Há dois dias surgia a notícia da prisão de um hacker português como resultado de uma operação de cooperação internacional iniciada pelo Ministério Público Português e a Polícia Judiciária. Rapidamente vários meios de comunicação social começaram a associar essa detenção ao hacker Rui Pinto, que se notabilizou por a revelação de uma série de dirty secrets do futebol mundial no Football Leaks, mas que por cá tem ficado mais conhecido como o “hacker do Benfica” – ou do Porto, depende da perspectiva.
Hoje, segundo noticia o Público, o jovem detido confirmou a sua identidade numa nota enviada à redacção deste jornal pelos seus representantes legais, Franciso Teixeira da Mota e William Bourdon, que, segundo o jornal, revelaram a sua surpresa pela celeridade da operação, dizendo que pode ser reveladora de muitas outras questões, deixando no ar uma espécie de mistério.
Na mesma nota, os advogados confirmam que Rui Pinto tem ligações Football Leaks que revelou mais de 70 milhões de documentos confidenciais, conforme tínhamos sugerido numa reflexão publicada num dos momentos mais badalados do site, e que tem sido gravemente ameaçado desde que começou a publicação de ficheiros, em 2015.
Devido à complexidade do processo – é preciso ter em conta que os documentos que Rui Pinto revelou denunciam práticas pouco transparentes de grandes clubes mundiais –, os advogados avançam que o seu cliente deve ser beneficiado pelo estatuto de whistleblower à semelhança de Edward Snowden e Julian Assange.
De resto, William Bourdon, um dos nomes mencionados pelo jornal Público é conhecido por ter defendido Edward Snowden e Julian Assange em casos semelhantes ao de Rui Pinto. O advogado francês tem como uma das suas especialidades casos como este em que está em causa o estatuto de whistleblower, estando por exemplo referenciado como membro da The Platform to Protect Whistleblowers in Africa, uma organização focada na resolução deste tipo de caso.
Quanto à sua detenção os advogados afirmaram ainda que vão recusar o pedido de extradição e argumentam reforçando o carácter paradoxal de casos como este em que os denunciantes de práticas acabam por incorrer em crimes. O peso da opinião pública é uma nuance sempre em jogo em casos como este. Se no caso de Snowden e Assange as suas revelações foram recebidas de um modo generalizadamente positivo, no caso de Rui Pinto por mexer com um tema sensível como o futebol tem gerado muita discórdia entre adeptos — o amor pelos clubes acaba por deturpar o discernimento na análise dos factos.