#000000 – Contraste é o mais recente trabalho do rapper ProfJam e estreia no próximo dia 12 de Fevereiro na cidade de Lisboa (Cinema Ideal) e na cidade do Porto (Cinema Trindade). O filme, que é mais concretamente uma curta-metragem, mostra o lado de ator de Mário Cotrim. Num longo monólogo de Mário (ProfJam), acompanhamos o processo criativo e a passagem para o papel dos pensamentos após a recuperação de uma overdose pela qual recentemente passou. A acrescentar a este contexto, surge Rita Blanco, conceituada actriz que tem uma participação especial nesta criação cinematográfica de ProfJam.
Eram precisamente 19 horas quando o Cinema Ideal começou a encher. Família, amigos e imprensa foram os convidados a assistir à antestreia numa noite negra, a pedido do anfitrião – ProfJam pediu para que todos os convidados interiorizassem o conceito e incorporassem a cor preta no seu vestuário. Por volta da hora do Telejornal, num pequeno corropio de nervosismo e ansiedade, o rapper da Think Music deu as boas vindas a todos, agradeceu o apoio, e, com todos sentados de olhos postos no ecrã, Contraste começou.
“O que é isto?”, pergunta Rita Blanco a abrir, recordando a pergunta que todos fizemos quando soubemos que ProfJam tinha feito um filme. “Estamos sempre a olhar para a esquerda e para a direita mas nunca olhamos para o cima e para o baixo”, é a frase que dá início ao monólogo de Prof.
O ‘ator’ partilha connosco de forma poética um longo texto que podia muito bem ter ido parar a uma sessão de estúdio e ser mais uma música; mas, neste cenário, acaba por ser uma conversa com deus, que o mesmo intitula de ‘nosso pai’, seguido de uma crítica a satanás e de um pedido de perdão pelos maus caminhos que seguiu, naquela que é uma redenção carregada de sentimentos e sensações de ProfJam.
Através de um artilhamento de métodos linguísticos, Prof reavalia os seus erros e o afastamento da melhor versão de si mesmo, num regresso às origens teatrais e numa evolução que o artista vê como desafiante.
ProfJam: É uma nova evolução, um novo desafio, nunca fiz e é a primeira aventura, não sei se a última, eu já fiz teatro em puto e gosto da cena. Mesmo num videoclipe eu estou em “modo ProfJam”, a actuar como ProfJam e com a letra que eu escrevi. Portanto, isto é diferente mas não deixa de ser igual, é como se fosse ProfJam sem beat, sem a rima obrigatória, sem autotunes, sem nada – é tipo “queres palavra toma palavra”. A nível de evolução artística, no método, talvez tenha existido uma evolução mas não enquanto eu, artista. A faixa “Hino”, do #FFFFFF, podes pôr como ‘theme song’ disto, ’tás a ver? Eu fui lá abaixo, parti os ‘cornos’ ao demónio, venci a batalha e ‘rised above’; portanto ‘I’ve been here’, isto é só outra manifestação para outros paladares. Evolução artística mas técnica; no meu imaginário, no meu mundo isto é a mesma cena; claro que o que toda a gente aprende. Acho que é arte inacabada e eu já vejo aqui coisas que eu podia fazer em cima e em cima e em cima… “É fértil o grito desesperado do ódio, o sussurrar confiante do amor” – eu substituiria agora por ‘medo’, porque, desde que fiz isto até aqui, aprendi que a melhor bússola até é ‘amor e medo’ e não ‘amor e ódio’; o ódio já é filho do medo. Isso já são aprendizagens que um gajo vai tendo e isso sim é evolução, não digo artística mas a nível de desafio prático, pragmático. Foi uma evolução e é também mais uma cena que um gajo faz.
Com uma dicção furiosa e um conhecimento flagrante, ProfJam com as suas palavras, quase como punhais afiados, leva-nos à sua verdade, “cotrínica”. Nada neste filme é para ser levado como um paninho quente, mas sim como um novo óculo sobre a sociedade, uma dúvida sobre aquilo que nos é ensinado e um incentivo a perguntar “porquê”.
A narrativa desenvolve-se com planos aproximados e um foco preponderante em ProfJam, sem quaisquer elementos musicais; é apenas acompanhado por elementos sonoros que elevam o conteúdo da mensagem dada pelo ‘Prof(essor)’ ao aluno, sendo uma delas a tão famosa frase do seu primeiro álbum, Mixtakes, “eu não vejo a preto e branco tenho o espetro completo da luz”, que aliado aos mais recentes álbuns aponta para uma perspetiva que passou de incluir uma palete imensamente colorida para uma visão monocromática.
ProfJam: Acho só que é uma espécie de “vou ali tocar numa / toca no manto preto que envolve o cinema, apontando para a cor preta / vou ali tocar noutra”, tás a ver? Isto conceptualmente falando, conheço os dois lados, conheço as alturas, conheço o chão e o chão pode ser um trampolim se tu quiseres para as alturas – mas tens de querer. O espetro é isso tudo; é as cores, no fundo não é monocromático de todo. Mas neste caso, nestes conceitos, é um bocado porque tenho o #666666 que é o cinzento e que há de ser um equilíbrio; é só porque eu gosto do número 6, não é mesmo o meio das cores; isso é um #f7f7f7 mas eu gosto mais de #666666, porque eu não estou a ver a preto e branco, estou a viajar entre o preto e o branco. No fundo é mais uma mistura de cinzentos e, tens razão, mas a razão do monocromático é mais por causa da cena informática e digital, viver numa era digital onde as pessoas têm contacto contigo através de beats, por beats num telefone e numa coluna. É um bocado essa inspiração digital, é mais pela era e não chamar ‘preto’ e ‘branco’. Porque eu estou a dar-te o branco onde? No Spotify? A voz está codificada em 0’s e 1’s que são tensões elétricas, então é por aí. Em vez de chamar só ‘preto’ ou ‘branco’ chama-lhe o #FFFFFF e o #000000, mas o que eu quero é que haja limites do que tu consegues imaginar, que é a perfeição e o caos, a ordem e o caos.
Contraste pode ser visto esta quarta-feira, dia 12 de Fevereiro, no Cinema Ideal, em Lisboa, e no Cinema Trindade, no Porto.
Artigo escrito em colaboração com Joana Matos.
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