Em Lisboa, já vimos algumas zonas outrora ocupadas pelo automóvel a serem transformas em espaços públicos pensados para as pessoas: o Terreiro do Paço, por exemplo, foi um estacionamento automóvel até bem perto da mudança deste século, tal como o redor da praça de touros do Campo Pequeno. E o estacionamento do Campo das Cebolas foi recentemente reconvertido num parque subterrâneo, com o exterior a ser agora uma praça pedonal com um relvado e um jardim infantil. A próxima grande transformação neste âmbito vai acontecer na Praça de Espanha.
Actualmente a Praça de Espanha é uma complexa rotunda que é a intersecção de seis grandes artérias – a Avenida dos Combatentes, a Avenida Santos Dumont, a Avenida de Berna, a Avenida António Augusto de Aguiar, a Avenida Calouste Gulbenkian e a Avenida Columbano Bordalo Pinheiro. Atravessar a praça a pé de uma ponta à outra pode ser uma pequena dor de cabeça, dada a sinuosidade do trajecto que se tem de fazer e a quantidade de semáforos que se tem de aguardar. Existe um espaço verde no meio praticamente inacessível. Fazer a rotunda de bicicleta também não é tarefa fácil – apesar de dar jeito para, por exemplo, quem segue de Sete Rios ou de Benfica e quer chegar ao Saldanha.
Ao que tudo indicia, a Praça de Espanha tal como hoje a conhecemos vai começar a desaparecer já este ano, com o arranque das obras que a transformarão num novo parque urbano maior que o Jardim da Estrela e que irá dar continuidade aos espaços verdes que existem à volta, como a Gulbenkian, o futuro Parque Urbano do Vale de Alcântara, Monsanto e o Jardim Zoológico. A reconversão da Praça de Espanha estará a cargo do atelier NPK, cujo projecto foi seleccionado depois de lançado um concurso público internacional e de envolvida a população na escolha do vencedor. Prevê-se que a obra esteja concluída em 2020.
A proposta desta empresa de arquitectura envolve a recuperação do riacho do Rego, trazendo-o para a superfície para que as pessoas possam apreciar o curso de água no jardim que irá nascer na Praça de Espanha. Será ainda construída uma bacia de retenção de águas da chuva, para evitar as cheias que tanto fustigam a zona, conforme conta a revista Time Out. O projecto inclui também uma área de polidesportivos informais em campos relvados e um espaço com bancadas de apoio para refeições.
O plano arquitectónico do NPK promete “uma atmosfera mais limpa, jardins mais fáceis de sustentar, uma cidade mais fresca, mais resiliente às alterações climáticas, uma cidade mais bonita”. Ao mesmo tempo, pretende-se criar “uma nova unidade urbana, capaz de gerar coesão no espaço público desconexo e novas continuidades entre os bairros”.
Nos arredores da nova Praça de Espanha – que começou a ser decidida em 2014, com António Costa ainda à frente da autarquia lisboeta – deverá nascer a nova sede do Montepio e da seguradora Lusitânia, e as instalações do actual Instituto Português de Oncologia vão crescer. O novo parque urbano deverá integrar os novos inquilinos, mas também preservar os antigos, como a Fundação Calouste Gulbenkian, o Teatro Aberto e o Teatro da Comuna. Na Praça de Espanha irá também surgir (por fim) uma artéria ciclável e a circulação rodoviária será alterada com a criação de dois grandes cruzamentos nos topos da praça: um para as avenidas dos Combatentes, Santos Dumont e Columbano Bordalo Pinheiro; outro para as avenidas de Berna, António Augusto Aguiar e Calouste Gulbenkian.
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