Letras de músicas foram desde sempre na internet uma pesquisa recorrente. Os ouvintes deixavam de estar dependentes de ter acesso ao CD físico e respectivo booklet para conseguir compreender o que artista dizia. Nasceu, assim, uma oportunidade a explorar, que sites como o velhinho Vagalume aproveitaram e bem. Numa segunda geração, para além das letras, os utilizadores – inspirados pela proximidade aos artistas e a facilidade de comunicação – começaram a querer saber também o significado de cada letra e aí surgiu, entre outras, a disruptiva plataforma Genius.
Focada inicialmente no estilo rap, o Genius oferecia letras com anotações (algumas delas feitas pelos próprios artistas), em que as barras mais complexas eram reduzidas ao seu significado essencial. Desde 2009 que a plataforma se tem mantido como inovações constantes e alargando o seu espectro de conteúdo; para além das letras agora tem também vídeos onde os artistas explicam na primeira pessoa frase a frase, verso a verso.
Contudo, recentemente a plataforma detectou uma ameaça ao seu negócio criada pela Google: ao pesquisar pela letra de uma música no motor de busca deixa de ser necessário entrar numa página onde essa letra se encontra; o próprio Google oferece de imediato, nos resultados, um cartão com essa informação. Esta estratégia fez reduzir o número de visitantes da plataforma Genius e deixou os seus responsáveis com uma questão: será que a Google nos está a copiar as letras para servir na sua plataforma?
Com essa questão em mente e procurando obter uma resposta, o Genius desenvolveu uma armadilha genial, criando uma espécie de código escondido em cada letra. Para o efeito quando carregavam uma nova letra para o seu portal, os responsáveis do Genius criavam um padrão entre a utilização de dois tipos de apóstrofes, cifrando numa espécie de código-morse as palavras ‘Red Handed’.
Posteriormente bastou à empresa comparar se o mesmo padrão de apóstrofes – rectos e curvilíneos — se mantinha no resultado de pesquisa da Google para confirmar que o seu site seria a proveniência do conteúdo, copiado na íntegra. No total, o Genias Media Group Inc diz ter detectado mais de 100 casos em que isto ocorreu, tendo avisado repetidamente a Google desde 2017 sobre esta prática.
Apesar de este caso ser polémico, na verdade é preciso perceber que a prática da Google não é necessariamente ilegal numa primeira leitura – até porque a empresa sub-contrata o serviço a outras empresas como a LyricFind. Para além disso, a plataforma Genius não é a detentora legal dos direitos sobre as músicas e a questão é sobretudo reveladora no plano ético e concorrencial. A forma como a Google se aproveita do conteúdo que indexa para criar serviços paralelos e concorrentes pode muito bem ser vista como uma prática concorrencial à margem da lei; contudo, como se percebe este é um caso que envolve mais do que as duas empresas.
1: Google scrapes & republishes https://t.co/B8eAvFMYUv's lyrics in full in the SERPs
2: Genius tells Google to quit it
3: Google denies & ignores
4: Genius puts "red handed" in Morse code of their apostrophes
5: Proof is in the SERPs. And now in the WSJhttps://t.co/D2Hptz4jCT pic.twitter.com/29PEe5ud52— Rand Fishkin (@randfish) June 16, 2019
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