Diretamente dos confins do Twitter e do Reddit, chega-nos um novo coletivo de hip hop cujo som ressoa nos nossos ouvidos de uma maneira reminiscente dos primeiros trabalhos de outro coletivo muito popular, Brockhampton.
99 Neighbors, nas suas próprias palavras são “A COLLECTIVE OF INDEPENDENT ARTISTS WITH A COMMON GOAL OF NATURAL EXPRESSION, FREE ARTISTRY, AND FORWARD MOMENTUM”. O grupo é originário de Berlignton, Vermont (EUA), e conta com um total de nove membros, cada um deles com uma função, que surpreendentemente pode ser consultada no seu site.
A primeira música que alguma vez ouvi deste grupo foi a balada “Thunder”. Esta música é, sem dúvida, a minha favorita deles (por enquanto) e é uma excelente maneira de vos introduzir ao grupo. A cantar o refrão temos Aidan Ostby, um dos três cantores do grupo, e juntamente com o instrumental, percebemos diretamente o tópico sobre o qual a faixa fala: depressão e solidão. A melodia é pesada, calma, com uma produção muito lo-fi e os tambores que se ouvem de tempos em tempos dão um tom assombroso. O corpo da música inclui a participação dos três rappers do grupo: Swank, que para além de rapper, é também um designer de moda, HANKNATIVE e Sam Paulino.
Apesar de serem capazes de criar músicas lentas e pausadas, o grupo é também capaz de criar verdadeiros bangers e a segunda faixa que ouvi do grupo é precisamente isso. “Ripstick” é energética, barulhenta e tem uma onda muito mais agressiva do que a faixa anteriormente mencionada. Colocando ambas as faixas mencionadas em paralelo, podemos facilmente ver a diversidade musical que o grupo consegue alcançar. A música abre com um verso de HANKNATIVE e segue para um refrão extremamente contagiante, também ele cantado por HANKNATIVE. Passamos então para o verso de Sam Paulino e, por fim, para o verso de Swank. O flow de todos os membros está perfeito, a letra é interessante e o instrumental, apesar de ser baseado no Trap que estamos tão habituados a ouvir, traz algo de mais experimental para a mesa.
O grupo lançou no primeiro dia de 2019 o seu primeiro álbum, Television, cujo nome, segundo a banda, tem a ver com o facto de a experiência de o ouvir ser semelhante a fazer zapping na televisão. Apesar de não ser um projeto extremamente coeso, é um bom primeiro álbum visto que está repleto de muitas ideias boas espalhadas pelas 12 faixas. Há muito para dizer e comentar sobre o álbum porque cada faixa explora uma ideia diferente, mas vou optar por simplesmente falar de alguns pontos altos para vos deixar com um bichinho para ouvirem o resto.
A música “Facts”, cuja melodia simplificada dá espaço suficiente para HANKNATIVE dominar o microfone e demonstrar os seus dotes para rappar, tem como tópico principal a fama e o sucesso que o grupo pretende alcançar. “Lock N Key” conta com a participação de PhiloSophie, uma cantora que colabora frequentemente com o grupo, e é suave, catchy e faz lembrar algo dentro do espetro da faixa “SUGAR” dos Brockhampton. Por outro lado, a faixa “Bangarang” é um simples hino de experimentação com um baixo pesadíssimo, sintetizadores que fazem lembrar o zumbir de um abelhão e uma bateria, apesar de ser algo repetitiva, muito orgânica.
Recentemente assinaram um contrato com a Warner Records e tudo parece estar em ordem para o grupo ‘dominar’ o mundo durante os próximos tempos. A 6 de novembro lançaram um EP com cinco faixas, todas elas acompanhadas por um videoclipe disponível no YouTube e é de notar que todos os videoclipes são extremamente originais do ponto de vista estético, demonstrando a criatividade fervilhante nas mentes do grupo.
O grupo ainda está no início da sua carreira e apesar disto já passaram pelo festival Rolling Loud, estão confirmados para a próxima edição do Lollapalooza, em Chicago, e uma das suas músicas apareceu num episódio da série Keeping Up With the Kardashians. É fácil compará-los com grupos como os Brockhampton – num dos comentários mais populares ao seu vídeo lia-se algo como “In a Odd Future, Brockhampton have 99 Neighbours” –, mas acho que muito em breve, veremos que tal como os anteriores, este grupo tem mais para dar e oferecer ao mundo da música do que uma simples comparação. Resta-nos esperar, aproveitar a oportunidade de ouvir e assistir à a evolução deste coletivo e fazer figas para que algures no futuro passem por terras lusitanas.