Depois de Oxnard, a nova (a)Ventura de Anderson .Paak

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Depois de Oxnard, a nova (a)Ventura de Anderson .Paak

Anderson .Paak volta a dar cartas com novo albúm num registo mais sólido.

São cinco, e apenas cinco, os meses que separam o extraordinário Oxnard do mais recente álbum de Anderson .Paak, Ventura. Tudo começou em Novembro do ano passado, quando o produtor, rapper, cantor e compositor norte-americano nos deu Oxnard, num regresso há muito aguardado desde os tempos de Malibu, aquele que é considerado por muitos o melhor álbum de .Paak.

Oxnard

Oxnard ficou marcado por grandes colaborações, a estreia de Anderson .Paak na Aftermath Entertainment (a editora de Dr. Dre) e uma energia contagiante presente em cada faixa deste álbum. A produção é tudo aquilo que se espera de Anderson .Paak: sonoridades de Funk, Soul, hip hop contemporâneo e R&B, versos recheados de um cariz humorístico e a habitual energia impactante de .Paak, que desta vez contou com a ajuda de Dr. Dre na produção — a “cereja no topo do bolo”. Pusha T, Snoop Dogg, Kendrick Lamar e BJ The Chicago Kid foram algumas das colaborações que marcaram o álbum outro ânimo, com flows exuberantes, melodias que fazem lembrar a era do G-Funk e ritmos groove inseridos em mensagens políticas e sociais. Quem melhor do que Anderson .Paak para nos fazer dançar e cantar efusivamente enquanto nos lembra de temas como a fé, o consumo de drogas, violência armada nas escolas ou até o caso de uma filha fora do casamento que Trump terá tido com uma antiga empregada doméstica.

Uma coisa é certa, com .Paak ganhamos sempre aquela sensação de que a vida merece ser celebrada e deve ser feita “having fun no matter what” , algo que se sente na produção colorida, cinematográfica e vintage, nas letras que ficam no ouvido, nas suas performances ao vivo e na capacidade de nos surpreender a cada momento. Já demonstrou que talento não lhe falta e quem esteve presente na última edição do SBSR pôde comprovar isso, num concerto que quase fez esquecer que o cabeça-de-cartaz era Travis Scott.

A capa de Oxnard

Ventura

Após Oxnard, seguiu-se uma nova (a)ventura. 12 de Abril de 2019 marcou a estreia do quarto álbum de Anderson .Paak, Ventura. O título segue o tema dos álbuns anteriores e leva-nos até à Costa da Califórnia. Ventura é mais uma vez alusivo a uma região do estado norte-americano pertencente a Los Angeles e traz consigo uma sonoridade predominantemente soul.

Trata-se de um álbum consistente, de entretenimento mas que peca por melhorias nalguns aspetos. Ao ouvirmos este álbum notamos que algumas músicas se destacam em relação a outras e a forma como estão colocadas faz com que as transições pareçam estranhas e fora de contexto. Embora na música “Reachin’ 2 Much”, que conta com a participação de Lalah Hathaway e os seus malucos ‘Sa-da-da, da-do-na-da-da-da-dow…’ tenhamos uma sonoridade que nos faz descontrair e apreciar o momento, a mesma acaba por transitar de forma “desconfortável” para a seguinte; em “Winners Circle”, .Paak dá a conhecer as suas perspetivas acerca do sexo feminino e consegue criar um tópico longo acerca disso, tão longo que nem nos apercebemos que de repente já estamos sintonizados na música “Good Hells“, com a participação de Jazmine Sullivan.

Este disco é feito de vários momentos de puro constrangimento, entre eles a música “Chosen One”, que acaba por ser uma montanha-russa onde sentimos os vocals de Anderson .Paak e Sonyae Elise como os momentos altos, mas depois n deparamos com um instrumental que parece estar “desorganizado” e pouco apelativo ao ouvinte. Na música “Twilight”, provavelmente a menos conseguida do álbum, notamos que nem sempre Pharell Williams consegue criar um bom beat e esta música é a prova disso, instrumental facilmente esquecido que faz com que .Paak soe aborrecido num instrumental também ele aborrecido e repetitivo.

Contudo, este álbum é feito de highlights que de certa forma “escondem” algumas das faixas menos surpreendentes que aqui falámos. “Come Home” é uma delas, com sonoridade vintage, acordes de piano “glamorosos”, a presença de um coro de soul que dá umas notas particularmente interessantes e algumas vibes de Oxnard, é um grande começo para o álbum e conta com a participação de Andre 3000 com uma entrega incrível. Na música “King James” temos uma homenagem a Lebron James, jogador da NBA que, devido ao seu sucesso e popularidade tem sido visto como um líder na ajuda à comunidade negra vítima da conhecida opressão que se vive na América. .Paak mostra gratidão por Lebron James e procura louvar este esforço numa tentativa de atrair mais membros para a comunidade. “Jet Black” é outro momento alto; Anderson entra com um bom refrão, mistura de R&B e boa química com uma presença que já não apresentava material novo há mais de 6 anos, falo da cantora Brandy.

A capa de Ventura

O álbum termina assim com uma homenagem a Nate Dogg, rapper, cantor, compositor e ator americano, um dos ícones do hip hop dos anos 90 e que infelizmente morreu a 15 de Março de 2011. Apesar da sua morte, nesta música quase que parece que Nate Dogg está vivo e a colaborar com .Paak no estúdio, dada a forte presença do mesmo na música com refrão e versos que quase dariam para Nate ter uma música completa sem a presença de .Paak.

What can we do? (Yeah, what can we do?)
What can we do? (What can we do, baby?)”

Dada a forte influência de Nate Dogg na sonoridade de Anderson .Paak, esta música acaba por ser “o melhor dos dois mundos” e dá um excelente final ao álbum; percebe-se que dada a importância de Nate Dogg, Anderson .Paak teve especial atenção e cuidado para criar esta música e atingir a perfeição. Cuidado esse que não foi tão percetível no resto do álbum mas que contribuiu para solidificar mais uma vez o legado de Anderson .Paak e provar que, embora Ventura não seja tão surpreendente e criativo como Oxnard, veio para ficar e provar que com o passar do tempo será um clássico do hip hop contemporâneo.

Texto de Bernardo Alves

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