Depois de O Último Tango em Mafamude, álbum que o lançou para a ribalta e chegou até aos ouvidos de especialistas em terras do tio Sam, David Besteiro, mais conhecido como David Bruno, está de volta com o seu novo projeto Miramar Confidencial. Um álbum que conta com várias participações e a história de um “aldrabão” incompreendido e abandonado pela sua amada. Fomos ao festival Iminente saber mais sobre o novo disco do produtor e cantor de Vila Nova de Gaia.
O relógio marcava as 12h30 quando chegámos ao Panorâmico de Monsanto, o local escolhido para esta entrevista e para mais uma edição do festival Iminente. De soundcheck feito mas com uma fome “dos diabos”, David Bruno aceitou o nosso convite e acompanhado do manager Tiago Silva e o guitarrista Marco Duarte, respondeu às nossas questões.
O álbum saía naquele mesmo dia e o Iminente seria o palco da apresentação. “Vou tocar músicas dos dois álbuns vou tocar o anterior e vou tocar bastantes do novo disco e pronto sabes como é a primeira vez é sempre especial será a primeira vez que vou tocar músicas do disco novo”, respondeu dB sobre a estreia e segundo o mesmo o nervosismo era nulo e a preparação era clara.
Miramar Confidencial narra a história de Adriano Malheiro, um caloteiro dos anos 1980 que viu o seu nome espalhado nos murais de Miramar e fotografado durante meses para o instagram de David Bruno; Adriano ganha assim um novo contexto, passando de referência casual de Instagram a personagem central deste novo projeto. Entre aldrabices, melodias synth-pop, influências de atores como Van Damme e Steven Seagal ou de séries como Miami Vice, o autoproclamado CEO do grupo Conjunto Corona procurou mais uma vez pegar num tema e desenvolver uma história que pudesse ser contada através do audiovisual, com a criação de um vídeoálbum.
O que começou por ser um cantor romântico inspirado no Último Tango em Paris e influenciado pelos cantores Toy e Marante, mudou por completo de cenário neste segundo disco. A história começou a ser contada com o lançamento da música “Interveniente Acidental”, que conta com a participação do rapper Mike El Nite; um mês e meio mais tarde surgiu a faixa “Bebe e Dorme”, que antecipava o lançamento do álbum que agora é dissecado pelo próprio.
No momento em que decorre esta entrevista, o teu álbum Miramar Confidencial já saiu. O que podemos esperar para o novo álbum? A alcunha de “Cantor Romântio 2.0” vai dar o mote neste álbum?
Não, menos. Este é menos romântico e é mais (não sei se posso utilizar esta palavra aqui) mas é mais armante, O armante, um gajo que gosta de se armar, caloteiro ao mesmo tempo; portanto é menos romântico e é mais armante. Estavas a perguntar-me em termos de expectativas, pá, não sei eu não faço muito a música a pensar nisso, o que é que eu vou conseguir fazer com o álbum, vou seguindo o que me apetece fazer.
Isto foi mais inspirado pela aquela cenas dos murais do Adriano Malheiro o caloteiro e reflete um bocado um estilo de pessoa que existe muito naquela zona, que é aquele empresário aldrabão que vive a vida só com aldrabice e a enganar os outros, e é um disco sobre isso – é um disco sobre aquela zona em Miramar, que é uma zona que encaixa muito neste universo luso-kitsch – pronto já lhe chamei isso uma vez –, mas é aquele português foleiro clássico e segui as ideias fiz o disco, agora se… é um bocado diferente do anterior? É, um bocadinho diferente do anterior, é muito diferente de Corona é. O que é que vai esperar? Olha vamos esperar um tempo para ver.“
No último albúm O Último em Mafamude vimos inspirações de Toy e António Marante e agora queremos saber em Miramar Confidencial quais é que foram as tuas maiores inspirações?
Foram os filmes de ação dos anos 1990 e grande parte das músicas é feita com samples de filmes de Van Damme e do Steven Seagal, dessas bandas sonoras; portanto, em termos do universo aúdio, tive a ideia de fazer este universo do caloteiro inspirado na série de murais do Adriano Malheiro Caloteiro, e achei que o universo que ‘casava’ bem com isso era este universo synth-pop, Miami Vice (podemos chamar-lhe isso), e tem lá samples da banda sonora do Miami Vice, bastantes. Foi todo esse universo aí que usei para construir a música.
É visível e também audível, sobretudo no último álbum, inspirado no Último Tango Em Paris, que a cinematografia tem um impacto na tua criação artística. Porque é que este predomínio da cinematografia está sempre presente nas tuas criações?
Por acaso isso é uma boa pergunta, nunca tinha pensado nisso. Quando eu penso num álbum, a primeira coisa que faz nascer esse álbum é uma história que imagino na minha cabeça, não é? Portanto, este anterior, O Último Tango em Mafamude, foi a tal história do poeta que amava a sua cidade e a sua cidade não o amava então ele foi para Rio Tinto, e eu construi aquele filme na minha cabeça, depois fiz a música e é por isso que tenho sempre este conceito de full video, ou seja, a música tem um vídeo para todo o álbum, porque basicamente aquilo é o filme que eu faço na minha cabeça quando estou a construir o álbum. Acho importante com mais budget ou com menos budget, mais bem feito ou menos bem feito, haver vídeo para todo o álbum para de alguma maneira conseguir tentar mostrar às pessoas o que é que ia na minha cabeça quando imaginei aquela história. Mas as pessoas estão à vontade para interpretar da maneira que quiserem, eu gosto e sempre gostei de fazer isso.
Em termos de participações, temos por exemplos o Mike El Nite, o Samuel Úria ou o Fernando Alvim. Como é que foi trabalhar com eles, qual deles é que achas que se identifica mais com o seu estilo de música?
É assim, como sabes, não estão todos ao mesmo nível de participação. Uns fizeram música comigo, os outros responderam-me um desafio que foi aquele de fazer uma chamada a pedir o dinheiro de volta ao caloteiro, a personagem central do álbum. O Carlos Afonso, o bondage, este senhor, o Samuel Úria e o Fernando Alvim foram coisas esporádicas, encontrei-os em eventos e certas situações, propus-lhes o desafio e não houve nunca alguém que dissesse que não, toda a gente achou piada, gravaram aquilo pelo telemóvel, mandaram-me e era mesmo essa a ideia uma chamada de voicemail. Os outros são pessoas que eu conheço e mais uma vez me imaginei fazer um música para entrarem. Primeiro imaginei a ideia, quando fiz os instrumentais contactei-os e são pessoas com quem tenho uma relação próxima, por exemplo o Alferes M. (a.k.a Mr.Dolly), que é o meu vizinho, que eu perguntei logo se ele queria participar e entrar. O Mike El Nite encontrei-o num concerto de Corona e fui falar com ele na net, foi a primeira pessoa a quem mostrei o disco porque também achei que ele ia participar e encaixar bem, porque também é uma pessoa que gosta de explorar universos não convencionais pelo menos do hip hop, fiz-lhe o convite e ele adorou logo e entrou. Portanto, as participações foram todas muito naturais não houve nenhuma negociação, foi tudo decidido assim entre duas ou três mensagens de chat de Facebook e como em todos os álbuns.
Conta o Observador que a sua história foi baseada em factos reais e no entanto podia ser considerada uma situação atual, consideras que o albúm pode ser controverso? Também pode ter esse toque?
Sim, pode ser bastante controverso, porque eu estou a usar o nome do Adriano Malheiro e os murais, que é uma pessoa que existe, mas é importante também ressalvar o seguinte, eu não estou a afirmar que ele era um caloteiro nem estou a apoiar as pessoas que fizeram aquilo, eu vi aqueles murais e imaginei uma história paralela, eu estou a trabalhar num domínio completo da ficção, com certeza que as pessoas que aparecem lá se não perceberem este ponto de vista que eu estou a fazer, uma história ficcional a volta de uma coisa que eu vi na rua que nem fui eu que fiz poderá ser controverso mas também por outro lado digo-te se eu fosse chamado a tribunal para ser processado por um caloteiro era a maior ironia de sempre na minha carreira. risos
Já mencionaste aqui os Conjunto Corona, dirias que trabalhar com eles serve de inspiração para moldar a tua música ou a criação da mesma?
O estilo difere bastante e eu criei este projeto do David Bruno precisamente porque este tipo de coisas que faço aqui neste projeto não tem espaço em Corona, são coisas que nunca poderia fazer com eles, mas o metodo de trabalho é parecido, a história é sempre a mesma, tentamos imaginar um filme na nossa cabeça e depois é começar a construir o álbum, só que de um lado estou sozinho e do outro tenho várias pessoas comigo que estão a construir esse universo.
És cada vez mais reconhecido pelos adolescentes, um publico que ouve especialmente a tua música (…)
E os velhotes também! interrompe Tenho montes de pais de amigos dos meus amigos.
Porque é que achas que eles gostam tanto de ti. O que é que faz o David Bruno destacar-se?
Não sei, tens de perguntar a eles, mas não sei, não gosto muito de estar aqui a dizer o porquê de eles gostarem de mim mas acho que talvez seja pelo facto de ser regional e genuíno, de falar em coisas que tu podes chegar à rua e ir lá vê-las, acho que isso ajuda as pessoas a ver que é um projeto honesto e acho que as pessoas quando são honestas normalmente acabam sempre por ser premiadas por isso, acho que isso pode ser o principal fator.
Falando agora aqui um pouco do Mesa Para dois no Carpa, que foi uma curta que ganhou o prémio nas Curtas de Vila do Conde, realizado por Francisco Lobo(..)
e no Porto também no Festival Curtas do Porto. interrompe
Prefere ser aclamado pela música ou realização?
Não sei, eu não escolho nenhum dos mundos eu acho que no meu caso um complementa o outro e o outro complementa o outro e é importante no meu trabalho porque se fosse só a música ou se fosse só o vídeo se calhar não tinha o mesmo alcance fazendo os dois ao mesmo tempo, portanto não gosto de nenhum em específico eu gosto de pegar em ideias e desenvolve-las e depois suportando o vídeo da música e os meios que tiverem de ser, portanto não tenho preferência por nenhum dos dois. Tenho preferência pelas ideias.
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