Podemos pensar nos Pirenéus, a cordilheira que separa a Península Ibérica do resto da Europa, como lugar onde a Natureza ainda se sobrepõe à actividade humana. Contudo, de acordo com um artigo científico publicado recentemente na revista Nature, pode não ser bem assim. Um grupo de investigadores de um laboratório francês chamado EcoLab reporta ter encontrado e analisado microplásticos numa “montanha remota e intocada” dos Pireneus, que terão viajado até esse local através da atmosfera percorrendo uma distância até 95 km.
Antes de avançarmos mais neste artigo, convém recordar que microplásticos são basicamente plásticos pequenos, com dimensões inferiores a 5 mm. Por facilmente passarem despercebidos ao nosso olho, foram durante muito tempo um problema escondido mas agora têm vindo a ganhar atenção pública, revelando-se um inconveniente ambiental difícil de quantificar e de resolver. Além de nos Pirenéus, os microplásticos têm sido detectados em lagos, em rios em plena montanha, na poluição atmosférica de grandes cidades e inclusive na água que bebemos – tratada ou recolhida em bebedouros. Muitos desses pequenos plásticos acabam por ir parar aos oceanos, poluindo-os e interferindo nocivamente com a cadeia alimentar das espécies.
A designação ‘microplásticos’ pode dar a entender que são plásticos de pequenas dimensões que foram produzidos assim. Se é verdade que também pode ser esse o caso, geralmente os microplásticos resultam de plásticos maiores ou de produtos que não sendo de plástico contém partículas de plástico, como vestuário. Por isso, os investigadores que estiveram a trabalhar nos Pirenéus tiveram o cuidado de usar roupa de algodão (sem fibras de plástico) e de guardar os resíduos que encontraram em recipientes de vidro. Desse modo, conseguiram também garantir que não estariam a contaminar as amostras no local.
Os cientistas estiveram a trabalhar junto a uma estação meteorológica em Bernadouze, França, a 6 km da vila mais próxima, numa zona de difícil acesso e sem actividade industrial ou agrícola, segundo escreve o Ars Technica. Os microplásticos recolhidos foram transportados até ao local através do vento, da chuva ou da neve. O grupo de investigadores comparou os detritos recolhidos com alguns recipientes fechados encontrados próximo ao local para garantir que na amostra colhida os microplásticos tinham viajado mesmo através da atmosfera. O tipo de plástico que mais encontraram foi poliestireno, seguido de polietileno. Alguns microplásticos terão, como já referido, viajado uma distância até 95 km até àquele lugar montanhoso no meio do nada.
Estima-se que milhões de toneladas de plástico sejam produzidos todos os anos – em 2016, terão sido fabricadas 335 milhões de toneladas de plástico. A quantidade que vai parar à reciclagem e aos aterros não tem paralelo com a quantidade que é produzida anualmente; uma parte mantém-se em uso, outra desintegra-se no meio ambiente e dá lugar aos perigosos e invisíveis microplásticos, com as consequências já referidas.