Por esta altura, em Veneza, decorre uma das bienais de arte mais conceituadas do mundo. Na sua 58ª edição, a Bienal de Veneza continua a encetar esforços por se manter actual dando espaço expositivo a alguns dos projectos de arte contemporânea mais interessantes e intelectualmente desafiantes. Este ano, o tema escolhido para a programação é “Tempos Interessantes” e as obras que nos vão chegando por notícias internacionais mostram como se reflecte no meio artístico sobre os tempos que correm.
Uma das exposições mais marcantes e com maior relação com os dias de hoje tem a assinatura de Kenneth Goldsmith, um artista visual e poeta conhecido pela tendência provocadora que voltou novamente a revelar. Para a Bienal de Veneza, Goldsmith imprimiu, nada mais nada menos, do que os 60 mil e-mails de Hillary Clinton que foram divulgados em sucessivos leaks. A exposição, que conta com os e-mails e uma série de outros trabalhos derivados, foi organizada pelo curador Francesco Urbano Ragazzi e estará patente até Novembro no Despar Teatro.
HILLARY: The Hillary Clinton Emails faz parte de uma série de obras que o artista tem vindo a desenvolver e nas quais procura criar manifestações físicas de fenómenos que tenham marcado o mundo a partir do universo digital. Em 2013, para uma exposição na Galeria Labor, no México, propôs-se a “imprimir a internet”, convidando os internautas a imprimir páginas da web e a enviá-las para a exposição; já em 2014, levou para a galeria Kunsthalle Dusseldorf o caso de Aaron Swartz imprimindo 33 gigas de informação pirateada do repositório JSTOR — a mesma quantidade que valeu Swartz um processo movido pela JSTOR.
As suas obras têm tanto de intrigante como de polémico e, em reacção à criação de 2013, houve até petições online a pedir-lhe que parasse o desperdício de recursos. Contudo, para Goldsmith e como disse em declarações a propósito desta nova criação, trata-se de mostrar fisicamente aquilo que está escondido à frente de todos na internet. Ao criar uma manifestação física para estes documentos extraordinariamente marcantes, Goldsmith pretende chamar à atenção para aquilo que chama “uma espécie de fantasmas” que circulam online.
HILLARY: The Hillary Clinton Emails terá em exibição os e-mails de Clinton que muitos apontam como um dos elementos centrais das eleições que levaram ao poder Donald Trump e uma programação paralela com filmes e poemas recolhidos por Keneth Goldsmith e armazenados no site, que o artista gere desde 1996.
Actualização a 13 de Setembro: Hillary Clinton em visita a Veneza encontrou a obra de Keneth Goldsmith e aproveitou o momento para partilhar uma reação na sua conta pessoal de Twitter.
Found my emails at the Venice Biennale. Someone alert the House GOP. pic.twitter.com/eeXaKhy9Dz
— Hillary Clinton (@HillaryClinton) September 12, 2019
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