A linha entre organismos vivos e coisas artificiais ficou mais ténue depois de investigadores da Universidade de Cornell, em Nova Iorque, terem desenvolvido um novo biomaterial que, apesar de não ter vida, é capaz de replicar algumas propriedades que associamos a seres vivos.
O grupo de cientistas criou um conjunto de materiais dinâmicos à base de ADN, o polímero responsável por todos os aspectos da vida, que tem um metabolismo artificial e capacidades de se formar e de se organizar sozinhos, três características-chave de seres vivos. “Estamos a apresentar um novo tipo de biomaterial com o seu próprio metabolismo artificial. Não estamos a fazer algo que tem vida, mas sim a criar materiais que têm mais vida dos que já foram vistos antes”, disse Dan Luo, professor de engenharia biológica e ambiental da Faculdade de Agricultura e Ciências da Vida da Universidade de Cornell, ao The Standford Chronicle.
O investigadores, que publicaram um artigo na revista científica Science Robotics sobre o seu trabalho, também atribuíram propriedades de locomoção aos materiais dinâmicos que criaram com base em modelos mecânicos reais. “Biomateriais dinâmicos movidos por um metabolismo artificial podem providenciar caminhos não explorados antes para criar sistemas biológicos ‘artificiais’ com características de regeneração e auto-sustentabilidade”, lê-se no paper.
Usando materiais a que chamaram DASH (DNA-based Assembly and Synthesis of Hierarchical), os engenheiros conseguiram que estes desenvolvem metabolismo, capacidade de se auto-compôr e organizar, componentes essenciais da vida biológica.
“Utilizando DASH, os engenheiros de Cornell criaram um biomaterial que conseguem autonomamente emergia da sua nano-escala criando blocos e organizando-se a si mesmo — primeiro em polímeros e eventualmente em formas de mesoescala.”
Como imagina o The Next Web, um dia poderemos ter máquinas ou robôs que, tirando de uma embalagem pequena e aquecendo um ou dois minutos no microondas, crescem e formam-se à nossa frente. Não é algo distante de imaginar, dado que, basicamente, os organismos semi-artificiais-semi-naturais desenvolvidos em Cornell conseguem andar, consumir recursos para gerir energia, crescer, acabando por enfraquecer e eventualmente morrer. “Em última instância”, avança Shogo Hamada, colega de laboratório de Dan Luo e co-autor do paper, o sistema e os materiais que estão a desenvolver “poderão levar a biomáquinas capazes de se auto-reproduzirem”.
“Este trabalho ainda está na sua infância, mas as implicações de máquinas com crescimento orgânico e auto-reprodução são incríveis. E o debate em torno de se os robôs podem ter ‘vida’ vai entrar num novo capítulo de discussão em breve”, remata o The Next Web.