Nasceu como Social Bicycles em 2010 em Nova Iorque. No início de 2018 rebatizou-se como JUMP; a designação Social Bicycles a ficar para o desenvolvimento do software e hardware que municípios, campos universitários ou empresas podem adquirir para lançarem os seus próprios sistemas de bicicletas partilhadas. A JUMP tornou-se apenas uma face comercial da tecnologia da Social Bicycles; uma marca de bicicletas eléctricas partilhadas e sem doca que se tem expandido por cidades norte-americanas e que, em Abril de 2018, passou a integrar a família Uber.
Uber e bicicletas, porquê?
Porquê o interesse da Uber em bicicletas? A empresa californiana fundada em 2009 viveu a última década sem dar lucro. Em vez disso, tem resistido graças a milhões e milhões de dólares de investimento – por exemplo, do SoftBank –, permitindo-lhe crescer a um ritmo acelerado. Sob direcção de Dara Khosrowshahi, a Uber quer ser mais que uma alternativa ao táxi, mas um operadora de mobilidade à escala global. “Queremos reunir vários modos de transporte dentro da aplicação Uber – para que possas escolher o caminho mais rápido ou mais acessível para chegar onde quer, seja de Uber, de bicicleta, de metro ou de outra via”, escreveu o CEO da Uber no comunicado a anunciar a aquisição da JUMP, um negócio que se estima terá sido de 200 milhões de dólares.
Em cidades extremamente congestionadas pelo automóvel e com problemas de poluição daí resultantes, a mobilidade suave, como as bicicletas e as trotinetas, tem-se destacado como solução. De uma forma geral, sistemas partilhados têm contribuído para aumentar os números de ciclistas nas cidades, permitindo às pessoas ir de um ponto A a B sem ficarem retidos no trânsito ou terem de trocar de veículo. As bicicletas partilhadas são também fáceis de usar e não requerem conhecimentos de manutenção, nem preocupações com o estacionamento à chegada; além disso, se forem eléctricas, tornam-se ainda menos exigentes fisicamente, uma vantagem especialmente importante em cidades inclinadas.
A JUMP, empresa originalmente fundada por Ryan Rzepecki, pode agora ajudar a Uber a tornar-se uma daquelas apps presentes em qualquer smartphone. Ao oferecer uma disponibilidade global e abranger diferentes tipos de transporte (táxis, bicicletas, trotinetas, metro…), a Uber quer ser o serviço de mobilidade que abrimos à chegada a uma nova cidade que mal conhecemos. Ryan explicou ao TechCrunch que a decisão de vender a JUMP à Uber foi tomada, entre outras coisas, com base na capacidade desta de conseguir criar um sistema de bicicletas partilhadas em larga escala, mas também com a alegada abordagem do actual CEO da Uber de trabalhar em diálogo com as câmaras municipais. Essa atitude contrasta com a do anterior chefe da Uber de ‘lançar primeiro, resolver depois’.
Dos EUA para a Europa, Lisboa é a 2ª cidade
Disponível em 17 cidades norte-americanas, em Berlim e desde o início de Março em Lisboa (com uma frota total de 750 bicicletas eléctricas), a JUMP opera milhares de bicicletas a nível global. Não são todas iguais, contudo. Existe da parte da JUMP/Uber um esforço para desenvolver uma bicicleta que se adeque o melhor possível a qualquer cidade, são feitos pequenos ajustes locais. Por exemplo, em São Francisco, nos EUA, as bicicletas têm 8 modos de velocidade devido às colinas da cidade, enquanto que na maioria das cidades têm apenas 3 modos de velocidade – em Lisboa, apesar da geografia também irregular as bicicletas JUMP têm só 3 modos.
De resto, as bicicletas da JUMP são iguais nas localidades em que o serviço de partilha está disponível. São bicicletas com um motor de assistência eléctrica que, quando o utilizador pedala, é activado e permite viajar a uma velocidade até 25 km/h – uma vez atingida essa velocidade, o motor pára. A cor vermelha foi escolhida para as bicicletas da JUMP se destacarem na via pública, captando a atenção de novos utilizadores.
Na construção das bicicletas, a JUMP toma outros cuidados tendo em vista a durabilidade das mesmas, uma vez que as pessoas podem não ser tão cuidadosas com uma bicicleta partilhada como seriam com a sua, além de que estão constantemente expostas aos agentes exteriores. Assim, por exemplo, as bicicletas JUMP são submetidas as testes em que são postas a percorrer mais de 2 mil quilómetros sob rolos que replicam um piso de paralelepípedos, com carga pesada no cesto e um utilizador pesado montado nas mesmas de forma violenta.
Estas bicicletas estão igualmente protegidas de potencial vandalismo, por exemplo, os cabos dos travões são totalmente encaixados dentro do quadro para não poderem ser cortados. Outra ideia que a JUMP tem em conta no desenvolvimento dos veículos é a sua actualização, seja por questões de manutenção, em que pode ser preciso substituir uma ou duas peças, seja para permitir que as partes de uma bicicleta antiga possam ser substituídas aquando da criação de um novo modelo. A JUMP já tem uma geração mais recente das suas bicicletas vermelhas, que apresenta um painel no guiador onde pode ser colocado um smartphone, e que segundo a empresa é ainda mais difícil de vandalizar; mas as 750 bicicletas disponibilizadas em Lisboa são ainda o modelo antigo.
O burburinho da bicicleta na capital portuguesa
A chegada da JUMP a Lisboa tem dois significados distintos, dependendo da perspectiva de análise. Para a JUMP, a capital portuguesa é a segunda cidade fora dos EUA para onde se expande. Porquê? Talvez porque Portugal é reconhecido por ser um mercado early-adopter no que toca a tecnologia. E Lisboa, em particular, é uma cidade que vive um momento interessante no que toca a mobilidade suave e partilhada; desde a chegada dos primeiros operadores de trotinetas em Outubro do ano passado, contam-se agora oito empresas diferentes com a mesma oferta. O número de ciclistas e de utilizadores desses veículos tem vindo a aumentar na capital de ano para ano; de acordo com dados da Câmara Municipal revelados no evento de lançamento da JUMP, existem 7 mil utilizadores do serviço de bicicletas da autarquia, a GIRA, e 6 mil pessoas a utilizar as trotinetas partilhadas, o que resulta em 20 mil viagens por dia através de modos partilhados de mobilidade.
Em 2021, ano em que Lisboa irá receber a conferência VeloCity, promovida pela Federação Europeia de Ciclismo, a cidade deverá ter 200 km cicláveis. No anúncio deste evento, o vereador de mobilidade da capital, Miguel Gaspar, avançou a possibilidade de esses 200 km cicláveis já anunciados passarem a 300 km, sem, contudo, detalhar datas nem troços. A autarquia quer também expandir a GIRA além dos números inicialmente previstos e que ainda não foram totalmente cumpridos (140 estações e 1410 bicicletas) para um total de 300 estações e 3 mil bicicletas. E, neste momento, encontra-se a instalar 850 novos suportes de estacionamento para bicicletas e trotinetas.
Para Lisboa, a JUMP torna-se mais uma alternativa partilhada, não só à GIRA como às empresas de trotinetas. As bicicletas da JUMP apresentam duas vantagens principais à GIRA: não têm doca, pelo que podem ser utilizadas em viagens onde não existe cobertura da GIRA; e são pensadas sobretudo para utilizações pontuais, uma vez que não existe subscrição mensal ou anual. Todavia, o tarifário da JUMP não é igual em todas as cidades onde está disponível. Em Lisboa e noutros locais, custa 0,15 cêntimos/minuto, o que significa que uma viagem de meia hora vai custar 4,5 euros. Em Berlim, essa mesma viagem custa 2 euros e, em Nova Iorque, fica a 2 dólares. Existem cidades onde a JUMP disponibiliza um plano de subscrição; é o caso de São Francisco, onde por 5 dólares mensais tem-se acesso a 60 minutos gratuitos por dia, sendo que nos primeiros 12 meses não se paga mensalidade mas apenas um total de 5 dólares.
Talvez por isso as JUMP estejam a ser um sucesso na cidade-irmã de Lisboa. Às 250 bicicletas lançadas inicialmente, a JUMP disponibilizou mais 250; cada bicicleta está a fazer uma média de sete viagens por dia, o que é mais que as 1-4 viagens diárias realizadas nas bicicletas do serviço partilhado alternativo, a Ford GoBikes, que tem docas. Em Lisboa, a Uber decidiu partilhar 750 bicicletas, que estão disponíveis na rua para utilização, através da app da Uber, 24 horas por dia.
Como usar a JUMP?
Para desbloquear uma bicicleta da JUMP, basta abrir a aplicação da Uber, escolher a mais próxima e clicar no botão de “reservar”; os minutos começam a contar desde aí, pelo que o utilizador pode escolher só fazer a reserva quando se encontrar próximo da bicicleta. Depois basta introduzir o código numérico de desbloqueio que aparecerá na aplicação e remover o cadeado; no fim da viagem, basta colocar o cadeado de novo na bicicleta, prendendo-a a um estacionamento ou a uma peça de mobilidade urbano que se adeque. Antes de começar qualquer viagem o utilizador deverá verificar as condições de segurança dos travões e pressão de pneus.
Até dia 10 de Março, qualquer utilizador Uber pode beneficiar de duas viagens gratuitas por dia até 20 minutos, aplicando-se os 0,15 euros/minuto depois disso.
A JUMP em Lisboa vai correr bem? Não sabemos. Certo é que a Uber continua em crescimento acelerado pelo mundo fora e a mobilidade suave pode dar-lhe um novo fôlego financeiro. À semelhança de outras tecnológicas, como a WeWork, a empresa californiana beneficia de acesso fácil a dinheiro, que pode “queimar” se com isso conseguir acelerar o seu crescimento. Beneficia também de uma notoriedade que outras companhias não têm. Ainda nem o serviço da JUMP em Lisboa tinha sido anunciado e já na imprensa portuguesa se especulava sobre a sua vinda e nas redes sociais se criava burburinho – uma vantagem que uma start-up mais pequena ou recém-nascida provavelmente não teria.
Por agora, a JUMP parece estar a ser bem recebida na cidade. Não tem os problemas que as trotinetas criam, pois têm de (ou devem?) ser arrumadas em estacionamentos próprios aquando da finalização da viagem – será que os 850 novos estacionamentos que a Câmara Municipal começou a instalar foram para a antecipar a chegada da JUMP? Uma das críticas feitas à chegada JUMP tem precisamente a ver com isso: as 750 bicicletas do sistema partilhado da Uber chegaram de repente e começaram a ocupar os suportes da cidade, deixando pouco ou menos espaço para bicicletas particulares.
Mais um exemplo. Como regular a utilização do espaço público pela utilização de empresas privadas q se sobrepõe na cidade à dos cidadãos. A foto é ilustrativa. Apenas uma bicicleta de um morador. As Uber parece q estão presas aos suportes!? Um bocado abusivo, não? pic.twitter.com/Llvgts0jgo
— tiago (@chartersazevedo) February 28, 2019
A chegada das bicicletas da @uber_portugal pode trazer problemas sérios para quem usa bicicleta própria. Em Entrecampos, poucos lugares sobravam para as bicicletas particulares. Assim é difícil incentivar a mobilidade ciclável em Lisboa. O que diz a @CamaraLisboa? pic.twitter.com/3MN3XRTFtX
— Frederico Raposo (@FredericoRaposo) March 1, 2019
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