Aos 25, continuo a olhar para aquilo que é possível alcançar na idade. Com novas heroínas na cena política, olho para o inalcançável de Greta Thunberg. De 16 anos, a menina Sueca invocou greve para faltar às aulas. O clássico da “indisposição física” também serviria. Afinal de contas, quando ela alcançar 80 anos, viveremos em 2083. Sabendo que passado 2030, sem eliminar as emissões de carbono em metade não será possível pôr um travão à catástrofe climática, eu diria que “indisposição física” se justificaria. Mas aos 25, idolatro uma adolescente que ao começar uma greve pelo clima a todas as sextas-feiras, deflagrou reivindicações globais de uma geração, de acordo com a ciência, condenada. De acordo com a história, atraiçoada.
Nem por isso deixo de achar fascinante os recentes simulacros nacionais de colapso. Não me refiro aos vindouros incêndios, por si mesmo independentes da data de publicação deste texto, criminosos ou inocentes, mas aos incendiários da maré social. As réplica do canto de sereia dos motoristas de matérias perigosas que consumiram o vício nacional atestado. Não que o combustível não chegasse para toda a gente mas porque ao prevermos esse precipício, acelerámos na direção do vício e desperdiçámos a independência do transporte coletivo. Desses vários sistemas de que dependemos para a estabilidade da sociedade, a mobilidade, como e quando testada, colapsa pela via social. De resto, ao 4º dia da greve passada, o Observador destacava 9 (artigo com paywall) setores viciados: “transportes públicos, turismo, medicamentos, recolha de resíduos, Uber e serviços semelhantes, indústria agroalimentar, vestuário, desporto.” Mais um pouco e até os falecidos teriam de esperar pelo seu funeral.
Como tantos outros, a partir de uma certa idade, estes vícios revelam-se fatais. Estes “wicked problems”, tornam-se problemas persistentes, alastram-se até à normalidade e ganham uma centralidade nervosa. Mas depois de se acusar o falhanço dos vários sistemas, como fazem nos maços de tabaco, ao fumador idoso, a que lhe orgulha a perversidade da companhia da nicotina desde os 14, é-lhe dito aos 70 para que continue a fumar, que parar agora é que faria mal. Mas a Greta tem 16 anos e sabe desde já que quer evitar este cancro no planeta. A teoria de transição ilustra alguns desses cenários. As opções variam entre a transição gradual e o colapso. Jem Bendell relata o virar da página com o termo “adaptação profunda” em vista da 6ª extinção em massa. Eu, insisto que além da visão curta dos sistemas democráticos, existe uma maioria geracional que continuará a consumir gasolina com a mesma paternalidade carinhosa dos pais do senhor de 70 anos.
A dependência financeira do petróleo é coisa de países pobres. Já a dependência do petróleo é um prenúncio dessa mesma instabilidade. Deverão ser pelo menos tantos os países que enfrentaram desastres sociais como aqueles que fizeram a “quase boa gestão” do recurso. Será preferível a via Norueguesa, onde a economia é estabilizada pela gestão dos lucros petrolíferos através do maior fundo de investimento soberano do mundo, enquanto os Teslas se passeiam por Oslo; Ou a via Venezuelana, onde falta comida, medicina, eletricidade, água, e agora, até gasolina? A via Norueguesa, por esta altura já não será suficiente. É obrigatório acelerar a transição: investir em tecnologias verdes; modernizar a capacidade renovável; reduzir o consumo energético; substituir o automóvel e o avião, entre tantas outras obrigatoriedades.
Olhando para estes problemas, precisamos de entender que não é do interesse do talhante que se deixe de consumir carne, nem do interesse do agricultor Brasileiro que se deixe de importar mangas. Será do interesse dos Alemães que se deixe de usar carros a gasolina ou do interesse do pescador que se esgote o peixe no mar? Ou terá algum interesse para uma construtora renovar um edifício que obedeça a novos standards energéticos em vez de construir novos prédios? A verdade é que o interesse não é deles, o interesse é de todos. Com uma perspetiva de sustentabilidade sobre esses mesmos sistemas, percebemos que em vez de competir é essencial cooperar para a melhor das transições. Essa teoria de gestão de transições apresenta-nos as “arenas de transição” como uma possível coligação de todos os atores com importância num determinado sistema. Que tipo de mundo queremos ter? O desenhar de uma visão comum de 25 anos, que envolva o ministério da energia, distribuidoras da rede, tanto petrolíferas como inovadoras tecnológicas, e alguma instituição especialista, poderia alavancar uma transição energética. Também um compromisso interpartidário. As soluções são urgentes, e sabemos que não serão imediatas.
A minha outra heroína, até ao ano passado, trabalhava num pequeno restaurante em Nova Iorque. Alexandria Ocasio-Cortez dá-me ambição para os 29 anos. É a mais nova representante de sempre no congresso Norte-Americano. Inspirado no “New Deal”, o programa de investimentos públicos, reformas e regulação de Roosevelt, que retirou os Estados Unidos da grande depressão, ela propôs o “Green New Deal” em resposta à catástrofe climática e às desigualdades económicas. Ainda que chumbado, neste vídeo fala desde um futuro em que foi aprovado. Conseguimos ver o futuro? “Podemos ser tudo aquilo que tivermos coragem de ver.”
E agora: Transição ou colapso?
[infobox] Como sabes, estamos a mudar o Shifter e parte dessa mudança é deixá-lo respirar. Até ao final de Agosto não vamos publicar artigos com a regularidade do costume, mas vamos abrir algumas excepções, para conteúdo que encaixa na nova definição do #Shifter2020 e nos permite ir pensando o projecto enquanto o fazemos.
Ainda assim, continuamos a querer a tua ajuda nesta nossa transformação! Para fazeres parte da mudança, segue a nossa conta de Instagram, o nosso novo Twitter @LabShifter ou o site Shifter2020.pt. Critica, sugere ou comenta e fica atento porque em breve começaremos um período de mudança ainda mais interactivo! Até já! [/infobox]