Larry Sanger, o filósofo que em parceria com Jimmy Wales criou a Wikipédia, há muito que tem posições de fundo críticas das redes sociais e do seu viés. Agora, transformou as suas posições numa chamada de atenção que endereçou aos leitores do seu blogue. Sanger sugere que nos dias 4 e 5 de Julho se faça uma greve às redes sociais.
A ideia não é que se abandonem por completo as redes sociais, mas que se usem as mesmas apenas para promover notícias sobre a greve e o manifesto que lhe dá origem — a Declaração da Independência Digital. Larry Sanger, tal como demonstrou com a sua criação, Wikipédia, é um defensor da web descentralizada e quer usar a sua capacidade de mobilização para dar um novo burburinho a esta temática.
Larry Sanger quer assim mostrar ao mundo a necessidade de criar um novo sistema que não assente em arquitecturas de sistemas e software proprietárias e desconhecidas. Como explica exaustivamente na Declaração da Independência Digital, o crescimento dos impérios tecnológicos centralizados tem feito com que gradualmente os direitos humanos à liberdade de expressão, privacidade e segurança tem sido cada vez mais postos em causa.
SOCIAL MEDIA STRIKE INFO TWEET
Hashtag: #SocialMediaStrike
Info: https://t.co/mGFSKDoKhE
Declaration: https://t.co/uboOyDXgs1
"Will you strike?" poll: https://t.co/VIFZEitsow
Resources/links: https://t.co/Osrnvdd3VY— Larry Sanger (@lsanger) June 30, 2019
Desde a utilização de algoritmos – como os do Facebook – completamente opacos, até ao recurso a estratégias de design que induzem comportamentos e escondem propositadamente alternativas, Sanger enumera um por um os pontos que motivam a sua greve; para o filósofo, como para outros geeks conceituados, a forma como as empresas digitais têm crescido e ganho demasiada preponderância no nosso dia-a-dia enquanto indivíduos, comunidades e sociedades merece ser alvo de um maior escrutínio por parte de todos. Em vez do modelo actual, em que a informação de cada indivíduo é rentabilizada sob a forma de um perfil vendido aos anunciantes, estes críticos pedem uma forma diferente de pensar as redes que não as faça depender da recolha exaustiva de informação sobre os utilizadores.
Esta greve, se for bem sucedida, vai mostrar ao mundo – empresas das Big Tech, governos, programadores e utilizadores de redes social – que há uma procura massiva por um sistema em que:
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- Cada indivíduo detenha a sua data. Cada um de nós individualmente a possa controlar, assim como controlamos o nosso e-mail, as nossas SMS ou os nossos blogues. Pode ser totalmente privada, graças à encriptação end-to-end, ou totalmente pública, a escolha deve ser nossa;
- Os media sociais deixem de funcionar como silos e se tornem interoperáveis. Se fizermos um post num serviço, ele deve poder aparecer noutro.
- Em que os serviços de social media se foquem em criar a melhor experiência de utilização no mesmo universo de data.
- Os media sociais acordem e utilizem um conjunto de definições e protocolos comuns. Como os media sociais deviam ter sido desenvolvidos desde o princípio, em vez de serem emparedados em separado, em redes concorrentes.
(Excerto do post no blogue de Larry Sanger, traduzido por Shifter.)
Em termos práticos, Sanger deixa várias ideias: propõe que se invadam as redes sociais com a hashtag #SocialMediaStrike e partilhas do documento; na senda do espírito descentralizado, o filósofo sugere ainda que mais do que partilhar a sua visão, cada utilizador possa adaptar o manifesto, disponível sob licença Creative Commons, dando ênfase aos tópicos que mais interessam a cada um. Para além disto sugere que nos dias da greve se promovam e explorem alternativas de socialização online diferentes.
E para os profissionais da internet deixa várias ideias: os programadores podem fazer bots grevistas que espalhem a mensagem automaticamente, enquanto que webmasters e gestores de propriedades web podem simplesmente alojar cópias da declaração e criar sites de divulgação da campanha para que não seja centralizada em torno de Sanger.
Nós, no Shifter, depois de vermos a Declaração, achámos imperativo falarmos sobre ela, sobretudo porque foca alguns dos pontos que têm feito parte da linha editorial que nos caracteriza. Encriptação, descentralização, software livre e código aberto são algumas das linhas que temos explorado e por que Sanger se bate neste movimento, assim aproveitamos para aqui deixar alguns artigos de referência que te podem ajudar a perceber as motivações para esta greve:
https://shifter.sapo.pt/2019/01/redes-sociais-por-sites-pessoais/
https://shifter.sapo.pt/2018/08/dapps-aplicacoes-descentralizadas/
https://shifter.sapo.pt/2019/02/detox-redes-sociais/
https://shifter.sapo.pt/2018/06/redes-sociais-reflexao/
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