Olá, eu sou o Jorge Félix Cardoso e esta é a última edição do Qu’ouves de Bruxelas, uma newsletter para acompanhar a campanha das Europeias 2019.
O Qu’ouves de Bruxelas foi um espaço sensivelmente semanal que olhou para o trabalho do Parlamento, para os vários Estados-Membros, e para a relação da União com o Mundo, tentando contribuir para uma discussão informada e um voto esclarecido no dia 26 de Maio de 2019. E este que aqui vos deixo é o último episódio.
O trabalho do Parlamento e das instituições
A Comissão Europeia multou três grandes bancos por fazerem malandrices com os câmbios. O valor? Ligeiramente acima dos mil milhões de euros.
O Tribunal de Justiça da União anulou o bloqueio da Comissão a uma questão de política fiscal na Polónia. É o Estado de Direito a funcionar.
Vestager voltou a fazer das suas, e desta vez foi com cerveja.
Mais recomendações económicas da Comissão à Itália. Mais avisos sobre corrupção à Roménia. Mais puxões de orelhas à Hungria pela forma como tem tratado seres humanos – nomeadamente, deixar 21 pessoas presas a passar fome.
Em semana de grandes tensões na política externa, sobretudo devido ao conflito EUA-Irão, a UE assegurou que a compra de armas aos EUA não está em risco.
A resposta das redes sociais aos problemas identificados continua fraca.
Um quem é quem europeu?
Não sou só eu a despedir-me. Um dos titãs da política europeia vai finalmente reformar-se. Falo, obviamente, de Jean Claude Juncker. O João Diogo Barbosa conta-vos a história de uma carreira que marcou o projeto europeu.
Os Estados-Membros e as eleições
Como habitual, uma sondagem geral:
Pudemos ouvir algumas propostas no debate entre candidatos à Presidência da Comissão Europeia. Relatos no Expresso, no EUobserver.
Manfred Weber quer que, tal como no mundo analógico, também no mundo digital seja obrigatório revelar a identidade para interagir.
Um perfil de Timmermans do Politico, um perfil de Nico Cue no EUobserver.
Ainda assim, o que se prevê é que seja novamente um exercício pouco participado e uma oportunidade de debate desperdiçada. O Economist escreve assim: “Surpassed only by polls in India, the European Parliament elections are the second-largest democratic exercise in the world. But that does not mean the electorate much cares about the personalities concerned, such as they are. Indeed, many hardly care about the elections’ actual results at all, seeing them more as a way of affirming likes and dislikes based squarely on their own national politics.” Igual em todo o lado, portanto. Ou quase todo.
Como vai tudo por cá?
Eu já votei. Infelizmente, o que me apeteceu durante muitos momentos desta campanha foi mesmo não ir votar, ou escrever “circo” no boletim de voto. Aquilo a que se assistiu na primeira semana de campanha foi… o costume. Digno de uma outra era, não de uma campanha em 2019. Compilei algumas ferramentas para acompanhar a campanha nacional. Um dos temas mais falados (infelizmente, é claro) foi mesmo o acidente dos líderes do partido Aliança, o que diz muito sobre a riqueza (alerta ironia) das declarações partidárias.
Fica aqui a última sondagem, que diz mais do mesmo.
E lá por fora?
Comecemos com uma gargalhada. “The government’s alternative to austerity explains why Portugal is almost alone in not facing a challenge from far-right populists in the May 26 vote, Marques told reporters last week.” É o perfil alucinado de Portugal feito pelo Politico.
A Rita Siza foi ver os programas dos principais partidos políticos europeus… e não encontrou tantas diferenças como seria de esperar.
Na Alemanha, a realidade é madrasta e obriga a considerar a migração como uma vantagem. Que leis laborais desenhar para acomodar essa alteração?
O Leste da União será um dos palcos a observar com muita cautela. “A Polónia é um laboratório para toda a Europa”, diz-nos Jorge Almeida Fernandes. A Bulgária acaba de sofrer mais um escândalo de corrupção.
Adivinhem quem foi que compareceu a menos de 2% das votações do Senado e trabalhou apenas 17 dias completos em quatro meses de Governo? Matteo Salvini. Ele até pode não trabalhar muito, mas quer ser líder dos fachos, perdão, do grupo da extrema-direita do Parlamento Europeu.
O pós-eleições e as últimas leituras longas
Quem vai liderar as instituições? Que equilíbrios políticos vão transformar a União?
“Não disponível para qualquer cargo público.” Quem disse? Angela Merkel.
Um artigo no EUobserver tentou uma análise do assunto.
Será que é desta que resolvemos a desigualdade de género que se pode observar nos cargos cimeiros das instituições europeias? O Politico pensou em 14 mulheres para as lideranças (alerta: contém portuguesas); a Bloomberg pensou em 10 para o Banco Central Europeu. Atenção a Kristalina Georgieva, CEO do Banco Mundial.
Uma legislatura depois, continua sem solução à vista o problema da anexação da Crimeia. Como evoluirá a relação com o urso a leste? Podemos tirar algumas conclusões olhando para o Conselho da Europa.
Como lidar com os gigantes tecnológicos que controlam o que lemos, a forma como podemos interagir, aquilo que valorizamos, e que têm acesso quase ilimitado aos nossos dados? “It’s time to break Facebook“, diz um dos fundadores do próprio.
E a inteligência artificial? Servirá a Humanidade, ou servir-se-à dela? A França quer usar a presidência do G7 para discutir isso.
O que fez desaparecer o centro-esquerda? Não, não foram as migrações, diz-nos Cas Mudde.
Qual a relação entre a crise climática e a indústria têxtil? Esta será uma preocupação da Comissão na próxima legislatura.
Como agir num mundo onde Estados Unidos e China lutam pelo domínio da política e da economia? O Economist tem um relatório grande sobre essa luta.
Que relação deveremos ter, não só com África, mas também com as Caraíbas e com o Pacífico? Uma reflexão sobre o assunto.
A despedida
Espero que tenham gostado desta viagem no Shifter. Continuarei a acompanhar a política europeia em @jfelixcardoso, mas esta newsletter vê aqui o seu fim. Obrigado por me terem estado desse lado, e não se esqueçam de ir votar na Europa que querem construir.
(Nota: esta última edição foi escrita enquanto me encontro em trabalho a tratar de outros assuntos. Sei que vos habituei mal, e por isso peço desculpa. Esta edição tem ligeiramente menos links e sugestões.)
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