Apresentado ao mundo em 2008, com uma série de conselhos deixados aquando da sua morte que mais tarde descobriríamos ser encenada, Bruno Aleixo é um personagem com uma personalidade forte que surgiu numa altura em que a comédia portuguesa, com Herman José numa fase descendente parecia só ter lugar para os sketches de Gato Fedorento e alguns comediantes de stand-up que restavam dos tempos áureos do Levanta-te e Ri.
Surgindo com um humor que apenas usa referências à cultura popular como filmes, séries e músicas apenas para tornar mais verosímeis os personagens, que renega o humor de revista da actualidade tornando qualquer discussão sobre temas ditos “sérios” numa conversa de café onde surgem histórias aleatórias, apostas tira-teimas e jogos onde o protagonista ganha quase sempre, foi uma verdadeira pedrada no charco por ser talvez a criação mais original de comédia feita em Portugal. Não se pode ir tão longe como dizer que se revolucionou a forma de fazer humor em Portugal, mas gerou um fenómeno de culto transatlântico com dedicados seguidores das histórias deste ilustre cidadão de Coimbra.
Passados 12 anos e depois dessa possibilidade ter sido deixada no ar várias vezes em diversas entrevistas pelos seus criadores, Bruno Aleixo chega ao grande ecrã com O Filme do Bruno Aleixo. A longa-metragem realizada por João Moreira e Pedro Santo é produzida pela Som e a Fúria, produtora de destaque no panorama português com filmes como Tabu, As 1001 Noites e Frankie, e chegou às salas um pouco por todo o país a partir do dia 23 de Janeiro.
Foi sobre a estreia no grande ecrã do personagem mais rezingão e manhoso de Portugal, após três séries de televisão, vários programas na Internet e com presença ininterrupta na rádio Antena 3 desde 2015, que o Shifter esteve à conversa com os criadores do universo Bruno Aleixo, João Moreira e Pedro Santo. Uma conversa que foi desde o passado do personagem até a perguntas sobre o seu futuro longínquo, passando por que vídeos virais da Internet poderão ter influenciado a personagem.
Gostava de começar esta entrevista com uma pergunta que regressa às origens. Apareceram no SAPO com o nome de GANA (Guionistas Não-Alinhados) aparecendo com um humor que tentava fugir do que se fazia na altura, muito baseado na análise da actualidade e nos comediantes de stand-up. Passados mais de dez anos de Bruno Aleixo, com incursões por todas as plataformas, inclusive canais nacionais como a Antena 3 e a SIC Radical, ainda se revêem no epíteto “Não alinhados”?
João Moreira (JM): O nome Guionistas Não-Alinhados surgiu por duas coisas, primeiro porque não estávamos dentro do meio, éramos mais ou menos independentes a todos os níveis, até estávamos a trabalhar em casa dos pais. E depois porque não nos revíamos em nenhum tipo de humor corrente.
Pedro Santo (PS): Foi também para parecer um pouco mais oficial e sério do que o que realmente era. Para não parecer três garotos que tinham umas ideias e juntaram um portefólio. Na altura ter um gmail com um nome empresarial já dava uma credibilidade que hoje não chega.
JM: Sim, ter um e-mail com o nome guionistasnãoalinhados@gmail.com era diferente de ter joãomoreira@gmail.com. Mas nunca foi nada de oficial, só acabamos por fazer empresa para depois editar o DVD e teve um nome qualquer daquelas “Empresas na Hora”. Depois editámos o DVD, fizemos dinheiro com ele, gastámos o dinheiro e fechamos a empresa.
PS: Sim é isso. O ciclo é esse, dão-nos dinheiro a gente gasta … como tu sabes também deves trabalhar … recebes dinheiro, gastamos dinheiro, é assim até acabar… é a vida. Mas sobre os “Não-Alinhados”, claro que o Aleixo continua a ser o mesmo produto, tendo evoluído dentro da sua essência…
JM: …ele não se desvirtua a ele próprio, há uma continuidade. Por outro lado, a tua questão é se nós ainda somos “não alinhados”, eu considero que ainda é um produto de nicho, não é um produto mainstream.
Então será por não ser mainstream, um produto de nicho como lhe chamam, que explicam que depois de três programas de televisão e agora um filme, nunca tenha surgido um programa do Aleixo em canal aberto. Nunca houve a possibilidade?
JM: Houve uma excepção, mas foi uma excepção muito especial. O nosso magazine Copa Aleixo 2014 chegou a passar na RTP1, mas era de madrugada. Até porque os jogos também eram lá para as onze da noite que eram no Brasil…
PS: … mas não foi por isso que passaram a essa hora.
JM: Sim. Eu costumo dizer que passar às duas da manhã na RTP1 não é canal aberto. Canal aberto é passar a horas normais, quem tem um programa que passa de madrugada na SIC ou na TVI não conta como canal aberto. Por isso é que ter o nosso programa na RTP não contou como canal aberto.
PS: Normalmente nunca estreiam nada a essas horas. Metem reposições e sitcoms antigas.
JM: Até porque depois demos o passo atrás outra vez com o Aleixo PSI e voltamos à SIC Radical. Na altura até foi por questões logísticas. Concorremos a um subsídio com a SIC e não outro canal. Mas nunca fez sentido para a SIC olhar para o produto e fazer como aconteceu por exemplo com os Gato Fedorento. Certa altura passam a dar às sete da tarde para concorrer com os Morangos com Açúcar. No nosso caso não fez sentido porque acho que não é tão fácil de apanhar…
PS: O Gato Fedorento apesar de tudo segue uma estrutura clássica de sketch em que acabam com a punchline, que cá não se usava muito. Não é um produto estranho.
JM: É uma coisa que existe há décadas. O próprio Herman chegou a ter um programa de sketches, talvez com uma aura um pouco revisteira, mas já com a influência britânica que misturava as duas coisas, ainda com coisas de música a meio, meio show de variedades, muito revista à portuguesa. Mas os Gato, por exemplo, renegaram completamente a parte revisteira e foram buscar só a parte britânica.
PS: Da parte do Herman seria talvez para apanhar mais gente. Ou seja, os Gato quando aparecem, em relação ao Herman são mais de nicho.
JM: Mas eu apesar de tudo, acho que a quebra de Herman para Gato Fedorento foi maior do que de Gato Fedorento para nós.
PS: Isso parece-me óbvio. Mas nós não nos estamos a pôr nesse patamar. É só uma questão de estilos. Ou seja, o Aleixo ainda hoje assenta muito numa desconstrução de ritmos e dinâmicas habituais em TV, no cinema e rádio. Porque os personagens que estão a fazer aquilo não percebem muito daquilo. Funcionam porque têm carisma, personalidade e as duas dinâmicas próprias já identificadas que as pessoas reconhecem e que algumas acabam por gostar. Mas as noções de ritmo de TV, rádio e cinema não são nada trabalhada por eles.
JM: O programa do Aleixo sempre foi um talk-show feito por alguém que não sabe fazer um talk-show. Sabe o básico, mas não tem nenhuma noção de ritmo, nem respeito pelo espectador ou convidados. Assim um pouco como o Tarzan Taborda quando apresentava a WWE, que foi uma referência que esteve sempre presente mas só há uns tempos percebemos a influência.
Além de serem um produto de nicho, também se tornaram um fenómeno de culto, com seguidores que conhecem o vosso trabalho ao pormenor. E sendo verdade que existem fãs do Bruno Aleixo um pouco por todo o país, não acham que este tem uma certa vertente regional? Não conseguem distinguir características em comum que pertençam a apreciadores do vosso trabalho daqueles que, e com certeza que sabem que eles existem, não o suportam?
PS: Há pessoas que não gostam de queijo, portanto logo aí não me choca nada haver pessoas que não gostam do Aleixo.
JM: E a partir do momento em que há gente a gostar, as pessoas que não gostam passam a detestar. Acaba por ser uma coisa que se auto alimenta. Quanto à componente regional…
PS: … eu acho que é regional fora dos grandes centros, Lisboa essencialmente. É um regionalismo homogéneo, não há nada que seja especificamente da Bairrada ou de Leiria. O café do bairro com pessoas a mandar vir umas com as outras existe um bocadinho em todo lado. Em Lisboa talvez tenhas de sair um bocadinho mais do centro. Em Coimbra e Leiria basta andares três quilómetros, em Lisboa talvez tenham de ser uns quinze. Claro que tem muitas referências à Bairrada que os personagens são de lá, mas à partida têm um alcance “global”, como por exemplo o leitão. Apesar de não haver coisas aqui quase ao nível de religião como o leitão na Bairrada. Não é como o pastel de nata. Talvez só a Francesinha no Porto.
Esta questão do regionalismo coloca-se porque com o ressurgimento do stand-up em Portugal nos últimos anos, com a maior parte dos comediantes a surgir em Lisboa usando as mesmas referências muitas vezes até à exaustão, e sempre bastante homogéneos e principalmente sem sotaque.
PS: O sotaque normalmente só é usado para caricaturar ainda mais. Uma coisa importante sobre o Aleixo é que sendo ali de uma zona mais rústica, não é nenhum burro nem nenhum labrego. Normalmente quando caracterizam aquelas pessoas são sempre burras ou labregas, e o Aleixo é muito esperto. Dá sempre a volta aquela gente toda, como por exemplo as personalidades que entrevista, apesar de ter as suas burrices e teimosias a que se agarra a unhas e dentes. Acaba por ser um pouco diferente das caracterizações que se fazem das pessoas fora de Lisboa, sempre muito saloias e de sobrancelha única.
JM: E o sotaque beirão que acaba sempre por ser utilizado para o país todo. Para um gajo de Lisboa começam logo com essa imitação, ainda por cima mal feita.
Com tanto programa paralelo nos últimos anos, passando pelos talk-shows até ao Aleixo na Escola e no Hospital, com programa na rádio três vezes por semana, têm um especial cuidado para manter a história sem erros de continuidade? E com o vosso estatuto de fenómeno de culto já houve fãs a contactar-vos para vos meter em cheque com algum pormenor que tenha escapado?
JM: Já aconteceu. Posso dar o exemplo dos episódios em que o Bruno Aleixo dava sugestões para prendas de casamento e acaba por dar sugestões contraditórias de um ano para outro. Passou um ano, e ele até podia ter mudado de opinião, mas houve um fã que veio logo apontar a incoerência.
PS: Houve uma vez que o Aleixo vai ao Brasil e fala com o Fofão para dar um sumiço no “Seu Donato” que é o marido da prima. E depois devo ter feito um post no Facebook em que confundi as coisas e chamei o Fofão de Donato. Houve fãs que vieram apontar a incoerência, mas respondendo como Bruno Aleixo podemos sempre alegar confusão e destratar as pessoas. Mas de resto vamos apontando as coisas, como por exemplo as datas de aniversário deles, que as pessoas valorizam isso.
JM: E como somos dois, quando o Santo me envia o guião eu posso-me lembrar se houver um assunto repetido e depois tendo tudo guardado é fácil pesquisar no Google Drive por palavras-chave e verificar.
PS: Mas ele pode ter ideias contraditórias sobre os assuntos ao longo dos anos. Mas questões biográficas e histórias que ele já tenha contado gostamos que estejam a bater certo. Tipo a história do porco a comer um capacete, que foi uma coisa que eu vi quando era garoto, e vou voltar a meter num guião. É uma história recorrente com umas variações mínimas, às vezes dando até o ar de poderem ter sido inventadas, quando por exemplo o Busto aponta incoerências.
Actualmente o Bruno Aleixo tem o seu universo particular, mas quando foi criado ele tinha em vista um propósito particular que não era tornar-se um personagem principal. Ainda se recordam do que era?
JM: Recordamos. Ele quando aparece já está morto, conhecemo-lo através de um in memoriam. Aquilo era uma cassete que o Bruno Aleixo tinha gravado para um dos melhores amigos, para ele ver depois da sua morte. A cassete tinha uma série de porcarias, tinha muito mais conselhos e havia também objectos que ele deixava em testamento. Tudo isto para uma curta que não foi para a frente. Depois nós pegamos naqueles três conselhos e colocamos na Internet.
PS: A ideia seria ele aparecer sempre depois de morto. Depois tivemos de arranjar uma forma de o ressuscitar para o talk-show.
Com tanto conteúdo que já produziram do universo do Aleixo, pequenos vídeos para programas de televisão, magazines de futebol, mini séries na Internet, torna-se difícil acompanhar tudo até por alguma dificuldade em encontrar o conteúdo. Sei que alguns programas ainda terão os direitos detidos pelos canais de televisão, mas não pensam concentrar o conteúdo num único local?
JM: As séries não conseguimos meter no YouTube, o que é muita coisa. Ainda o outro dia um entrevistador do Brasil queixou-se que é difícil aceder ao conteúdo, que está em sites portugueses que os brasileiros não conhecem, por vezes sites antigos muito lentos e outras vezes sites bloqueados por região. Isso faz com que por vezes certos programas sejam menos vistos, como por exemplo o “Aleixo Psi” que só está na Sic Radical.
PS: Nunca tivemos uma postura empresarial, estávamos mais preocupados com o produto do que com a logística. Não tínhamos um site próprio. O Sapo não deixava meter os vídeos no YouTube, tinham de ser os fãs a meter e eles acabavam deixavam ficar. Talvez quando passar a vaga de promoção do filme pensemos em juntar tudo no mesmo sítio, com o apoio da SIC.
O Bruno Aleixo pela sua originalidade não tem muitos projectos que se possam apontar como referências. Mas sendo um projecto que já nasceu na era da Internet, tendo até alguns memes dos seus personagens por aí a ser partilhados, não terá sido influenciado por vídeos virais do imaginário do YouTube português como os Apanhados da TVI ou da Liga dos Últimos. Vídeos em que as personagens têm muita graça para quem está a observar por toda a situação, mas que os intervenientes não estão a tentar ter piada e o contexto não é humorístico.
JM: A Liga dos Últimos eu já descobri mais tarde, depois de ter passado na TV, naqueles compactos do YouTube. Apesar de conhecer um nomeado para um prémio “Capitão Moura”, o Senhor Toneca que é compadre do meu pai. Mas apanhados como o “Um burro autenticamente” e o do “Um Cristão não teme”, o Bruno Aleixo acaba por ter muito disso. No filme tem uma cena sobre o Aires mexer os cafés com a pila, em que o Bruno Aleixo repreende o Renato a dizer que é uma história que não tem graça, mete é nojo.
PS: Tanto que na parte da sitcom nenhum se consegue lembrar de uma situação com piada no café. O Renato lembra-se daquela porque foi a primeira que lhe veio à cabeça, tentando dizer que tem piada dependendo do modo como se contasse, para tentar ser ele o engraçado. Eu vou achando piada a coisas como memes, muita coisa do Brasil, que é um país em forma de Internet. Vídeos dos apanhados como o do “um burro autenticamente” em que tudo é óptimo. Eu gostava de saber quem é aquele senhor, onde é que foi. O jornalista foi tentar falar com ele a pensar que era um labrego qualquer e ele deu-lhe a volta, demonstrando até saber que o Paulo Portas era jornalista, algo que nem toda a gente sabe. É capaz de ser das coisas com que mais nos identificamos, o Aleixo até já usou essa frase algumas vezes. Até houve uma altura em que propus fazer-se um programa para tentar encontrar os protagonistas dos primeiros virais de Portugal, como por exemplo o Ricardo.
Fazer o filme já era uma ideia antiga, mas só com o convite da produtora Som e a Fúria é que tudo começou a materializar-se verdadeiramente. Ao contrário da maior parte das comédias portuguesas, acabaram por escolher actores experientes que não estão conotados com o humor, ao contrário de outros filmes que acabam por dar os papéis a comediantes com menos experiência na representação. Agora é impossível pensar no Aleixo e no Bussaco sem serem o Adriano Luz e o Rogério Samora, respectivamente. Quando escreveram o guião já os tinham em mente?
JM: Neste caso sim. O próprio guião que foi para concurso já levava os nomes deles, depois de termos o cuidado de validar com o produtor se os actores autorizavam, e acabaram por ser a primeira escolha. Na cabeça dos bonecos eles sempre se reviram como aquelas pessoas. Acabamos por escolher dentro do catálogo de profissionais que já tinham trabalhado com a Som e a Fúria, o que deu bastante margem de manobra.
PS: Também tínhamos de ter em conta uma série de características objectivas. Ter a idade aproximada dos personagens, o Bussaco tinha de ser maior que o Aleixo. São actores que nós respeitamos e que fizeram um trabalho excelente.
JM: E havia ideia de fugir à tal questão de escolher humoristas. O Renato acaba por escolher o Alvim, mas é o Renato e representa um pouco esse mundo. Depois escolhemos o José Raposo, o Gonçalo Waddington e o João Largarto que já trabalharam muito tanto em comédia como drama para a parte da sitcom porque estava implícito que era um momento de comédia.
O filme esteve presente no Festival de Cinema de São Paulo, sendo que o público brasileiro até teve oportunidade de ver o filme primeiro que o português nesse festival. Estão com expectativas de ter bons resultados de bilheteira do outro lado do Atlântico? E com a quantidade de fãs que o Bruno Aleixo tem nunca surgiu a oportunidade de fazerem um projecto para lá?
JM: Curiosamente é uma coisa que já tínhamos pensado que poderia ter dado. Mas se não deu até agora duvido que venha a dar. Só se o cinema abrir algum tipo de portas, mas não estou a contar com o ovo no cu da galinha. É que se cá é nicho, lá é super nicho, a diferença é que lá eles são muitos, o mercado é grande. E depois, cá uma pessoa pode ser exposta ao Bruno Aleixo a fazer zapping no rádio ou na televisão, lá têm de ser os amigos a mostrar uns aos outros ou procurar activamente. Portanto quanto à bilheteira não sabemos o que vai acontecer, até porque deve haver mais ruído, mais filmes a estrear em sala ao mesmo tempo. Mas só o facto de termos estreado lá já foi bom, e vamos ver. As reviews no Rio foram todas óptimas.
PS: E se cá o produto já causa estranheza pela questão do ritmo, das dinâmicas e tudo mais, lá também tem a questão da língua em que eles têm de se esforçar para perceber. No festival até tivemos boa recepção, estiveram lá bastantes fãs e no final vieram falar bem, à partida quem vem falar connosco vem sempre falar bem, não é para nos tratar mal. Também pode, mas não costuma acontecer.
E há planos para uma sequela?
JM: Para já uma sequela pressupõe que o resultado tenha sido bom e de momento não sabemos. Portanto para já não há esse plano.
No Aleixo PSI começaram a experimentar novas formas de animação, no filme dão outro passo em frente a nível criativo com a utilização de actores reais para dar vida aos vossos personagens. Apesar da opinião negativa do Bruno Aleixo sobre teatro, há uma possibilidade de um dia vermos o universo dele transportado para cima de um palco?
JM: É complicado. Com actores reais conseguimos que haja outro tipo de acção que não sei só diálogos. Na rádio é só diálogo, na televisão acaba por se basear tudo em silêncios, na cara deles a olhar uns para os outros com plano e contra plano, um personagem a mudar de sítio, mas ninguém mexe braços sequer. Com os actores já deu para mexer braços, haver murros e pontapés, outro tipo de acção. Em palco, sinceramente não estou a ver a acontecer. Apesar de tudo, no cinema, mesmo com coisas a acontecer, existe sempre um plano narrativo baseado no diálogo. Não estou a ver como é que em palco conseguiríamos conciliar as coisas, apesar de ser possível. Já tivemos o curso do Mister Cimba e a Biografia do Aleixo, com material projectado e nós a interagir com isso, mas não era bem o Bruno Aleixo.
PS: Aliás, tivemos a ver a biografia no outro dia e o Aleixo só aparecia no início no telefonema, a destratar o jornalista que o queria entrevistar. O resto éramos só nós a discorrer sobre a vida dele, sem ele lá, a falar nos melhores momentos. Mas também era um produto estranho, apesar de ter corrido bem.
O Bruno Aleixo tem 62 e pelo que conhecemos dele não parece que tenha muito cuidado com a saúde. Sendo ele um ewok, tem uma esperança média de vida muito maior que a dos humanos, ou um dia os fãs poderão ter uma surpresa má? Por outro lado, tendo em conta o lugar que ele já ocupa na história do humor em Portugal, imaginam-no a viver noutros contextos, sobrevivendo-vos, sem estarem ligados à vossa criação e experiências?
JM: Para ele deixar de estar ligado às nossas experiências tínhamos de vender o franchise a outra pessoa, o que não está nos nossos planos. Temos bastante mão nele, não está a fugir-nos das mãos, portanto não irá acontecer. E apesar de ele ter aquele aspecto físico, a gente tenta que ele seja bem pessoa. Nunca se assumiu que ele é de outra espécie.
PS: Ele próprio nunca assume que é um ewok. Ele diz várias vezes: “Anda aqui uma pessoa a ajudar-te”. Pode ser num sentido muito lato, mas ele acha-se um humano. Mesmo sobre o Busto as referências sobre ele ser uma estátua são mínimas. No magazine sobre as sete artes, há uma arte sobre a escultura e há uns lamirés sobre ele ser uma estátua. Mas de resto nunca se refere que ele não tem braços. Joga ao Stop, anda, fica amuado, nunca há referências a nível físico.
JM: Mas apesar disso tudo pode haver uma surpresa. Nunca se sabe.
You must be logged in to post a comment.