Christian Haas, designer industrial, desenvolve produtos em diversas áreas desde mobiliário, iluminação, porcelana e vidro.
Depois de viver em Paris, Christian mudou-se para o Porto em 2015, onde criou o seu próprio estúdio. A sua abordagem conquistou a nossa curiosidade e assim que conhecemos o seu trabalho, soubemos de imediato que tínhamos de conhecê-lo.
Nesta entrevista, Haas mostra-nos os bastidores do seu processo criativo e a forma como a sua visão tem crescido a partir da sua abordagem a diferentes culturas.
Quando é que descobriu que tinha dentro de si uma veia criativa? E, já agora, qual é a sua definição de ser criativo?
Durante a minha adolescência, em criança não desenhava muito. Devo também admitir que não tenho muito talento para desenhar.
Mas eu tenho muita imaginação. E pouco antes de terminar o ensino secundário tive a ideia de usar essa qualidade de maneira criativa. O design estava a tornar-se um tópico no fim dos anos 90, então decidi concorrer para estudar Design Industrial em Munique e fui aceite.
Ao longo do seu percurso, trabalhou com marcas reconhecidas como a Villeroy & Boch, Rosenthal and Karakter e a sua peça Ropes encontra-se na colecção permanente do Vitra Design Museum. De que forma se inicia o seu processo criativo?
Como trabalhamos em diferentes áreas do design, depende do projecto e do cliente. Frequentemente desenvolvemos conceitos para marcas mais comerciais, as quais possuem um grande departamento de marketing, que sabem onde vêem a sua marca daqui a 5 ou 10 anos e em que direcção querem crescer. Nós recebemos briefings bastante precisos e normalmente trabalhamos de acordo com esses mesmos briefings.
Trabalhamos também com galerias de arte e com marcas mais pequenas, nas quais sugerimos algumas propostas a partir da análise dos seus portefólios.
No princípio começámos por trabalhar apenas com porcelana mas passados seis ou sete anos, torna-se exaustivo ter novas ideias a partir do mesmo material. Tentei alargar a nossa gama de produtos, uma vez que a parte boa de ser designer é poder enriquecer o nosso portefólio. Conhecer novas técnicas, explorar novas texturas e novos materiais é entusiasmante.
Ao mesmo tempo, trabalhar de perto com produtores e fabricantes enriquece, por norma, o produto final e torna-se muito interessante ter opiniões externas.
Como é que o seu processo criativo tem evoluído ao longo do tempo?
Em primeiro lugar fui ficando mais relaxado durante o processo de design, não estou tão ansioso agora. Tenho sido uma mente aberta e muitas vezes acontece alguém ter uma ideia do que quer e dizer-me: “eu quero isto, estás interessado em trabalhar dentro deste conceito?”, e eu estou sempre interessado. Há algumas coisas pelas quais não me interesso sempre, mas tenho tendência a pensar “isto pode ser um desafio” ou “isto pode ser interessante”.
Acho que evoluí mais nesse sentido socialmente desde que estou em Portugal uma vez que tenho mais espaço e uma equipa maravilhosa: o Rúben e a Sónia, que trabalham comigo desde o início aqui no estúdio e agora somos mais como membros da mesma equipa.
Quão impactante são as ferramentas de trabalho que utiliza no seu processo criativo diário?
Não sou muito apegado a nenhuma ferramenta em particular. Não preciso de um lápis especial ou de um caderno de desenho específico.
Se tenho uma ideia ou quero expressar alguma coisa, uso o que está perto de mim para levar a minha ideia ao papel ou à forma.
Neste assunto sou muito relaxado. Nas minhas viagens, por vezes, faço um esboço em papéis aleatórios, tiro uma foto e envio para minha equipa.
Normalmente nem sequer viajo com um laptop, levo apenas o meu iPad.
Quanta liberdade pensa que o facto de ser criativo lhe dá?
Sinto-me bastante privilegiado em trabalhar como criativo em diferentes campos do design. Ter a oportunidade de trabalhar com diferentes clientes, materiais e novos fornecedores é exigente, mas também libertador.
Não me sinto escravo do meu trabalho. Adoro o que faço. Depois de todos estes anos, sinto-me sortudo por ter a liberdade de escolher no que trabalhamos. Não consigo imaginar ser mais privilegiado a trabalhar noutra área.
Sente que a sua abordagem a outras culturas permitiu o crescimento da sua visão?
Sim, definitivamente! Viajo com os olhos bem abertos e absorvo tudo como uma esponja. Isso ajuda-me a expandir a minha imaginação.
Com o tempo, o nosso estilo ficou mais refinado e tentamos criar uma determinada linguagem, o que faz com que as peças sejam reconhecidas como nossas, mesmo tendo diferentes funções. A nossa abordagem está mais relacionada com a beleza e com a longevidade do objecto.
Um produto não deve ser demasiado óbvio. A sua beleza deve prevalecer ao longo dos anos. Se um cliente sentir uma conexão com um produto, irá mantê-lo. A meu ver, esta é também uma forma de agir sustentavelmente.
Quais são alguns dos maiores desafios dos seus projectos e como é que procura uma solução para eles?
Como trabalhamos em diferentes campos do design, todos os projectos têm as suas próprias dificuldades.
O principal desafio é encontrar uma solução convincente, nova e duradoura para a tarefa que nos é proposta. Aqui no estúdio temos padrões bastante altos quando se trata de um produto.
Os desafios também são imprevisíveis, não há projectos iguais. Às vezes os briefings são complexos e esperamos que o desenvolvimento seja demorado e, no final, é surpreendentemente rápido. Outras vezes acontece o oposto e um simples castiçal acaba por ter um longo e infindável desenvolvimento devido a problemas na produção.
Como é que organiza o seu espaço de trabalho?
O nosso escritório é bastante espaçoso, ocupa todo o primeiro andar do prédio, existindo espaço suficiente para trabalharmos em paz.
Temos uma biblioteca/sala de reuniões, na qual estamos agora a falar. Aqui estão reunidos livros e revistas para que nos possamos inspirar sem acesso a computadores. A sala principal é grande e tem um espaço fechado para armazenamento de modelos, amostras de empresas com quem trabalhamos e objectos aleatórios que adquirimos, que nos despertam interesse por alguma razão. Nesta sala também guardamos objectos desenhados por mim ao longo destes quinze anos. O Rúben e a Sónia trabalham nesta sala, a maior parte do tempo nos seus computadores, mas também a desenhar e a construir inúmeros modelos pequenos em papel e espuma. A minha sala tem ligação ao jardim e é muito luminosa. Para mim, o meu verdadeiro luxo é poder sair e beber um café no exterior.
Em geral, o estúdio funciona de forma muito interactiva, falamos e discutimos imenso. Distribuir o trabalho e discuti-lo dias depois não é a nossa forma de trabalhar. Estamos constantemente a partilhar pensamentos e acredito que isso torna-nos mais eficientes.
Mishmash Creatives é uma série criada entre o Shifter e a marca de material de escritório minimalista Mishmash que procura perceber como é o trabalho de designers e de criativos portugueses ou residentes em Portugal, e como eles usam os produtos da Mishmash.
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