Apesar de o Facebook ter os nossos amigos e contactos, através da sua extensa e popular família de apps (que inclui o Instagram e WhatsApp), não é o Facebook que está na berra. O Zoom subiu de 10 milhões de utilizadores diários para 200 milhões em três meses, o Houseparty teve 50 milhões de novos utilizadores na aplicação no último mês, o Slack tem batido recordes com 10-12 milhões de utilizadores ligados em simultâneo e o Microsoft Teams, um concorrente do Zoom e do Slack, subiu o número de utilizadores diários para 44 milhões.
O Facebook também sentiu um aumento na utilização dos seus produtos na sequência do Covid-19 – o Messenger, por exemplo, registou crescimentos de 70% nas videochamadas — contudo, esse crescimento não se tem traduzido em resultados financeiros para a empresa. Não têm sido as apps de Mark Zuckerberg a dominar os tops das lojas digitais no que toca a downloads. O Zoom e o Houseparty surgem entre as aplicações gratuitas mais descarregadas em iOS nos EUA; em Portugal, o Zoom está também no topo, na 3ª posição, antes do TikTok (a ausência do Houseparty poderá ter que ver com a polémia que a aplicação sofreu por cá antes de ter começado a ser popular nos EUA).
Mas o Facebook não se contenta com ficar de fora e a empresa esteve a trabalhar numa resposta ao Zoom e Houseparty, com a mesma estratégia de sempre: copiar os concorrentes, integrando as novas funcionalidades nas aplicações já estabelecidas no ecossistema. Nasceu, assim, o Messenger Rooms. O Rooms são conversas por vídeo que suportam até 50 pessoas em simultâneo, sem limite de tempo, e que os utilizadores do Facebook, Messenger, Instagram e WhatsApp vão poder criar.
Vai ser possível criar um ‘Room’ na aplicação do Messenger mas também em grupos ou eventos de Facebook, no Instagram Direct ou através do WhatsApp. À semelhança do Zoom, em que cada reunião tem um link único que pode ser partilhado, cada conversa no Messenger Rooms também vai ter um link para que as pessoas se possam juntar – não é preciso ter uma conta de Facebook. O Messenger Rooms pode ser utilizado no computador ou telemóvel através do browser, sem iniciar sessão; mas tendo a aplicação do Messenger instalada, é possível utilizar efeitos (como orelhas de coelho), colocar fundos diferentes à escolha (o Zoom também faz isso) ou ajustar a luz da imagem.
O Messenger Rooms é mais uma novidade (há outras) que vem reforçar o ecossistema do Facebook. Se a funcionalidade já estaria em desenvolvimento há pelo menos cinco meses, o timing do seu lançamento mostra um Facebook interessado em surfar a onda do momento.
A existência de aplicações detidas e desenvolvidas por diferentes empresas é bom do ponto de vista da inovação mas também da concorrência. Não usámos já tantas aplicações do Facebook? Não damos já tantos contactos e dados ao Facebook? Este é um momento importante para que possamos perceber com clareza como funciona o mercado da competição online, bem como a nossa subscrição a determinadas aplicações pode ter implicações no futuro. Movimentos de mercado como este são demonstrativos de como a inovação das grandes tecnológicas se foca pouco em resolver necessidades para as quais ainda não haja resposta mas antes numa competição por dominar todos os sectores de mercado que vão emergindo no digital. De resto, é sempre bom lembrar que existem ferramentas como o Jitsi, gratuitas e de código aberto, que permitem aos utilizadores desempenhar as mesmas tarefas que as ferramentas e funcionalidades criadas ao abrigo dos ecossistemas infinitos das grandes empresas tecnológicas.
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