Poucas histórias têm o mistério e o encanto da de Vivian Maier. Nascida em 1926, a agora (semi)consagrada fotógrafa, é mais um dos exemplos paradigmáticos de como arte e artistas viviam à margem do mediatismo e, muitas das vezes, sem sequer o procurar. Assim se explica que o trabalho da norte-americana que agora, 11 anos depois da sua morte, será exposto em Cascais nunca tenha sido visto por ninguém enquanto Vivian era viva.
Vivian nasceu em Nova Iorque mas ainda durante a infância viu-se obrigada a emigrar para França onde tinha família. Depois de voltar aos Estados Unidos da América abraça a discreta e banal profissão de ama; cuidava de crianças durante as semanas e aproveitava as folgas para pegar na sua Roleiflex, deambular pela cidade ou pelas redondezas captando com o seu olhar singular tanto a paisagem arquitetónica como a humana.
Ao todo, estima-se que Maier tenha tirado mais de 150 mil fotografias, sobretudo entre as décadas de 50 e 60; contudo, a dispersão do seu espólio torna a missão de arquivo e indexação numa segunda epopeia com Maier como personagem principal. Foi John Maloof quem descobriu pela primeira vez negativos da então completa desconhecida fotógrafa, por um mero acaso, no apartamento onde Vivian tinha vivido. Desde então, Maloof reconheceu a peculiaridade das fotografias de Vivian e partiu numa aventura de recolha e organização de todo o material — de que resultou também um documentário.
A sua obra, a preto e branco, é singular e quase todas as suas fotografias são únicas — na medida em que não procurava disparar duas vezes sobre o mesmo enquadramento. Os seus personagens preferidos, para criar as fotografias que são autênticas narrativas, eram mulheres, crianças, através das quais testemunhava o pulsar das ruas.
Foi assim que, na sombra, Maier foi acumulando uma obra que hoje em dia lhe vale o rótulo de uma das fotógrafas de rua mais consagradas. E é da sombra que sairão as suas fotografias para serem expostas nas paredes do Centro Cultural de Cascais entre 17 de Outubro de 2020 e o meio de Janeiro do ano seguinte. Ainda falta algum tempo para a exposição, pretexto ideal para te debruçares sobre a história desta icónica mulher.