Serviços como o Netflix não impedem tecnicamente a partilha de passwords entre amigos, colocando, no entanto, limites ao número de ecrãs que podem estar ligados ao serviço em simultâneo – a subscrição é mais cara se quiseres que mais que uma pessoa possa assistir a conteúdos em simultâneo. Nos termos e condições, o Netflix não impede a partilha de passwords mas diz que o proprietário da conta deve manter o controlo dos dispositivos que estão a ser usados para ver Netflix com essa conta. Já o Spotify é bem diferente: os termos e condições do serviço definem que “é proibido, por qualquer motivo, fornecer a sua senha a qualquer outra pessoa ou usar o nome de utilizador e senha de qualquer outra pessoa”; ao contrário do Netflix, o Spotify oferece um plano familiar que permite associar até 6 contas individuais diferentes por um preço mais reduzido.
Especialmente em serviços de streaming de filmes e séries a partilha de palavras-passe é uma prática comum, que pode ter as suas vantagens, mas que leva a indústria a afirmar que está a perder dinheiro. Empresas como o Netflix dizem estar atentas a este fenómeno e, através de uma aliança que junta Netflix, HBO, Disney e os outros gigantes, está à procura de formas de dificultar a partilha de senhas, podendo fazê-lo através do envio de códigos de dupla segurança para os dispositivos do dono da conta, de pedidos de verificação com impressão digital ou da solicitação frequente aos subscritores para mudarem as suas palavras-passe.
Certo é que, de acordo com um estudo realizado a consumidores norte-americanos da geração Z (anos 2000), cerca de 80% das pessoas com 13-24 anos partilha ou usa passwords de amigos para aceder a serviços de televisão online. Por cá, em Portugal, nenhuma das plataformas de streaming – Netflix, HBO Portugal, Prime Video e Filmin – impede de forma agressiva a partilha de senhas, nem tão pouco as apps das operadoras. Por exemplo, até é possível partilhar a senha da app NOS TV com amigos e com uma só conta NOS aceder ao serviço de televisão da operadora, incluindo gravações, em diferentes locais e dispositivos por diferentes pessoas.
Há, no entanto, um problema de segurança associado à partilha de contas. Não só estamos a dar uma senha a alguém, como facilmente podemos perder a conta a quem já tem acesso à nossa conta. Para facilitar esse processo há uma nova app chamada Jam, que, por ser de legalidade discutível, pode não durar muito tempo.
Com a Jam podes guardar os teus dados de login do Netflix, por exemplo, e adicionar amigos para terem acesso a esse nome de utilizador e palavra-passe; os amigos podem copiar e colar a password no serviço correspondente para acederem à conta, mas não ficam a conhecer a senha. Esta está escondida deles e também da Jam – encriptada localmente, no dispositivo do proprietário, nada passa pelos servidores da Jam em texto simples. Assim, mesmo que a Jam seja hackeada, nada de comprometedor poderá ser vazado a não ser códigos encriptados.
Ao TechCrunch, John Backus, criador da Jam, disse que a procura pela Jam tem sido tal que já teve de actualizar a base de dados do serviço e até já existe uma lista de espera. O empreendedor explica que o conceito de partilha de passwords é frequente no mundo empresarial mas que no contexto de consumo parece que é algo meio pirata. “No mundo empresarial, gestores de passwords de equipa reflectem a realidade de que múltiplas pessoas precisam de aceder à mesma conta, regularmente. Consumidores não têm o mesmo tipo de sistema, e é mau do ponto de vista da segurança e da coordenação pessoal.”, conta.
A Jam é uma forma avançada de partilha digital, mas num sistema capitalista, onde empresas como a Netflix esperam maximizar receitas e lucros, é expectável que a Jam não dure muito tempo.