Olá, eu sou o Jorge Félix Cardoso e esta é a sexta edição do Qu’ouves de Bruxelas, uma newsletter para acompanhar a campanha das Europeias 2019.
O Qu’ouves de Bruxelas é um espaço sensivelmente semanal que olhará para o trabalho do Parlamento, para os vários Estados-Membros, e para a relação da União com o Mundo, tentando contribuir para uma discussão informada e um voto esclarecido no dia 26 de Maio de 2019, data em que esta newsletter terminará.
O trabalho do Parlamento e das instituições
A semana começou com o lançamento de um relatório da Comissão sobre as conquistas do mandato que agora acaba e as necessidades da União no próximo mandato. O Politico achou que é o Juncker a querer moldar a política europeia por mais alguns anos – ele que está triste porque perdemos a nossa libido colectiva. Na próxima semana há cimeira europeia – mais sobre isso daqui por uns parágrafos.
Celebraram-se 15 anos da adesão de 10 países à UE, um grupo que conta, hoje, com a maior parte dos infractores das regras básicas de convivência democrática na UE. Este artigo fala sobre a divisão Este-Oeste que nunca se esbateu e propõe formas de o combater.
5G. Sim, outra vez o 5G. É cada vez mais claro que será um assunto chave da próxima legislatura (e que vai definir a nossa qualidade de vida, com ou sem liberdade). A New Yorker explica o que está em causa. O Economist tira ilações políticas.
“Usually the collapse of empire means the collapse of civilization. Europe managed to do the opposite: to preserve the reality and burnish the image of its civilization despite the collapse of its empires.” Uma visão diferente sobre a construção europeia pela caneta do Timothy Snyder.
A Apple gasta um milhão por ano (mais do que o valor que faz cair governos em Portugal) a fazer lobby em Bruxelas. Este é um dos resultados.
O Facebook tem um pequeno quartel a monitorizar a informação que dissemina. O Público foi lá ver. O Politico também. Spoiler alert: monitorizar o tanas.
Um quem é quem europeu?
Um pouco de história, com a ajuda do Observador. Conheçam os anteriores comissários que enviou para a Comissão, antes da era do actual e muito elogiado comissário português, Carlos Moedas.
Os Estados-Membros e as eleições
Como habitual, uma sondagem geral:
Comecemos lá por fora, onde se discute Europa sem rodeios. Houve dois grandes debates entre os Spitzenkandidaten. Na segunda-feira, em Maastricht, o Politico juntou Timmermans, Verhofstadt, Tomic, Eikhout e Zahradil para debate três grandes temas: tecnologia, desenvolvimento sustentável, e o futuro da UE. É um debate que devia ser condição necessária para poder votar, pela forma como esclarece as grandes questões e a abordagem de cada força política europeia a cada uma delas – embora não seja muito útil para as diferenciar. Também o EUObserver juntou umas opiniões. Da minha parte, destacaria a tentativa de Timmermans de começar a formar uma geringonça europeia com esquerda europeia e verdes.
Na quinta-feira, em Florença, desta vez com Weber mas sem Tomic ou Zahradil, novo debate. Desta vez, com menos tecnologia, mas acrescentando migrações, segurança e política externa. O Politico deixa quatro notas sobre o debate. As minhas seriam: o ALDE não volta como grupo parlamentar; Weber é incapaz de falar consistentemente sobre clima; Verhofstadt assume o papel de federalista por inteiro.
O Weber lançou o seu manifesto e o Politico olhou para ele.
A corrida para presidente do Parlamento começa a ter candidatos apontados. Felizmente, começa por ter candidatas. A UE precisa de mulheres, e McGuinness pode bem ser uma excelente líder do Parlamento Europeu.
E por cá? Esta semana dediquei-me também a assistir a debates nacionais, presencialmente e na TV. “Debates”, na verdade. Os debates mais pequenos conseguem acabar por ser mais interessantes que a espécie de circo televisivo a que gostamos de chamar debates, sem grande razão para isso. Aqui podem ler sobre um debate dedicado à tecnologia; um debate com candidatos jovens; e a minha opinião sobre o desastroso debate da SIC (e aqui, sobre o mesmo tema, com o Diogo Queiroz de Andrade).
A três semanas do dia da decisão, começo a desesperar. O desprezo pelos temas europeus (pode ser também ignorância, não sei o que seria pior) é muito. No final, vão todos criticar a abstenção, como se não tivessem contribuído para que ela fosse novamente gigantesca. E vamos criticar decisões tomadas ao longo do mandato sem que tenhamos feito algum esforço para adivinhar a capacidade dos eleitos. Felizmente, há jovens, muitos jovens, acordados e a fazer a discussão entre eles. Tentei reuni-los nesta rant no Twitter, e aconselho a seguir as suas opiniões – piores que os comentadores da praça não são certamente.
Finalmente temos os programas dos grandes partidos todos disponíveis.
Entrevistas: Carlos Moedas.
Haverá mais debates na TV ao longo dos próximos dias (melhores, espero). O Rúben Martins conta-vos tudo neste texto para o ID-Europa.
O European Parliamentary Forum for Sexual and Reproductive Rights enviou uma carta a Timmermans relatando preocupação com campanhas de financiamento de partidos com agendas restritivas de acesso a saúde e direitos sexuais e reprodutivos.
A EUPHA zela pela nossa saúde e analisou os manifestos dos partidos europeu quanto a questões de saúde pública.
Há umas Qu’ouves atrás falei-vos da agência noticiosa que o Orbán estava a montar em Londres. O The Guardian traz já informação sobre essa tragédia anunciada. Os relatos são trágicos. Os títulos são desinformação pura e o corpo da notícia só está disponível para assinantes. No site não há qualquer informação ou possibilidade de assinar o serviço.
Salvini e Orbán juram amor eterno e prometem trabalhar juntos. Orbán tem, inclusivamente, a lata de dizer que o PPE deveria aliar-se a Salvini – não era ele que estava suspenso? Como é que o PPE se presta a este tipo de figuras? Entretanto, a Le Pen já está em campo e já fez saber que vai juntar-se à aliança da extrema-direita. Juntamente com outros dos seus amiguinhos, vai fazendo campanha por essa Europa, num esforço verdadeiramente transnacional, digno de deixar invejoso qualquer europeísta acérrimo. Aqui um exemplo na República Checa.
Na Estónia, previamente paraíso liberal, estão supremacistas brancos no governo. Quo vadis, Europa?
A próxima semana
Sibiu vai receber os líderes europeus para mais uma cimeira. Objectivo? Assumir compromissos para o Futuro da Europa. Até pensei em aproveitar para criticar a ideia de tomar decisões a 2 semanas de umas eleições europeias, mas depois vi o que o Politico conseguiu arranjar sobre os compromissos a assumir: palavras vagas e pouco mais.
Na terça, Pierre Moscovici, comissário com a pasta da economia, irá apresentar as previsões de primavera, bem como as recomendações e avisos da Comissão.
Por fim, umas leituras mais longas
A lista completa dos documentos lançados pela Comissão para Sibiu.
Um momento WTF para desanuviar.
Uma recomendação realmente longa, mas a melhor de todas: A Capital, de Robert Menasse. Fica aqui a minha espécie de crítica ao livro.
(Nota: esta é a sexta edição de Qu’ouves de Bruxelas. Se gostaram, subscrevam e partilhem com os vossos contactos. E, no dia 26 de Maio, votem.)
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