Conhecemos o projeto de arquitetura há alguns anos e ficámos impressionados com o trabalho deles. Com mais de 10 anos de experiência, a equipa de André Dias Araújo tem seu nome em vários espaços, como habitação, renovação urbana e design de interiores.
Conhecer o seu processo criativo e o seu espaço de trabalho faz parte da nossa dose diária de inspiração no escritório.
Quando é que descobriu que tinha dentro de si uma veia criativa? E, já agora, qual é a sua definição de ser criativo?
Quanto à questão da criatividade, é para mim algo inerente à pessoa, que se reflete em diferentes níveis e intensidades e que varia de pessoa para pessoa. Mas é algo inato, que desde criança, desde os jogos que escolhemos e gostamos mais, se reflete. Mas só mais tarde fazemos essa ligação verdadeiramente, considero que essa criatividade seja talvez reconhecida no mundo académico e transferida, colocada em prática e entende-se aí a facilidade e a maior motivação para as disciplinas, ou tarefas que envolvem essas matérias criativas.
Como é que começa o seu processo criativo?
Neste momento, um processo criativo inerente à arquitectura começa numa primeira fase pelo conhecimento pessoal do nosso cliente, os futuros utilizadores do espaço, que nos transmitem qual o programa que pretendem, para esse espaço, qual a utilização e obrigatoriamente conhecer a pessoa, envolve algum trabalho mais sensível à personalidade de quem usa o espaço, de que forma o faz, o que valoriza, que espaços sociais e privativos são mais valorizados, a relação com toda a envolvente.
Como é que o seu processo criativo tem evoluído ao longo do tempo?
Sim, a meu ver tem evoluído. Essa pergunta encaixa-se em duas vertentes, tem evoluído a forma como podemos expressar a criatividade, através das tecnologias e através das ferramenta que temos para apresentar um projeto ou uma ideia criativa, e de certa forma num outro grupo, a evolução faz-se sentir nas exigências da sociedade. Essa evolução da sociedade é muito contagiante na nossa forma de pensar e de criar.
Quão impactante são as ferramentas de trabalho que utiliza no seu processo criativo diário?
Considero que eu e tento transmitir também essa necessidade a toda a equipa que faz parte do atelier, uma vontade inicial de desenvolver todo o processo criativo em papel, num suporte papel, de forma que a caneta ou o lápis reproduza no momento, instantaneamente, as nossas ideias.
Hoje em dia, um atelier obrigatoriamente tem de ter conhecimento e usufruir de toda a tecnologia possível, porque é de facto uma realidade aumentada que permite aos clientes (utilizadores do espaço) numa fase muito prematura, conhecer exatamente aquilo que vai ser o resultado final de uma obra. É algo que num passado muito recente só acontecia de facto na obra, quando a obra crescia.
Quanta liberdade pensa que o facto de ser criativo lhe dá?
Eu vejo na minha prática, no meu dia-a-dia, com a minha equipa e com a equipa de engenharia, talvez a condicionante maior, toda a burocracia e complexidade em conseguir gerir a legislação e diplomas legais implícitos à construção e à arquitectura.
Porque toda a legislação que existe, e que tem de ser cumprida é igual para todos. Nós temos de a contornar, usando a criatividade e a essência de um projecto e a essência de qualquer ideia, a meu ver, diferencia-se exatamente aí e permite-nos destacar e inovar muitas vezes com base sempre na criatividade.
Qual é a importância da inovação e da capacidade de se reinventar no seu trabalho diário?
Há algo que aconteceu e se fez sentir de uma forma bem mais profunda nestes 10 anos. É o conhecimento que os nossos clientes têm pela nossa área. Grande parte dos compradores ou clientes não tinha conhecimento, por exemplo, dos materiais de construção que via aplicados no pavimento, num teto, numa parede, numa casa-de-banho, numa cozinha. Hoje em dia toda essa informação está disponível por todo o lado, a internet permite, e ainda bem, dar a conhecer o que existe, as mais valias dos produtos, das soluções construtivas, quanto é que custam. Isso fez-nos entrar no mercado que se torna cada vez mais competitivo, porque obriga de facto a existir esse conhecimento.
Nós Técnicos temos de obrigatoriamente, ter e despertar esse interesse deste lado mais técnico da arquitetura, de conhecer soluções construtivas, de conhecer estas ferramentas de trabalho porque o próprio cliente, grande parte das vezes, já tem contacto também com esse mundo, algo que não acontecia antigamente mas que agora acontece.
Como é que pensa que a arquitetura pode ajudar a sociedade hoje em dia?
A arquitectura tem um papel muito importante na sociedade, e em toda a história, que acompanhamos e estudamos. A importância da arquitectura reconhece-se desde a escala do urbanismo quando projectamos à escala de uma cidade: quando se projectam loteamentos ou espaços públicos, espaços de lazer, até à arquitetura de interiores onde se define o desenho urbano, o desenho de uma porta, de um puxador, de um móvel.
O simples desenho urbano pode permitir, no dia-a-dia, mais qualidade ou menos qualidade de vida dos espaços verdes, os arruamentos, os estacionamentos, o trazer os carros para o centro da cidade, tudo isso tem tanta influência no nosso dia a dia que o papel do arquitecto é essencial realmente de ter presentes todas essas exigências, e ter presente toda esta evolução super rápida da sociedade e as mudanças nas exigências que os utilizadores têm.
Mishmash Creatives é uma série criada entre o Shifter e a marca de material de escritório minimalista Mishmash que procura perceber como é o trabalho de designers e de criativos portugueses ou residentes em Portugal, e como eles usam os produtos da Mishmash.
You must be logged in to post a comment.