No início deste mês, a https://staging2.shifter.pt/wp-content/uploads/2021/02/e03c1f45-47ae-3e75-8ad9-75c08c1d37ee.jpgistração do “domínio genérico de nível superior” .org passou por uma mudança radical: primeiro, a ICANN – uma organização sem fins lucrativos responsável pela coordenação dos domínios a nível global – reduziu os limites de preço nos domínios .org para promover a equidade de acessos; e, em seguida, a Internet Society (ISOC) – que em 2002 tinha comprado a sua concessão e criado a PIR (Public Interest Registry), uma subsidiária responsável pela sua gestão que tinha como missão mantê-lo aberto e ao serviço do interesse público – anunciou que passou a responsabilidade do domínio para a Ethos Capital e para um consórcio de três famílias de milionários republicanos: os Perots, os Romneys (de Mitt Romney, ex-candidato à Presidência, sim), e os Johnsons.
Porque é que a “privatização” do .org não está a ser bem aceite?
Conforme te explicámos neste artigo, aquando do anúncio da venda, ao contrário de todas as organizações envolvidas na gestão do domínio .org até então, a Ethos Capital é uma empresa de gestão de capitais privados e, por isso, o negócio não está a ser propriamente bem aceite.
[Announcement:] Ethos Capital to Acquire Public Interest Registry from the Internet Society https://t.co/YBDxRK076p
— Internet Society (@internetsociety) November 13, 2019
É que isto não só significa que as organizações sem fins lucrativos – para quem na verdade foi criado o .org – pagarão preços mais altos para manter os seus domínios, como significa que um fundo de capital privado – que nada tem a ver com um fundo transparente como uma organização sem fins lucrativos – vai ser capaz de censurar tudo o que é publicado nos domínios .org, podendo expulsal qualquer site que não seja do seu agrado.
Lembram-se quando todos estávamos a festejar o facto de vários websites neo-nazis estarem a ser despojados dos seus domínios? O sistema funciona para os dois lados: se os responsáveis por um domínio têm o poder e o dever de intervir contra os discursos aos quais se opõem retirando o espaço online a essas organizações, esse dever e poder também se aplica a multimilionários de direita norte-americanos e https://staging2.shifter.pt/wp-content/uploads/2021/02/e03c1f45-47ae-3e75-8ad9-75c08c1d37ee.jpgistradores nomeados por sociedades de investimento privado.
Petição conta com mais de 8,7 mil assinaturas
Num culminar da onda de críticas, foi criado um site que, com uma petição online e uma carta aberta ao presidente da Internet Society, se opõe à conclusão do negócio de venda do domínio a uma empresa privada, e que apela à participação de todos os internautas. Até então, o Save .ORG conta com mais de 8 700 assinaturas e entre as organizações que assinaram a carta estão desde a Associação de Girl Scouts norte-americana, à infame YMCA, passando pela EFF (Electronic Frontier Foundation) e pela Creative Commons.
O que pedem os críticos?
O documento defende que as decisões que afectam o .org devem ser tomadas com o conhecimento e consentimento de todas as comunidades ONG, de forma supervisionada. E, caso a Internet Society não possa continuar a ser o líder responsável pela supervisão, “deverá trabalhar com a comunidade ONG e a ICANN para encontrar um substituto apropriado”.
Entre as principais críticas ao negócio estão, precisamente, o aumento das taxas de registo sem a aprovação da ICANN ou da comunidade .org, “o que iria colocar muitas ONG com pouco dinheiro na posição difícil entre escolher pagar taxas mais elevadas ou perder a legitimidade e o reconhecimento da marca de um domínio .org”, e o poder de implementar processos para suspender nomes de domínio com base em acusações de “atividade contrária à lei aplicável”, reforçando a necessidade dos interesses das ONG falarem mais alto do que os financeiros.
A posição da Ethos Capital
Em resposta à onda de indignação, e já depois do primeiro comunicado, a Internet Society já veio esclarecer que a Ethos Capital está empenhada em manter o .org “acessível e com um preço razoável para todos”, em sintonia com a missão do PIR. Actualmente com um custo aproximado de 10 dólares, um novo domínio poderá passar a custar mais 10% a cada ano, o que iria significar mais um dólar por cada novo domínio registado em .org. “Com este valor, o .org irá continuar a ser dos domínios mais acessíveis no mercado”, escreve a Internet Society na publicação.
Ainda assim, e só durante o tempo de escrita deste artigo, mais 100 pessoas mostraram o seu descontentamento perante a situação assinando a carta aberta em Save .ORG. Os assinantes lembram o momento em que a ICANN concedeu o domínio à Internet Society em 2002, e o facto de, na altura, o então presidente e director exectuvido da ONG, Lynn St. Amour, ter prometido que o .org continuaria a ser impulsionado por uma comunidade de ONGs – insistindo que só querem ver essa promessa cumprida.
Para assinares a petição ou saberes mais sobre como salvar o .org, visita savedotorg.org e faz parte do movimento.
You must be logged in to post a comment.