A internet democratizou a produção de conteúdos, e isto é algo que provavelmente já estamos cansados de ouvir. Com a ajuda da capacidade de distribuição dos algoritmos e uma base de utilizadores gigante (acima de mil milhões), plataformas como o YouTube e Instagram permitiram que, de repente, pessoas até aqui anónimas passassem a chegar a milhares, senão a milhões de pessoas, com os seus vídeos, fotos, ilustrações, artigos ou outros trabalhos, acumulando visualizações, gostos e seguidores.
Nasceu, assim, uma nova economia digital e novas profissões, a de influenciador – levada mais a sério por uns do que por outros, há influenciadores que conseguem sustentar as suas vidas com as receitas que obtém através da publicidade que o YouTube coloca nos seus vídeos ou das parcerias que conseguem negociar com as marcas.
Considerar um influenciador uma profissão não é comum e confessamos que até nós trocemos o nariz. A internet muda tão rápido e obriga a mudanças rápidas no mundo. Influenciadores não existiam há meia dúzia de anos, quando as redes sociais ainda eram pequenas. E em Portugal esta coisa de “se conseguir viver” do YouTube, de uma conta de Instagram ou de um blogue é ainda mais recente. Contudo, se influenciador é uma profissão recente, pode, tal como outras profissões, desaparecer no futuro; não se sabe como é que a internet e o consumo de conteúdos vai evoluir. Se hoje o YouTube e Instagram são indiscutivelmente populares, há factores externos que tornam o seu futuro imprevisível.
Certo é que as tecnológicas por detrás dessas plataformas – a Google e o Facebook – tudo farão para as manter de pé, pois elas não só “dão de comer” a quem nelas assentou a sua profissão, como alimentam o seu modelo de negócio baseado no mercado publicitário. Há mesmo muito dinheiro envolvido. Estima-se que as marcas tenham investido mais de 1,6 mil milhões de dólares em 2018 em influenciadores no Instagram; juntando outras plataformas como o YouTube e Twitch esse valor sobe para 6,3 mil milhões. Mas quanto ganha, afinal, um influenciador?
É comum associarmos os influenciadores a uma vida luxuosa, talvez porque é esse o “estatuto” que muitos deles acabam por partilhar, seja divulgando os gadgets que acumulam no seu escritório, mostrando a sua casa luxuosa ou a viagem que fizeram aqui ou ali. Além disso, apesar de sabermos quantas visualizações ou gostos tiveram nos seus conteúdos, muitas vezes não sabemos quanto é que ganham, quanto dinheiro fazem, que parte dele usam para as despejas, quanto investem, etc. Neste aspecto as celebridades da internet não são muito diferentes das da televisão, que recorrentemente também parecem ostentar vidas de luxo (ou, pelo menos, melhores que as do “comum mortal”) ou são título de notícia por alegadamente ganharem salários mensais de cinco dígitos.
Dan Mace, um youtuber da África do Sul que no ano passado começou a colaborar com Casey Neistat, ganhando através dele uma audiência considerável, disse que uma pessoa como ele no YouTube faz entre 2 e 4 mil dólares por mês através de publicidade da plataforma, conseguindo aumentar esse valor com parcerias com marcas e, assim, pagar todas as suas despesas e fazer uma vida só com o YouTube; já um youtuber que chegue a um milhão de visualizações por dia – note-se: é uma pequeníssima fatia do site – pode receber entre 60 e 70 mil euros por mês. No Instagram, a maioria das pessoas com posts patrocinados por marcas não conseguem viver só disso, mas Meghan Young, que a Bloomberg foi conhecer na sua websérie Next Jobs, é uma excepção.
Com 30 e poucos anos, Meghan, de Seattle, EUA, é uma estrela do Instagram. A sua vida consiste em aventurar-se por montanhas e paisagens bonitas, e publicar no Instagram sobre isso, mostrado produtos de marcas com as quais trabalha ou espera vir a trabalhar. Um post no seu feed de Instagram é geralmente vendido a 1500 dólares, enquanto que uma Story custa 200 dólares. Meghan podia estar agenciada, isto é, ter uma agência a ajudá-la a fazer parte do trabalho de gestão e captação de novos clientes, mas prefere fazer tudo sozinha – assim evita também que uma agência fique com uma percentagem das receitas (normalmente entre 30 e 50% para influenciadores pequenos; ou entre 20 e 30% para maiores).
O trabalho de Meghan não parece nada mau, tendo em conta que envolve muito passeio; todavia, por detrás do Instagram, há todo um trabalho que ela tem de fazer, principalmente por não ter o apoio de uma agência: editar as fotos, escrever as legendas, verificar a performance dos posts, acompanhar os clientes, passar facturas, captar novas marcas, responder a pedidos de marcas, etc.
Este ano, Meghan conta fazer entre 50 e 100 mil dólares, valor que inclui, além do Instagram, o licenciamento das suas fotos. “O meu trabalho é fazer parecer que é algo sem esforço, para parecer que é o mais divertido de sempre e que não é um trabalho. Mas é um trabalho”, disse Meghan à Bloomberg. E, como em qualquer trabalho – e se calhar mais neste que noutros, é preciso estabelecer limites com a vida pessoal; a internet pode ser um meio traiçoeiro e o “creator burnout” é real.