Na véspera de Trump rasgar Acordo de Paris, 1⁄4 dos tweets a negar o aquecimento global foi feito por bots

Na véspera de Trump rasgar Acordo de Paris, 1⁄4 dos tweets a negar o aquecimento global foi feito por bots

24 Fevereiro, 2020 /
Foto de Kon Karampelas/via Unsplash

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Uma análise das publicações feitas no Twitter na época em que Trump anunciou a saída dos EUA do Acordo de Paris mostrou que os bots ajudaram a disseminar informação falsa sobre alterações climáticas.

Um estudo feito pela Universidade norte-americana de Brown concluiu que uma em cada quatro publicações feitas no Twitter sobre alterações climáticas foi feita por um robô através de uma conta falsa. E mais, esses robôs foram ainda responsáveis por 38% dos tweets com concepções científicas erradas. O estudo refere que a actividade de bots no Twitter foi verificada com muita frequência em discursos negacionistas da crise climática, enquanto que em comentários classificados como activismo online para apoiar ações contra o aquecimento global a presença de bots foi de apenas 5%.

Para chegar a esses dados, os investigadores analisaram milhões de tweets publicados no período em que Donald Trump anunciou que os Estados Unidos iriam retirar-se do acordo climático de Paris. O levantamento descobriu que os bots costumavam aplaudir o Presidente norte-americano pelas suas ações e espalhar desinformação científica.

As descobertas sugerem “que os robôs não só são predominantes, como são desproporcionais em tópicos como o apoio ao anúncio de Trump, ou cépticos em relação à ação e ciência do clima”, escreve o The Guardian, que teve acesso ao estudo, citando um dos seus autores, Stephan Lewandowsky.

Foram examinados cerca de 6,5 milhões de tweets, utilizando uma ferramenta criada pela Universidade de Indiana, o “Botometer”, um sistema que estima a probabilidade de o utilizador por trás de um tweet ser um bot. Nos dias que antecederam o anúncio de Trump, a atividade dos bots subiu de centenas de mensagens diárias para mais de 25 mil por dia. Com a declaração do Presidente, o interesse geral pelo assunto aumentou e suplantou-se às mensagens falsas, que caíram para 13% do total.

O estudo não foi, no entretanto, capaz de identificar nenhum indivíduo ou grupo por trás do batalhão de bots do Twitter, nem de determinar o nível de influência que os comentários tiveram no debate climático. Ainda assim, várias contas-bot suspeitas de propagar mensagens anti-aquecimento global têm um elevado número de seguidores. Uma delas, @petefrt, entretanto suspensa, tem quase 52.000 seguidores e rejeitou repetidamente a ciência por trás da crise climática. “Acorda CNN: o dogma das ‘Mudanças Climáticas’ é religião, não ciência”, publicou a conta em agosto. Outro tweet de Novembro pedia que os EUA deixassem o acordo de Paris como forma de “rejeitar um futuro construído por globalistas”. Noutro exemplo, a conta @sh_irredeemable, igualmente suspensa, escreveu “Get lost Greta!” em Dezembro, em referência à ativista climática sueca Greta Thunberg. O tweet foi seguido por uma outra publicação que duvidava que o mundo chegasse aos 9 mil milhões de habitantes devido à “#climatechange lunacy”, em referência a uma loucura exagerada, que trava o progresso e desenvolvimento do mundo. A conta tem quase 16.000 seguidores.

John Cook, um cientista australiano e co-autor da investigação, disse que os bots são “perigosos e potencialmente influentes”. “Esse é um dos elementos mais insidiosos e perigosos da desinformação espalhada pelos bots – não apenas que a desinformação é convincente para as pessoas, mas que a mera existência dessa desinformação nas redes sociais pode fazer com que as pessoas confiem menos em informações precisas ou se desvinculem dos factos”, disse.

Autor:
24 Fevereiro, 2020

A Rita Pinto é Editora-Chefe do Shifter. Estudou Jornalismo, Comunicação, Televisão e Cinema e está no Shifter desde o primeiro dia - passou pela SIC, pela Austrália, mas nunca se foi embora de verdade. Ajuda a pôr os pontos nos is e escreve sobre o mundo, sobretudo cultura e política.

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