“Uma vez flamengo, sempre Flamengo/Flamengo eu sempre hei de ser”. Provavelmente todos os brasileiros, fãs ou não de futebol, conhecem estes versos do hino do clube. Até eu – pouco conhecedora do desporto, filha de um adepto do Vasco da Gama (rival carioca do Flamengo) e criada do outro lado do Oceano Atlântico – sou capaz de cantarolar partes do hino.
Mas foram sempre os instrumentais e a voz de Jorge Ben Jor que mais me relembraram, ao longo dos anos, a existência do Flamengo. Na versão original de “País Tropical”, ele canta com orgulho: “Eu tenho um fusca e um violão/Sou Flamengo e tenho uma nêga chamada Tereza”. Hoje, ao vivo, diz que tem “um carro, uma guitarra cantante” e que a sua nêga “continua deliciante”. A condição de flamenguista devoto é que não se alterou.
Outros dois clássicos da MPB, também compostos por ele, homenageiam jogadores do Flamengo. Em “Fio Maravilha”, letra inspirada por um golo do avançado João Batista de Sales, o cantor relata uma “jogada celestial” que terminou em vantagem sobre o Benfica, no Maracanã, em 1972. O jogador acabou por processar Jorge Ben Jor por usar a sua alcunha sem autorização, levando o músico a alterar o título da canção para “Filho Maravilha”.
Em 1976, foi a vez do ídolo Zico protagonizar a letra de “Camisa 10 da Gávea”, em que Jorge Ben canta: “É falta na entrada da área/Quem vai bater?” Anos mais tarde, em 1990, quando o avançado deixou o clube, foi Moraes Moreira quem tristemente questionou como iria ele ficar “nas tardes de domingo sem Zico no Maracanã?”
Djavan não dedicou “Boa Noite!” ao seu clube, mas usa-o como metáfora para um amor que o abalou: “Ainda bem que eu sou Flamengo / Mesmo quando ele não vai bem / Algo me diz em rubro-negro / Que o sofrimento leva além/Não existe amor sem medo/Boa noite”.
Já um dos maiores nomes da Música Popular Brasileira e adepto do grande rival Fluminense, Chico Buarque, menciona o Mengão num verso de “Biscate”. “Quieta que eu quero ouvir Flamengo e River Plate”, canta ele no dueto com Gal Costa, curiosamente antecipando a grande final da Taça Libertadores de 2019.
Fora da Música Popular Brasileira, o samba trouxe também clássicos que exaltam o clube do Rio de Janeiro, como “Flamengo Maravilhoso”, de Luiz Ayrão. “Flamengo maravilhoso / Cheio de encantos mil / Flamengo maravilhoso / Campeão do meu Brasil”, canta-se provavelmente por todo o Brasil, depois de um fim-de-semana que trouxe dois títulos aos rubro-negros.
O próprio Jorge Jesus já tem um samba adaptado aos seus feitos. Neguinho da Beija-Flor tem cantado “Obrigado, Jesus!” em agradecimento ao trabalho do treinador. E, agora, até já diz que o português estava predestinado ao Flamengo. É que no hino do clube, escrito em 1920, há um momento em que se exclama “Ai, Jesus”.
O mito está criado, resta saber se sobrevive ao Mundial de Clubes, dando mais um motivo de felicidade aos flamenguistas. Eu, que não ligo a futebol, agradeço a Jesus por me ter mostrado a beleza que é Jorge Ben a interpretar o hino do Flamengo.
Texto de Mikhaela Anjos