Lídia Pereira e João Albuquerque são dois nomes que, se não te dizem nada, deviam. São ambos portugueses e como as fotos evidenciam, ainda jovens. Em comum têm o facto de se terem tornado quase em simultâneo líderes das principais juventudes partidárias a nível europeu. O João dos Young European Socialists e a Lídia dos Youth of the European People’s Party.
Decidimos falar com ambos para perceber as suas visões para a Europa e qual o papel que atribuem às juventudes partidárias na política europeia. No fim, aproveitámos para tentar descobrir se os vamos ver a concorrer às eleições europeias de 2019.
Neste artigo conversamos com a Lídia, líder da YEPP (Youth of the European People’s Party), a “jota” do Partido Popular Europeu, mais conhecido como PPE. A entrevista com o João pode ser vista aqui.
Para quem está a ouvir falar pela primeira vez de vocês e não tem muito por onde procurar na internet: quem és, de onde vens e, resumidamente, como chegaste a líder da juventude partidária europeia?
Sou Ana Lídia, mas toda a gente me conhece por Lídia…desde a escola primária que a minha turma tinha muitas “Ana(s)” e portanto acabei por ficar só Lídia. Tenho 27 anos e sou natural de Coimbra. Vivo há 5 anos fora: fiz Erasmus em Praga, mestrado na Bélgica e comecei a minha carreira profissional no Luxemburgo. Em 2017 fiz as malas outra vez e regressei à Bélgica, Bruxelas, onde trabalho actualmente.. “Home is where your heart is” e o meu (heart) nunca saiu de Portugal. A minha casa é Coimbra.
O interesse por política começou desde desde muito cedo, na escola. A minha turma era muito participativa em tudo, tínhamos discussões sobre o governo, sobre o ministério das Finanças que era liderado por Manuela Ferreira Leite. Lembro-me de quando escrevia composições normalmente eram sobre política.
Mais tarde, no Secundário, integrei a associação de estudantes, participei no Parlamento dos Jovens. Na Universidade foi onde comecei a ser formalmente mais ativa na política: fui membro do Senado da Universidade de Coimbra, passei pelo Núcleo de Estudantes de Economia e filiei-me na JSD depois de participar na Universidade Europa.
Foi na JSD que o interesse pela política e pela Europa cresceu. Depois de ter sido membro da concelhia da Jota de Coimbra, fui vice-presidente da distrital e mais tarde directora das RI e membro da CPN da JSD. A JSD é um dos membros fundadores do YEPP (Youth of the European People’s Party) e, desde que assumi funções no gabinete das RI da jota, comecei a participar nos eventos do YEPP, apresentar moções e a inteirar-me do funcionamento da organização. Antes de ser eleita Presidente, fui vice-presidente do YEPP.
Qual é o papel das juventudes partidárias ao nível europeu? Não estão no Parlamento Europeu, que tipo de actividade desenvolvem no dia-a-dia e ao longo do ano?
As juventudes partidárias de cariz europeu, à semelhança dos partidos/famílias políticas europeus, têm um papel agregador, servem de fórum de troca de ideias, desenvolvem políticas com a ambição de influenciar o processo legislativo europeu. Não muito diferente do que se passa a nível nacional, as juventudes partidárias são incubadoras de ideias e veiculam a sua mensagem política aos partidos, sendo a consciência jovem dos mesmos. Trazem à discussão matérias que implicam directamente os jovens e, com audácia e independência, desafiam muitas vezes positivamente os partidos na sua corrente de pensamento.
O YEPP é uma juventude partidária bastante organizada. Tem cerca 60 organizações de toda a Europa. O YEPP reúne em sede de Conselho (“Council”) – o órgão máximo entre congressos – de dois em dois meses, momento em que são apresentados e discutidos documentos como moções ou livros brancos (“policy making”), que servem de base do posicionamento político.
O acesso a uma rede alargada de eurodeputados, políticos nacionais e europeus, permite demonstrar a visão da juventude europeia em várias matérias.
Quais são, no teu entender, os principais desafios do projecto europeu durante a próxima legislatura? Em específico para as juventudes, há alguns pontos concretos a debater no horizonte próximo?
Os principal objectivo do projecto europeu é provar que vale a pena. Vemos muita agitação e uma onda de populismo oriunda de várias geografias da Europa que desafia e questiona a continuidade da própria União Europeia. Ainda estamos a recuperar de uma crise financeira profunda e que acabou por esvaziar o significado de prosperidade e solidariedade, tradicionalmente associados ao projecto europeu.
Para isso, é fundamental trabalhar a mensagem positiva de sermos europeus. A nossa geração, em particular, nasceu num contexto sem fronteiras e sem barreiras a estudar, trabalhar ou viver no estrangeiro. Num mundo globalizado só faz sentido ser competitivo num plano europeu.
Por exemplo, para o YEPP é fundamental assegurar na próxima legislatura que todos os estudantes têm acesso ao Erasmus. Por acesso entenda-se que se trata da eliminação de barreiras ao programa, desde bolsas de estudo à transferência de créditos.
Como vês as propostas de listas transnacionais?
É uma questão complexa. Não vivemos nos Estados Unidos da Europa e portanto acho que falar em listas transnacionais é uma ambição sem sentido prático, dado o contexto de integração que temos. Mais, parece-me fundamental a ligação entre o eleitor e o deputado e não vejo que as listas transnacionais beneficiem essa relação. Tenho sérias dúvidas que este tipo de medidas seja um verdadeiro combate à abstenção.
Qual será a estratégia para envolver os jovens e levá-los às urnas nas eleições europeias? Passa por aí o vosso papel enquanto juventude partidária?
Os jovens movem-se por causas. É fundamental que os partidos ouçam os jovens e trabalhem para oferecer soluções para os seus problemas. A emancipação, a independência jovem são exemplos de problemas actuais que por enquanto são discutidos quase exclusivamente apenas nas juventudes partidárias. Não é suficiente.
A nossa estratégia será simples: passará por dar motivos aos jovens para votar através de políticas concretas.
Considero também importante uma maior abertura dos partidos à própria juventude e dar espaço a candidatos mais jovens. Tendo mais figuras jovens na política contribui para que jovens eleitores os reconheçam como modelos capazes de imprimir mudança e oferecer resposta aos seus anseios.
Em Portugal, as juventudes partidárias são algo mal vistas e raramente recebem atenção mediática. No entanto, vemos que são capazes de lançar líderes políticos europeus. Como podemos interpretar esta liderança numa comparação entre a qualidade da política “jovem” portuguesa versus a de outros países europeus?
Como em tudo na vida há sempre coisas boas e más. Eu acho que temos muitos quadros de qualidade, de valor, nas juventudes partidárias. Infelizmente, vemos que só as coisas negativas é que são notícia.
Os portugueses vêm de um país pequenino, mas têm almas de gigante. Prova disso é termos tantos compatriotas nossos em lugares de destaque pelo mundo fora.
Há possibilidade de te vermos num lugar elegível nas listas para o PE?
Estarei sempre ao serviço da Juventude Social Democrata e do Partido.