Porque não nos fartamos de procrastinar?

Porque não nos fartamos de procrastinar?

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6 Novembro, 2018 /
Foto de Matheus Vinicius via Unsplash

Índice do Artigo:

Quanto mais chata, frustrante, sem sentido, ambígua, difícil e pouco estruturada uma tarefa for, maior a probabilidade de ser adiada pelo seu oposto – e-mail, Twitter, Facebook, Netflix e comida são os melhores amigos da procrastinação.

Se chegaste até aqui é porque: o título do artigo chamou-te a atenção, decidiste abrir e ler um pouco, mas vamos ser sinceros, neste momento estás a usar estas palavras e este artigo para adiar algo de mais importante que tinhas para fazer. Não faz mal, todos o fazemos. Eu deveria, por exemplo, estar a estudar ou a tratar da roupa e estou para aqui a escrever sobre procrastinação – irónico, não é? Já que aqui estamos todos presentes vamos aproveitar para: perceber um pouco melhor o que é isto da procrastinação, porque o fazemos e, quiçá, retirar alguma ideia que nos ajude da próxima vez que decidirmos adiar algo de importante para ler artigos ou ver uma série…

A procrastinação é o hábito de adiar tarefas importantes e pouco prazerosas e, em vez disso, fazer algo mais fácil e que dê um prazer mais imediato. Quanto mais chata, frustrante, sem sentido, ambígua, difícil e pouco estruturada uma tarefa for, maior a probabilidade de ser adiada pelo seu oposto – e-mail, Twitter, Facebook, Netflix e comida são os melhores amigos da procrastinação.

Porque procrastinamos?

De acordo com Tim Pychyl, investigador da procrastinação na Universidade de Carleton, em Ottowa, Canadá, e autor do livro Solving the Procrastination Puzzle, existem 6 características presentes em todas as tarefas propicias a serem adiadas e, quanto mais dessas características a tarefa em questão tiver, maior a probabilidade de ser adiada para um outro dia.

Essas características são:

  • chata;
  • frustrante;
  • difícil;
  • falta de significado pessoal e recompensas intrínsecas;
  • ambígua;
  • pouco estruturada.

Como o Tim escreveu no seu livro, “a questão chave é que, para os procrastinadores crónicos, o foco no humor de curto prazo tem precedência. Procrastinadores crónicos querem eliminar o humor negativo ou emoções negativas agora, então eles cedem para se sentirem bem. Eles cedem ao impulso de adiar a tarefa para outra hora… Ao não enfrentar a tarefa, eles sentem-se melhor”.

A partir do momento em que identificamos o porquê de uma tarefa ser mais propicia a ser adiada, está na altura de delinear estratégias que ajudem a derrubar as barreiras mentais que a tarefa em questão causa e, no processo, treinar a nossa capacidade para ultrapassar estes momentos a longo prazo.

Dicas para combater a procrastinação da próxima vez que a vires

Foto de Mikito Tateisi via Unsplash

1. Deixar as coisas a meio

Existe um conceito chamado efeito Zeigarnik, que fala sobre a sensação de inquietude que sentimos quando começamos algo e não acabamos. Esta obriga-nos a concluir um projecto ou tarefa para evitar o sentimento de culpa. O escritor Ernest Hermingway usava muito esta técnica de produtividade e era costume terminar uma sessão de escrita não no fim de um capítulo ou de um parágrafo, mas abruptamente a meio de uma frase. Desta forma, reduz-se o quão difícil a tarefa é, pois já se está a meio e com a estrutura orientada, acabando também por criar uma inquietude constante de algo inacabado que acende uma faísca de vontade em pôr mãos à obra.

2. Restringe o limite de tempo para a tarefa

Aqui pode funcionar de duas maneiras: por um lado, e uma vez que o que importa é começar, podes criar um limite mínimo de tempo que vais ter de dedicar à tarefa em questão, o que te vai obrigar a ficar focado e possivelmente, quando atingires esse tempo, vais estar tão empenhado que vais querer continuar. Em momentos onde não tenhas vontade nenhuma, estabelece um limite mínimo bastante reduzido de 10, 5 ou 1 minuto, uma vez que o que importa é ser constante e vencer a procrastinação a longo prazo – este truque é muito usado por pessoas que pretendem meditar todos os dias. Outra técnica é fazer exactamente o oposto, ou seja, definir o tempo máximo que vais dedicar à tarefa e colocar um temporizador a funcionar – obviamente que é de extrema importância usares estes momentos apenas para te focares na tarefa em questão e em mais nada. Existem vários sites online que te vão ajudar e deixo-vos aqui o que eu pessoalmente utilizo.

3. Desliga-te da Internet

No livro Solving the Procrastination Puzzle, Tim Pychyl existe um capítulo inteiro sobre esta matéria. Alguns estudos realizados pelo autor revelaram que 47% do tempo que uma pessoa passa online é usado a procrastinar, o que Pychyl apelida de conservador, uma vez que o estudo foi feito antes do Facebook ou Twitter se tornarem tão populares.

“Para nos mantermos realmente conectados na nossa procura por objetivos, precisamos de nos desconectar de possíveis distrações, como ferramentas de redes sociais. Isso significa que não devemos ter o Facebook, o Twitter, o e-mail ou qualquer outro conjunto de ferramentas favorito em execução no computador ou smartphone enquanto estivermos a trabalhar. Desligue-os.”

4. Just do it

De todas as técnicas, truques e dicas não há nada melhor que apenas começar. De forma geral, as pessoas, perante uma tarefa que se enquadre com as características em cima mencionadas, tendem a sobrestimar o peso dessa característica na tarefa em questão, ou seja, focam-se no lado negativo, acabando por o aumentar. O mais curioso é que tudo isto apenas se passa no nosso cérebro sem, na realidade, ter acontecido nada de prático. Por esta razão, a melhor forma para enfrentar uma tarefa desanimadora é simplesmente começar a fazê-la, e depois sim, avaliar se realmente era tão má quanto parecia – regra geral, não vai ser.

Procrastina de forma estratégica

Foto de Rawpixel via Unsplash

Esta dica é um extra e uma ferramenta muito forte, mas, se mal utilizada, pode arruinar vidas e, por isso, achei melhor deixar para o fim do artigo onde, se calhar, já só os mais curiosos se encontram.

Já alguma vez te aconteceu deixar tudo para a última da hora e, quando tudo indica que já não vais conseguir porque simplesmente não há tempo, acabas por fazer o impossível, acabando não só por cumprir os prazos como também realizar algo de valor? Acredito que se nunca te aconteceu, pelo menos, conheces alguém que faz disto vida.

Existe uma explicação lógica para este fenómeno e não só é utilizado pelos mestres da procrastinação, mas também pelas maiores empresas do mundo. O Princípio de Pareto, mais conhecido como regra dos 80/20, diz-nos que 80% dos resultados que se alcança é consequência de apenas 20% dos esforços aplicados. Por exemplo: 80% dos lucros de uma empresa provêm de 20% dos produtos; 80% do resultado que tiveste no teste deriva de 20% do tempo que utilizaste em estudos; 80% dos crimes são cometidos por 20% dos criminosos; 80% da poluição têm origem em 20% das fábricas.

Voltando ao caso da pessoa que deixa tudo para a última da hora; o que acontece é que quando esta pessoa realmente começa a trabalhar já não tem nenhum para perder com pequenos pormenores e tem de focar directamente no âmago da questão, utilizando todo o seu pouquíssimo tempo para fazer o que realmente é preciso – isto também significa que, de forma geral, utilizamos 80% do tempo a “enfeitar” e preocupados se o texto fica melhor em Times New Roman ou Arial.

Theodore Roosevelt, 26º presidente dos Estados Unidos, usava muito este princípio nos seus tempos de estudante em Harvard. Boxe, luta livre, musculação, aulas de dança, leitura de poesia e, misteriosamente, uma profunda obsessão pelo naturalismo, eram alguns dos seus interesses durante os sues estudos, relatados pelo biógrafo Edmund Morris. Com todas estas actividades, Theodore ainda conseguia obter notas de honra. Para que tal fosse possível, ele utilizava o seu pouco tempo de estudos para se focar de forma bastante intensa apenas naquilo que era realmente preciso e, assim, conseguir em horas o que os seus colegas demoravam semanas a fazer. Segundo Morris, “a quantidade de tempo que passava à secretária era comparativamente pequena, mas a sua concentração era tão intensa, e a leitura tão rápida, que podia desfrutar de mais tempo livre (do trabalho escolar) do que a maioria das pessoas”.

Com este princípio em mente, é possível procrastinar de forma deliberada e estratégica em relação a determinada tarefa, mas é preciso teres em atenção que, se optares por este caminho, não há volta a dar e podes estar a pôr em risco todo o teu trabalho. Por isso, se achas que tens o autocontrolo necessário para utilizar esta técnica, parabéns, acabaste de ganhar bastante tempo livre, mas cuidado, se a coisa correr mal, o trabalho tem na mesma de ser entregue amanhã.

Autor:
6 Novembro, 2018

Nascido e criado em Coimbra, onde se encontra a estudar Marketing e Negócios Internacionais. Apaixonou-se pela escrita, é amante de cafés e tem um relacionamento sério com a literatura. Escritor favorito: Ernst Hemingway. Livro favorito: Crime e Castigo, de Fiódor Dostoiévski.

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