Durante as últimas semanas foram mais do que frequentes imagens das principais ruas e praças de Paris; na sua maioria restringiam-se aos momentos de directo e às cenas de maior violência entre manifestantes e polícia tentando contar a história do movimento Gilets Jaunes/Coletes Amarelos através dos seus pormenores mais gráficos. A verdade é que não tem de ser só com imagens directas que se contam histórias; muitas vezes o poder das metáforas visuais aporta novos significados e desperta novas leituras tão ou mais interessantes.
Foi seguindo essa lógica e a sua abordagem de trabalho habitual, procurando criar uma linguagem poética em qualquer meio, que o artista Baptiste César fez um ensaio fotográfico sobre a reação ou preparação das ruas para os protestos. Porque as cidades são como organismos vivos com mais do que simples pessoas a habitá-las, Baptiste virou a sua atenção para as lojas e montras.
O resultado é uma série de fotografias intitulada “Montas Minimalistas” com uma narrativa absolutamente contrastante com a que temos contactado. Em vez da violência e agitação dos confrontos, vemos autênticas barricadas criadas em frente aos vidros das lojas como que protegendo-as do que estava para passar.
Em conversa com o Shifter, Baptiste César explica que tirou as fotografias no dia 8 de Dezembro bem cedo, numa área controlada pela polícia quando não era permitida a passagem de carros, turistas ou locais, criando uma “sensação de estranheza na cidade”. Sem contexto, as fotografias quase parecem tiradas de um cenário de pré-guerra ou de preparação para uma calamidade.
Um olhar atento sobre as fotografias revela a sua dimensão poética por completo ao observamos os logótipos de grandes marcas, como a Ballmain ou Dolce & Gabana, como únicos elementos restantes nas fachadas completamente emadeiradas – uma metáfora visual forte sobre a relação e reacção de empresas e pessoas a políticas e momentos sociais.
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