Se é uma exposição… provavelmente não é de Banksy, é sobre Banksy

Se é uma exposição… provavelmente não é de Banksy, é sobre Banksy

7 Junho, 2019 /
"Rude Copper - Banksy" by vandalog is licensed under CC BY-SA 2.0

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A partir do próximo dia 14 de Junho a Cordoaria Nacional será a casa da exposição “Banksy: Genious or Vandal”, a primeira grande mostra em Portugal SOBRE o iconoclasta britânico.

Nos últimos tempos Banksy tornou-se um nome acima da própria categoria da arte que pratica. O seu estilo próprio, o mistério em torno da sua identidade e a conotação política e progressista de quase toda a sua obra fez dele um dos artistas mais marcantes da contemporaneidade e, por conseguinte, um nome muito popular e… populista — num sentimento livre do termo.

O nome Banksy, mais do que propriamente a sua obra, tornou-se num chamariz muito apetecível do ponto de vista comercial. O próprio parece ter-se apercebido disso; em criações como o Dismaland ou o Bethlem Hotel, subverte esse hype, confrontando os visitantes com obras de artes frontais, directas e a certo ponto desconfortantes — um hotel num local de conflito, uma Disneyland da decadência — em que permanecem intactas as principais características da sua personalidade artística, como o poder do anonimato, a relação com o contexto do próprio espaço real e a irreverência da espontaneidade com que muitas vezes surge sem anúncio nem convite.

Contudo, não foi só o próprio artista que se apercebeu do chamariz em que o seu nome se tornara; nos últimos anos sucedem-se as exposições “de Banksy” sem que este tenha autorizado. Em 2014, a conceituada leiloeira Sotheby’s organizou uma mostra de obras do artista, em jeito de retrospectiva. Ainda este ano passou por Portugal um conjunto de fotografias de obras dos artista, promovido sobre o título de primeira grande exposição de Banksy, e agora, a produtora Everything is New acaba de anunciar mais uma “primeira grande exposição de Banksy”.

 

A primeira organizado por Barry Cawston tratava-se de uma exposição de fotografias da obra de Banksy, da Dismaland até à rapariga do Balão. Esta segue mais ou menos o mesmo princípio revestindo-se apenas de um convite à reflexão trazido para o título: será Banksy um vandalo ou um génio?

À partida tudo normal e mesmo assim o interesse parece mais ou menos consensual, contudo, lendo para além do headline percebemos que provavelmente as promotoras destes eventos se aproveitam da ambiguidade da linguagem para uma questão de marketing. Se uma exposição de Banksy se devia centrar na sua personalidade artística, a verdade é que esta não tem a sua autorização, nem é por ele pensada, algo que vai contra a sua essência radical e inusitada. De resto, foi o próprio Banksy que no seu instagram publicou um excerto de uma conversa onde revelou a pouca piada que acha a exposições deste tipo.

Ainda assim, como o próprio Banksy diz, e mantendo a ideia de que o seu espírito deve ser coerente, um artista habituado à transgressão não tem propriamente moral para acusar os outros de transgredir sobre a sua obra. Quando muito pode, como fez, mostrar-se descontente. Quem deve reflectir sobre isto e escamotear a publicidade feita em torno do seu nome é quem se identifica com o artista e visita a exposição.

Se Banksy é sinónimo de transgressão e de presença inusitada, uma tour expositiva não parece propriamente o contexto em que este se procura enquadrar.

Para um verdadeiro apreciador ou mesmo para o comum é bom que se estabeleça a diferença entre as propostas, porque só isso valoriza a perspectiva do artista. Uma exposição de Banksy, atendendo ao seu trabalho, pressuporia uma curadoria completa, um pensamento único e dedicado à exposição e, muito provavelmente algumas peças novas, convidando a reflexões pertinentes naquele espaço e naquele momento.

Alexander Nachkebia, organizador da exposição em Moscovo, em declarações ao The Art Newspaper desvalorizou a polémica, sublinhando a pertinência da exposição e a exibição de 30 obras originais. Nachkebia acrescentou ainda que a maioria das peças foram conseguidas com o apoio da Lilley Fine Art/Contemporary Art Trader, uma agência especialista em arranjar obras de Banksy, e que muitas delas são de coleções privadas de pessoas que preferem não ser identificadas.

Organizado pela Everything is New em parceria com a IQ Art Management e Sold Out, “Banksy: Genious or Vandal” chega a Portugal precedida por um sucesso sem precedentes em Moscovo, São Petersburgo e Madrid, onde foi visitado por mais de 600.000 pessoas.

A partir do próximo dia 14 de Junho a Cordoaria Nacional será a casa da exposição “Banksy: Genious or Vandal, a primeira grande mostra em Portugal SOBRE o iconoclasta britânico que revolucionou a arte contemporânea e cuja identidade permanece uma incógnita.

Autor:
7 Junho, 2019

O João Gabriel Ribeiro é Co-Fundador e Director do Shifter. Assume-se como auto-didacta obsessivo e procura as raízes de outros temas de interesse como design, tecnologia e novos media.

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