Em comunicação há palavras ou expressões que são usadas com uma intenção muito definida e “inteligência artificial” é uma delas. Marcas usam-na para vender smartphones, start-ups usam-na para se venderem… O termo “inteligência artificial” – muitas vezes encurtado para “IA” – banalizou-se e, de certo modo, deixou de ter um significado tecnológico para passar a ser uma mensagem comercial. Parece que a IA – que tem décadas de história – está em todo o lado, mas será que está mesmo?
Um estudo londrino, de uma empresa de capital de risco chamada MMC, citado pela Forbes, analisou a actividade, o foco e o financiamento de 2 830 start-ups associadas à inteligência artificial de 13 países europeus para chegar a uma conclusão: 40% das start-ups europeias que estão classificadas como empresas de IA não utilizam IA no “material” do seu negócio. Ou seja, “empresas que as pessoas assumem e pensam que são de IA provavelmente não o são”, conforme disse o especialista David Kelnar, que liderou o estudo, à revista Forbes.
De acordo com a MMC, muitos dos usos de inteligência artificial e aprendizagem automática pelas empresas escrutinadas são usos simples, como é o caso de chatbots (26% das start-ups) ou detecção de fraude (21%). São discutíveis o benefício ou o impacto de ambas as utilizações para os consumidores. Aliás, o selo “IA” é especialmente importante para captar investimento: a MMC descobriu que as start-ups que dizem trabalhar com inteligência artificial conseguem 15-50% mais investimento que as outras empresas. “Acho que em muitos casos [as start-ups] sabem como estão a ser classificadas”, mas não corrigem.
Porque é que David Kelnar disse ‘estão a ser classificadas’ e não ‘estão classificadas?’ Porque, conforme nota a Forbes, a designação “start-ups de IA” nem sempre é das próprias empresas; são sites externos que frequentemente são responsáveis pela classificação.