Neste tempo de quarentena corremos o sério risco de nos sentirmos à deriva no mar inerte do tempo morto, que quanto mais muda mais se inaltera, sem prazo definido de término ou rejubilo na linha do horizonte. As notícias do mundo são muitas e sempre a mesma, cansamo-nos de ouvir e ver as mesmas caras e vozes nos nossos ecrãs, somos facilmente consumidos pelas mandíbulas suaves das nossas camas e desaparecemos nos vazios fundos das nossas almofadas. Precisamos de escapar das quatro paredes que nos rodeiam para outros mundos e realidades onde a magia não se rege somente pelo imaginário, o amor improvável se torna o garantido, explosões são a banda sonora que impera, e os sonhos (e pesadelos) ameaçam engolir a realidade. Eventualmente sabemos que temos de voltar, mas tudo o que queremos fazer neste momento – seja por meios duma série, livro, jogo, música ou filme – é partir.
Mais do que nunca, é importante procurarmos dinamizar as nossas vidas dentro das fronteiras que nelas agora se impõem, e aqui no Shifter temos vindo a tentar ajudar-vos com isso ao longo dos últimos dias. Lançámos uma lista com várias sugestões de séries para verem, começámos a agregar a melhor música nova numa playlist pública, e demo-vos sugestões de apps que vos permitiriam encurtar a distância física e virtual que vos separa da vossa família e amigos.
Continuando com esta linha temática, propomo-vos duas listas de 75 filmes cada para vos fazer companhia durante a atribulação que se avizinha. Numa das listas, perder-se-ão no melhor do imaginário clássico e recente a 24 fotogramas por segundo, viajando por diversos marcos do cinema de género, que vão desde a leveza romântica de filmes como When Harry Met Sally, até à repulsa visceral de algo como Audition. A outra contém uma série de filmes para nos trazer de volta à realidade em que vivemos, apoiada numa série de temas como, por exemplo, a disparidade de classes em I, Daniel Blake, a alienação social em Woman Under the Influence, sem ignorar também a ideia de uma emergência pandémica a nível global, marcada fortemente por Contagion.
Este equilíbrio entre escapismo e realismo é um que temos de manter ao longo das nossas vidas, especialmente em períodos como aquele em que nos encontramos. Esta lista procura precisamente promover essa harmonia mental duma forma que vos deixe entretidos num futuro próximo, ao mesmo tempo que vos apresenta algumas das melhores amostras de cinema que há por aí.
Votos de boa quarentena (e bom cinema) para vós!
Para escapar…
Romance:
- Chungking Express (1994), de Wong Kar-wai
- Punch-Drunk Love (2002), de Paul Thomas Anderson
- Y Tu Mamá También (2001), de Alfonso Cuarón
- When Harry Met Sally (1989), de Rob Reiner
- Before Sunrise (1995), de Richard Linklater
Cinema Mudo:
- Modern Times (1936), de Charlie Chaplin
- The General (1926), de Buster Keaton
- Metropolis (1927), de Fritz Lang
- The Passion of Joan of Arc (1928), de Carl Theodor Dreyer
- The Cabinet of Dr. Caligari (1920), de Robert Wiene
Comédia:
- The Big Lebowski (1998), de Joel & Ethan Coen
- His Girl Friday (1940), de Howard Hawks
- What We Do in the Shadows (2014), de Taika Waititi
- Black Cat, White Cat (1998), de Emir Kusturica
- PlayTime (1967), de Jacques Tati
Thriller:
- Vertigo (1958), de Alfred Hitchcock
- Green Room (2015), de Jeremy Saulnier
- The Night of the Hunter (1955), de Charles Laughton
- High and Low (1963), de Akira Kurosawa
- Zodiac (2007), de David Fincher
Terror:
- The Thing (1982), de John Carpenter
- Evil Dead (1981), de Sam Raimi
- Suspiria (1974), de Dario Argento
- Audition (1999), de Takashi Miike
- Funny Games (1997), de Michael Haneke
Surrealismo:
- Eraserhead (1977), de David Lynch
- Songs from the Second Floor (2000), de Roy Andersson
- Barton Fink (1991), de Joel & Ethan Coen
- Gozu (2003), de Takashi Miike
- Synecdoche New York (2008), de Charlie Kaufman
Musical:
- The Umbrellas of Cherbourg (1964), de Jacques Demy
- Stop Making Sense (1984), de Jonathan Demme
- La La Land (2016), de Damian Chazelle
- All That Jazz (1979), de Bob Fosse
- Singing in the Rain (1952), de Gene Kelly e Stanley Donen
Ação:
- Hard Boiled (1992), de John Woo
- The Raid (2011), de Gareth Evans
- Battle Royale (2000), de Kinji Fukasaku
- Die Hard (1988), de John McTiernan
- John Wick (2014), de Chad Stahelski e David Leitch
Animação:
- Spirited Away (2001), de Hayao Miyazaki
- Kubo and the Two Strings (2016), de Travis Knight
- Fantastic Mr. Fox (2009), de Wes Anderson
- Akira (1988), de Katsuhiro Otomo
- The Tale of Princess Kaguya (2013), de Isao Takahata
Épico:
- Seven Samurai (1954), de Akira Kurosawa
- Lawrence of Arabia (1962), de T. E. Lawrence
- Ben Hur (1959), de William Wyler
- Apocalypse Now (1979), de Francis Ford Coppola
- Thin Red Line (1998), de Terrence Malick
Crime/Neo-Noir:
- Pierrot Le Fou (1962), de Jean-Luc Godard
- Snatch (2000), de Guy Richie
- Inherent Vice (2014), de Paul Thomas Anderson
- Brick (2005), de Rian Johnson
- The Third Man (1949), de Carol Reed
Desporto:
- Rocky (1976), de John G. Avildsen
- I, Tonya (2017), de Craig Gillespie
- Moneyball (2012), de Bennett Miller
- The Wrestler (2008), de Daron Aronofsky
- Raging Bull (1980), de Martin Scorsese
Fantasia:
- Pan’s Labyrinth (2006), de Guillermo del Toro
- Excalibur (1981), de John Boorman
- Dracula (1991), de Francis Ford Coppola
- Labyrinth (1986), de Jim Henson
- The Wizard of Oz (1939), de Victor Fleming
Sci-fi:
- Blade Runner (1981), de Ridley Scott
- Brazil (1985), de Terry Gilliam
- Alphaville (1965), de Jean-Luc Godard
- Under the Skin (2013), de Jonathan Glazer
- Matrix (1999), de Lana & Lilly Wachowski
Western:
- The Good the Bad and the Ugly (1966), de Sergio Leone
- The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford (2007), de Andrew Dominik
- The Great Silence (1968), de Sergio Corbucci
- Rio Bravo (1959), de Howard Hawks
- Butch Cassidy and the Sundance Kid (1969), de George Roy Hill