Qu’ouves de Bruxelas: aos seus postos… partida!

Qu’ouves de Bruxelas: aos seus postos… partida!

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13 Maio, 2019 /

Índice do Artigo:

Olá, eu sou o Jorge Félix Cardoso e esta é a sétima edição do Qu'ouves de Bruxelas, uma newsletter para acompanhar a campanha das Europeias 2019.

Olá, eu sou o Jorge Félix Cardoso e esta é a sétima (e penúltima) edição da Qu’ouves de Bruxelas, uma newsletter para acompanhar a campanha das Europeias 2019.

O Qu’ouves de Bruxelas é um espaço sensivelmente semanal que olhará para o trabalho do Parlamento, para os vários Estados-Membros, e para a relação da União com o Mundo, tentando contribuir para uma discussão informada e um voto esclarecido no dia 26 de Maio de 2019, data em que esta newsletter terminará.

O trabalho do Parlamento e das instituições

O ponto alto da semana foi, obviamente, a cimeira informal entre líderes europeus. Os relatos sobre a patuscada europeia em Sibiu, no belo Dia da Europa, são muitos: do Politico, do EUObserver, do Público, do Guardian, do Expresso.

A corrida para encontrar os próximos líderes europeus está lançada. Detalhes a ter em conta: nem todos concordam com o método do Spitzenkandidat, mas Tusk parece dar a entender que favorece o processo. Vários jogam cartadas, com Espanha a ter um papel ambicioso. Tudo se começa a decidir formalmente a 28 de Maio. O aviso, contudo, já ficou registado: vai ser difícil haver equilíbrio de género. A Bloomberg pensa o mesmo. E os não-spitzen vão-se preparando

Entretanto, um grupo de oito países (Portugal também) decidiu aproveitar Sibiu para pedir 25% do orçamento da UE dedicado ao combate às alterações climáticas. Merkel concorda. Só lhes falta um para a cooperação reforçada…

Mogherini, a nossa “Ministra dos Negócios Estrangeiros” europeia, tenta manter vivo o acordo de não-proliferação com o Irão, apesar da crescente pressão de Trump. As partes “europeias” emitiram uma forte declaração. O Irão ameaça rasgar o acordo caso não haja ajuda da UE. O Irão acaba mesmo por rasgar parte do acordo. A UE dá tudo para o salvar, mas falha. EUA e China travam uma guerra comercial sem dar quaisquer satisfações aos europeus. No Ártico os países europeus não conseguem pôr as alterações climáticas na agenda. E a Turquia viola a zona económica do Chipre… sem grandes consequências. Ainda achamos que não é preciso a UE ter uma voz forte na política externa, ou já acordamos?

O Juncker diz que a culpa de a reforma da zona euro não avançar é dos amigos do Norte.

A UE lançou uma investigação à Apple por práticas injustas na sua App Store. O Spotify foi quem se queixou.

A luta para acolher a nova Autoridade Europeia do Trabalho está quente. Ouviram falar disso em Portugal? Não, pois não? Importante mesmo era a Agência do Medicamento, agora as próximas já não interessam.

Um quem é quem europeu?

Esta semana, algo diferente. O Financial Times lembra a forma alucinante como Barroso foi eleito. Vale a pena ler a descrição de um almoço em Lisboa. Neste artigo ficam a conhecer alguns dos “players” da UE. Também por aqui se vê como os nomes continuam semelhantes àqueles que, em 2004, decidiam.

Os Estados-Membros e as eleições

Como habitual, uma sondagem geral:

Em Portugal, mais debates. Na segunda passada, novo debate na SIC, desta feita com os partidos “pequenos”. Apesar de termos voltado a ter uma moderação fraca, ficou patente que alguns – chamando os ditos pelos nomes, IL, Livre, Aliança – merecem lugar à mesa dos grandes.

Grandes que, no dia seguinte, mostraram que não merecem lugar nem à mesa dos pequenos. Num debate na TVI24, bem conduzido em termos temáticos, sobressaíram os atropelos, as picardias, o desrespeito pelos eleitores. Tudo fica bem resumido numa frase de Marisa Matias, que na fase final do debate afirmou ter “vergonha” da figura feita ali por atuais e futuros eurodeputados.

Acompanhei esses dois debates, bem como um na redacção do Público e um duelo Marques/Rangel, no Twitter (SIC, TVI24, Público, RTP).

No Reddit português têm sido organizados AMAs com os 17 partidos portugueses presentes nestas eleições europeias. Quatro das 17 forças políticas já aceitaram debater, há mais dois interessados. Os restantes 11 partidos portugueses não responderam aos convites.

Falei com o Público no podcast P24. Levei comigo a Mafalda Dâmaso para uma conversa sobre clima, cultura e tecnologia. (O Público tem agora uma secção para as europeias, financiada pelo Parlamento Europeu.)

A imprensa portuguesa pediu ao VoteWatch alguns dados sobre eurodeputados na legislatura 2014-2019. José Manuel Fernandes (PSD, PPE) é considerado o eurodeputado português mais influente da legislatura. Os dados completos podem ser consultados aqui.

Já conhecem o Pacto Simone Veil? “Ce Pacte inclura les droits sexuels et reproductifs, la lutte contre les violences sexistes et sexuelles ou les progrès en direction de l’égalité salariale.”

Em Espanha, Puigdemont vai mesmo concorrer às europeias, diz um tribunal espanhol.

Em França, pela primeira vez uma sondagem mostrou Le Pen à frente de Macron. A confirmar-se, é talvez a estocada final na ideia do menino promessa do Renascimento Europeu, que esta semana apresentou o seu programa. Imposto sobre as grandes tecnológicas, exército europeu, direito de iniciativa para o Parlamento, repatriamento de migrantes, Banco Europeu do Clima… uma salada de frutas ideológica. E está a constituir grupo parlamentar.

Em Itália, Berlusconi sai do hospital mas parece continuar doente: agora quer aliar-se a Orbán e Salvini, apesar de pertencer ao PPE.

Na Hungria, esse mesmo Orbán continua, sem qualquer pudor, a sua campanha anti-UE, e , spitzenkandidat do seu partido europeu (do qual está suspenso até Outubro). O PPE continua a ladrar muito e a morder pouco.

Na Áustria, Kurz pede revisões dos tratados. Uma opinião sobre isso.

Na Croácia, membro mais verdinho da UE, o amor ainda está para durar – querem juntar-se a Schengen e ao Euro.

Na Macedónia, país candidato a membro da UE, ganhou as presidenciais Stevo Pendarovski, pró-UE. Um passo mais próximo de ser membro. Membro, já agora, é o que Erdogan continua a dizer que a Turquia quer ser.

E do Brexit, ainda se lembram? Curiosamente, parece que os britânicos já têm saudades de uma colaboração que ainda não chegou verdadeiramente a ser rompida. E internamente, já se entenderam? May parece ter a partida anunciada, segundo algumas fontes.

A próxima semana

Os representantes da política externa europeia – os ministros dos negócios estrangeiros nacionais – estarão reunidos com Arménia, Azerbaijão, Bielorrússia, Geórgia, Moldávia, e Ucrânia. É hoje, segunda, em Bruxelas.

Também nesse dia, Mogherini irá reunir com o representante líbio reconhecido por si e pela ONU, Fayez al-Sarraj, para procurar evitar maior caos na guerra civil Líbia.

Ainda na segunda, os MNEs discutirão os problemas da Venezuela e a ameaça de sanções, vindas dos EUA, a empresas europeias que tenham negócios em Cuba.

No dia seguinte, juntam-se-lhes os ministros da Defesa para resolver algum do caos que se tem vivido nas missões da União na região do Sahel.

(Mais uma vez, como se vê, o que domina a agenda da UE é a política externa, mas é isso que não se discute nas campanhas).

Começa a campanha eleitoral. É aproveitar para sacar respostas a quem tem de as dar. Não deixemos as perguntas importantes por fazer, não esperemos que os candidatos as façam uns aos outros.

O panorama é negro, mas não é de agora, como bem lembrou a Teresa de Sousa num excelente artigo para o Público. Há até quem ache que não há motivo para recear os eurocépticos.

Por fim, umas leituras mais longas

O Financial Times divertiu-se a listar as datas cruciais para definir os próximos líderes da UE.

Os Países Baixos publicaram a sua visão de longo prazo para a UE. Talvez não fosse mau ler o que os outros querem para o nosso futuro colectivo. Só quando nos conhecermos melhor poderemos ter uma UE mais oleada.

“Gastem o dinheiro, ou ele será gasto pelos populistas.”

As start-ups são todas fixes, mas algumas são mais fixes que outras. E parece que ninguém quer investir naquelas de que realmente precisamos.

Por fim, o poderoso testemunho de Zeid Ra’ad Al Hussein, antigo Alto Comissário para os Direitos Humanos da ONU, sobre a fragilidade moral dos nossos líderes.

 

(Nota: esta é a sexta edição de Qu’ouves de Bruxelas. Se gostaram, subscrevam e partilhem com os vossos contactos. E, no dia 26 de Maio, votem.)

Autor:
13 Maio, 2019

Estudante perpétuo, atualmente a completar o curso de Medicina na U.Porto e o mestrado em Filosofia Política na U.Minho. Apaixonado por perguntas e desconfiado das respostas. Ávido leitor, criador das newsletters "Qu'ouves de Bruxelas" e "Ementa do Jorge". Investigador do AI4Health, CINTESIS. Co-fundador do FÓRUM Diplomacia da Saúde. No Twitter em @jfelixcardoso.

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