Conhecemos a Carolina Rodrigues alguns meses antes do 180 Creative Camp. Apesar de já ter o seu bilhete comprado, sentia-se um pouco nervosa mesmo antes de fazer as malas rumo a Abrantes. Carolina, como muitos outros, partilhava o medo de “não ser criativa o suficiente para o 180 Creative Camp”, mas a criatividade pode surgir de formas tão diferentes! E quem melhor para te contar sobre isso do que a própria Carolina. Lê a sua história sobre partilhar e ultrapassar este medo com outros participantes.
“Eu escrevo.” É assim que respondo a umas das perguntas mais feitas durante o 180 Creative Camp em Abrantes: “O que fazes?”. Acaba por ser uma resposta invulgar, no meio de tantos designers, cineastas, fotógrafos e ilustradores. Porém, há uma coisa que nos une a quase todos: uma enorme vontade de auto-descoberta. Quem somos? Para onde vamos?
Foi com estas mesmas perguntas que Ioana Lupascu e Monika Bok se depararam. Ambas arquitectas de formação da Roménia e Polónia respectivamente, abandonaram os levantamentos em Autocad e maquetes em k-line e encontraram-se no 180 Creative Camp para descobrirem o que fazer a seguir. Porém, não é apenas aos participantes que toca a busca da identidade artística.
O ilustrador holandês, Jordy Van Den Nieuwendijk, partilhou durante a sua apresentação no Meet The Creators que se sentia “preso” dentro das suas próprias criações, chegando até mesmo a fazer um funeral para as mesmas, convidando família e amigos.
Mas também os locais tiveram a sua própria crise de criatividade. Joana, que foi participante durante o primeiro 180 Creative Camp em Abrantes, também não estava feliz com o seu trabalho na altura e decidiu demitir-se. “Quando és jovem e acabadinho de sair da faculdade, queres fazer algo de desafiante e o que eu estava a fazer não era. Estava farta daquilo e decidi parar”, disse durante a sua apresentação no “Meet the locals”.
Foi por essa altura que passou a estar à frente da velha drogaria do avô, dando-lhe um novo conceito e uma nova oferta de novos produtos portugueses, mantendo ainda os clássicos de qualquer drogaria portuguesa, como produtos de limpeza e sabão azul. Parece que as crises de criatividade tocam a todos.
“Eu estudei arquitectura durante seis anos apesar de todos esses anos desejar não o fazer e fazer outra coisa”, disse Ioana durante uma das nossas conversas. Por alguma razão, esta frase ficou-me na cabeça. A mesma coisa tinha acontecido com a Joana. Ela continuou a trabalhar durante dois anos antes de se demitir. A minha primeira reacção foi “Porquê?”. Porque fica alguém infeliz e decide (será que decide mesmo?) continuar no mesmo sítio que os faz ficar assim? Porque não mudar? Porque não mexer-se? Foi então que me apercebi que é preciso coragem para ter uma crise de criatividade.
Muitos nem se atrevem a ter tamanho desconforto e, às vezes, estar na situação desesperante de não fazer a mínima ideia do que fazer a seguir. Isto porque as pessoas, eu incluída, habituam-se ao conforto do desconforto porque não conhecem outra coisa. É seguro. Um trabalho garantido com um ordenado certinho ao fim do mês. O que se pode querer mais? Estará alguém disposto a deitar tudo a perder pelo sonho de se fazer o que se ama realmente? De ser verdadeiramente feliz? Não pode a felicidade ser encontrada noutro lado? Afinal, um emprego não é tudo na vida.
De facto, a maior parte das vezes, não é sobre um trabalho ou um ordenado ou sobre realização pessoal. É sobre arriscar verdadeiramente, coisa que muitos nem ousam. A canção de Miguel Araújo, “Valsa Redonda”, tem o que acho ser um lindo verso: “Duro vai ficando o coração de quem não quis dar-se à dor de ser feliz.”
Ser feliz é bastante exigente e muitos não estão dispostos a fazer essa busca. A busca de descobrir quem verdadeiramente são.
Todas as fotografias usadas para ilustrar este artigo foram tiradas pelos participantes do 180 Creative Camp Abrantes 2018 nas suas câmaras descartáveis.
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