que se copiam uns aos outros, haver alguém como Yung Lean é digno de ser valorizado e mencionado.
Starz não é de todo o ponto alto da sua carreira e Lean ainda tem muito para oferecer e explorar. Mas o seu mais recente trabalho será lembrado no futuro como uma das pedras angulares do estilo pessoal que cunhou e da sua carreira, no geral. E se a evolução de Yung Lean tem sido constante, só podemos entusiasmar-nos com os seus projectos futuros.