Hoje é dia 1 de Julho de 2019 e, simultaneamente, o primeiro dia da semana, segunda-feira. Uma curiosidade como esta pode passar despercebida à maioria das pessoas mas para quem trabalha, como nós, numa área intimamente ligada ao tempo parece fazer algum sentido – parece até lógico que o dia 1 seja segunda, ou talvez domingo, embora nunca tenhamos pensado muito sobre isso. A verdade é que socialmente já nos habituámos ao calendário como ele e aprendemos a lidar com as suas flutuações sem o questionar muito, contudo nem sempre foi assim e no futuro, com certeza que todas estas convenções poderão ser desafiadas.
Actualmente regemo-nos pelo Calendário Gregoriano, adoptado em meados do Século XVI, que determina que cada ano civil composto por 365 dias se divide por 12 meses com duração intermitente (30 ou 31 dias) com excepção para Fevereiro, mês com apenas 28 ou 29. Determinado pelo Papa Gregório (daí o nome), o calendário vigente tem origem na antiga Roma, sendo uma melhoria do anterior Calendário Juliano (Júlio César) em vigor desde 46 a.C., e foi alvo de discórdias fundadas religiosamente; demorou cerca de 3 séculos até que fossem aceite pela maioria dos países e ainda hoje falta uma lógica absoluta que o justifique, pelo que as tentativas de o melhorar se sucedem.
É no alinhamento desta premissas que encontramos uma ideia disruptiva, que se calhar nunca te tinha passado pela cabeça: criar um calendário lógico e previsível. Em 1745, numa edição da revista The Gentleman’s Magazine, um professor norte-americano, propôs uma das primeiras sonantes alterações ao calendário, tornando-o fixo, com 13 meses de 28 dias cada, totalizando 364 dias.
A ideia não ganhou tracção, mas nem por isso desapareceu. Mais tarde, foi August Comte, filósofo francês, a recuperar a sua lógica e a dar-lhe nova vida. Comte propôs o calendário positivista, com a mesma lógica de divisão de dias e a assunção de um dia neutro para que a soma voltasse a totalizar os 365 e, ainda, de outro dia neutro intermitente para o caso dos anos bissextos. Estes seriam uma espécie de feriados, o primeiro considerado a festa universal dos mortos e o segundo dedicado às mulheres. Estas propostas incluíam também a mudança dos nomes, deixando de os ligar a deuses do ideário romano como actualmente. Comte e o calendário positivista propunha mesmo que cada dia fosse associado a um homem que se tivesse destacado, pelo bem ou pelo mal, criando uma espécie de registo histórico indelével.
Anos mais tarde, no início do século XX, o tema voltou à baila. Desta vez, foi Moses B. Costworth a sugerir a reforma seguindo a linha do calendário fixo, numa proposta que conseguira mais aceitação que as anteriores. Costworth chamou-lhe o Calendário Fixo Internacional e propôs que o novo mês fosse adicionado entre Junho e Julho e nomeado Sol, numa referência óbvia. Como os calendários anteriormente referidos, o Calendário Fixo Internacional contemplava apenas 28 dias em cada um dos 13 meses, e deixava ficar de fora o 365º dia de cada ano. Neste caso seria celebrado no final de Dezembro, mas excluído da contagem semanal.
Para anos bissextos, Moses propunha que se adicionasse um dia entre Junho e Sol (sim, Sol) também ele fora da lógica semanal. A lógica utilizada para considerar o ano bissexto era a semelhante à utilizada pelo calendário gregoriano (anos divisíveis por 4, não divisíveis por 100). Uma diferença essencial é que o Calendário Positivista propunha o começo dos meses à segunda enquanto que o Calendário Fixo propunha que fosse ao domingo.
Apesar da lógica inerente aos calendários referidos nenhum deles teve aceitação massiva e muito menos política. Ainda assim, a proposta de Moses B. Costworth teve uma aplicação prática. George Eastman, fundador da conceituada Kodak, foi um apoiante de Moses na sua iniciativa e adoptou o calendário na empresa que fundara, entre outros esforços que fizera para, por exemplo, convencer o clero local a subscrever igualmente a ideia.
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