O anúncio surgiu na sexta-feira passada: o Facebook vai comprar o Giphy, uma das mais conhecidas e populares plataformas de alojamento GIFs. A equipa do Giphy vai ser integrada na do Instagram, mas o serviço continuará a funcionar de forma independente e aberta para fora do ecossistema do Facebook.
Em comunicado, o Facebook explica que a biblioteca de GIFs do Giphy vai continuar disponível no sítio habitual, e que os internautas vão poder continuar a carregar e criar GIFs na plataforma como sempre fizeram. As APIs do serviço também vão continuar acessíveis a programadores e parceiros que procurem integrar o Giphy nas suas plataformas. O Facebook diz, assim, que não vai fechar o Giphy ou bloquear o acesso a quem venha de fora da sua “família de apps”.
A empresa liderada por Mark Zuckerberg parece querer apenas integrar melhor o Giphy no Instagram, plataforma onde o serviço já está bastante presente, permitindo a partilha de GIFs e de autocolantes animados em Stories e por mensagens no Direct. Entre Instagram, Facebook e Messenger, o império de Zuckerberg já representava com 50% do tráfego do Giphy através das APIs. No Messenger e no Facebook, o Giphy está presente também na funcionalidade de Stories e nas mensagens privadas; no segundo caso, serve ainda para responder a comentários.
Uma pergunta coloca-se, de imediato: não poderia o Instagram e as outras apps do Facebook continuarem a usar a API como já faziam (e como fazem os outros parceiros e programadores que também usam o Giphy)? O que ganha Zuckerberg com esta aquisição?
400 milhões de dólares
O negócio entre o Giphy e o Facebook terá custado 400 milhões de dólares. Em comparação com outras aquisições sonantes (Instagram, mil milhões; Oculus, 2 mil milhões; WhatsApp, 19 mil milhões), parece ser um valor razoável. No podcast Stratechery, Ben Thompson, que analisa o negócio e estratégia, sugere-se que a compra do Giphy pelo Facebook tem mais razões pragmáticas que maliciosas por detrás.
Adam Mosseri, responsável pelo Instagram, concorda com a análise. Através do Twitter, a cabeça da plataforma mais hyped do Facebook refere que a aquisição não foi motivada pelos dados de utilizadores ou concorrentes aos quais a empresa de Zuckerberg ganharia acesso. Adam diz que a base de dados de utilizadores do Giphy é pequena e que a informação obtida sobre terceiros por via das pesquisas de GIFs que as pessoas fazem também é limitada; acrescenta ainda que os programadores têm bastante versatilidade no uso que fazem das APIs do Giphy.
Yes, data is valuable, but GIPHY has little user data. The API, which comprises the vast majority of usage as you say, includes an optional ID which can be anything. APIs have access to IPs in general, but most major platforms, ourselves included, proxy via a server side call.
— Adam Mosseri 😷 (@mosseri) May 18, 2020
The data that is valuable is understanding what's trending in the world. Instagram is about culture, and understanding what's hip, is, yes useful to know and will help make both GIPHY and Instagram better.
— Adam Mosseri 😷 (@mosseri) May 18, 2020
Numa entrevista à publicação Protocol, John Borthwick, que viu nascer Giphy, explica que a relação entre as duas partes já era próxima e que as conversações já decorriam há alguns meses, tendo começado a chegar a um ponto de encontro no final de Março. John reafirma o que Mosseri também disse: que o Facebook vai ganhar acesso a informação sobre o conteúdo partilhado na plataforma e as pesquisas que os utilizadores fazem no Giphy, mas não a dados privados de terceiros que usam a API.
Uma casa
O Giphy surgiu em 2003 dentro da Betaworks, uma incubadora de Nova Iorque fundada pelo empresário John Borthwick. Alex Chung e Jace Cooke criaram o serviço que se manteve dentro da Betaworks e que agora, segundo Jon, “vai operar próximo ou em parceria com o Instagram, mas vai ser um negócio à parte. Vai manter a sua marca”. Esta proximidade parece ser exactamente o ponto de interesse para a empresa de Zuckerberg. Segundo Adam Mosseri e a nota de imprensa do Facebook, entende-se que a principal motivação para o negócio teve que ver com os benefícios que a aproximação da equipa do Giphy ao Instagram traria, permitindo-lhe desenvolver melhor o produto e a suas integrações com as plataformas do Facebook, sem fechá-lo, contudo, ao mundo exterior. Mosseri refere que o Giphy “precisava de uma casa”.
A aquisição do Giphy pelo Facebook não deixa, no entanto, de levantar dúvidas legítimas. Por um lado, acontece numa altura em que o Facebook está debaixo de olho, com pressão de políticos e reguladores, atentos às fusões e aquisições de grandes tecnológicas. Por outro, de repente, uma plataforma que usávamos e que era independente do Facebook passa a ser dependente deste, podendo o mesmo acontecer com outros serviços que também usamos e que podemos ter escolhido pela sua independência. De qualquer modo, parece que neste caso o Facebook não estava atrás da base de utilizadores, porque isso já tem desde que comprou o Instagram e o WhatsApp. Quer a tecnologia do Giphy para ajudar a manter essa mina de ouro que são os utilizadores.
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