Hoje, dia 10 de Março, termina o primeiro período do ano daquela que é a mais impopular das viagens astrológicas, o chamado Mercúrio Retrógrado. Começou em meados de Fevereiro, e segundo os astrólogos, este trânsito retrocedente pode causar indecisão, mau humor, problemas de comunicação e até atrasos em viagens. E enquanto a parte de nós que acredita na influência dos astros no nosso dia a dia vive sugestionada com os efeitos secundários deste caos planetário, chega-nos a notícia de um outro fenómeno astronómico a acontecer nos próximos tempos que pode vir a alterar o nosso entendimento dos planetas. A NASA identificou a existência de uma janela de tempo apertada para visitar Urano e Neptuno. Trata-se de um raro alinhamento cósmico que permitiria reduzir o tempo de viagem para os dois planetas, que são dos mais afastados da Terra.
Ao longo da história, os cientistas têm reunido um amplo conhecimento sobre os vizinhos rochosos e gasosos da Terra, com duas excepções – Urano e Neptuno, os planetas mais frios do sistema solar, conhecidos como os Gigantes do Gelo. A sua enorme distância da Terra torna-os destinos inconvenientes para as sondas espaciais e, por isso, são os planetas menos explorados do sistema solar, tendo sido visitados apenas brevemente pela viagem espacial Voyager 2 da NASA, na década de 1980. Agora, o aproximar deste fenómeno cósmico está entusiasmar a comunidade científica, que espera que os astros se alinhem para que a missão se realize. Literalmente.
Como?
A luz do Sol leva cerca de oito minutos a chegar à Terra, mas leva cerca de 2,7 horas para chegar a Urano e 4,2 horas para chegar a Neptuno — o que mostra o quão drasticamente distantes estes estão do sistema solar interno. Para limitar o tempo de viagem aos dois planetas, os cientistas terão de recorrer à força gravitacional de outros planetas para projectar as sondas a velocidades mais altas.
O Voyager 2 foi acelerado pela passagem em Júpiter e Saturno, o que permitiu alcançar Urano e Neptuno nos 12 anos seguintes ao seu lançamento. Na década de 2030, Júpiter estará mais uma vez na posição correta para acelerar o percurso de uma nave a caminho de Urano e Neptuno. Uma sonda lançada durante esse espaço pode chegar a um dos gigantes de gás daí a cerca de 12 ou 13 anos, chegando na década de 2040, avança a revista científica Nature.
Claro que uma década pode continuar a parecer uma jornada terrivelmente longa, mas é importante garantir que essas sondas (por enquanto hipotéticas) não viajam tão rápido que acabam por perder a oportunidade de entrar na órbita dos planetas. A Voyager 2 conseguiu economizar tempo porque passou “a alta velocidade” por todos os astros no seu caminho, mas é pouco provável que, hoje em dia, os cientistas retornem aos Gigantes de Gelo sem o objetivo de lá passar pelo menos alguns anos para os estudarem e ao que os rodeia.
O pouco que se conhece de Urano e Neptuno faz com que sejam destinos intrigantes para os cientistas. Ambos têm características únicas — por exemplo, os ventos mais rápidos do sistema solar estão em Neptuno, e Urano parece ter levado uma cacetada algures na sua vida, tornando-o o único dos oito planetas com uma inclinação axial estranha. Os dois têm também luas e sistemas de anéis muito tentadores para aterragens, com locais privilegiados para a chegada de uma sonda espacial.
Agora resta saber se os cientistas vão ser capazes de cumprir os prazos. É que além haver uma janela de tempo específica para a viagem, se a comunidade espacial quiser finalmente regressar a Urano e Neptuno, terá de projectar, construir e lançar as sondas no espaço de 10 anos, um prazo apertado e quase recorde para uma missão de exploração tão profunda. Alguns cientistas já começaram a trabalhar nisso, outros estão preocupados com o “problema legítimo” que é a natureza perturbadora do nome Uranus – o nome original do planeta que é alvo de piadas fáceis por ter uma fonética idêntica ao que em inglês é “o teu anus”. Foi Heidi Hammel, astrónoma e vice-presidente executiva da Associação de Universidades para Pesquisa em Astronomia em Washington DC, quem mencionou essa questão em entrevista à Nature, dizendo que, infelizmente, acha mesmo que as piadas com o nome do planeta seriam outro dos problemas reais que os investigadores teriam de enfrentar com uma missão a Urano.