Quando se pensa em filosofia surgem logo à cabeça os nomes dos grandes clássicos e, a acompanhá-los, os nomes das suas grandes obras: Os Diálogos de Platão, Assim Falava Zaratrusta de Nietzsche, In Vino Veritas do Kierkeegard… you name it! Facto é que para quem está a dar os primeiros passos mergulhar de cabeça num destes livros pode não ser a melhor das ideias.
A sua complexidade é desafiante e pode ser um bom motivo de interessa pela filosofia – ninguém se interessa por esta área se tiver preguiça de pensar –, mas também pode funcionar como repelente, criando uma barreira que o leitor pode sentir como inultrapassável. Tendo isso em conta, e adaptando o denso conteúdo aos dias de hoje em que tudo é cada vez mais rápido e efémero, sugerimos-te uma série de entradas alternativas para este maravilhoso mundo novo.
1 – New Philosopher
É uma revista – sim, em papel – que todos os meses convida filósofos contemporâneos a debruçarem-se em pequenos ensaios sobre temas complexos. Editada por Zan Boag, a New Philosopher vem da Austrália e faz da ilustração e do design dois dos seus maiores atractivos para o mundo das questões e do pensamento. Cada edição é subordinada a um tema explorado ao longo da revista, nas mais diversas perspectivas com referências a ideias clássicas, contemporâneas e até de outras áreas de estudo que interessem à análise. A edição corrente, deste trimestre, debruça-se sobre o tempo; começa por nos dar um enquadramento das várias visões temporais e mergulha em seguida em problemáticas filosóficas mais profundas e interessantes em textos escritos de uma forma acessível e interessante — de pequenos excertos sobre filósofos intemporais a ensaios escritos por habituais colaboradores de outras publicações.
2 – Existencial Comics
Já te falámos desta página antes mas nunca é demais relembrar. O título é auto-explicativo e, mais do que nos perdermos em explicações, a esta página aconselha-se a visita. Tal como o nome indica, Existencial Comics reúne uma série de tiras de banda desenhada em que os personagens principais são filósofos e o tema central são as suas ideias. Entre as jóias da companhia temos, por exemplo, a série Mad Marx, em que o filósofo alemão é retratado como um super-herói do proletariado.
3 – Aeon Magazine
De todas as sugestões, esta é aquela que se relaciona menos directamente com a filosofia propriamente dita — ou pelo menos aquela onde vais ver menos vezes escrito o termo filosofia. Trata-se de uma revista independente que se dedica a esmiuçar e reflectir sobre temas importantes da nossa sociedade contemporânea. É o sítio certo para quem gosta de acompanhar o mundo e ir pensando criticamente sobre ele. Por exemplo, se já ouviste dizer que vivemos na “Era da Reputação” é provável que a pessoa que o disse o tenha lido aqui.
4 – Romances filosóficos
Se não queres ir de cabeça para os livros de filosofa pura e dura, uma boa alternativa são os romances de cariz filosófico. Há uma série deles, para os mais diversos gostos e sobre as mais diversas temáticas. Albert Camus, para mencionar um clássico, é um dos autores que mais se notabilizou nesta área. Livros como A Queda ou O Estrangeiro são simultaneamente agradáveis romances e espaço para momentos de reflexão sobre a condição humana a um passo da filosofia. Outro bom exemplo são os livros do italiano Umberto Eco, também eles uma intersecção entre estes dois universos.
5 – Vídeos, documentários, a net!
Este conselho é meio genérico mas serve para te dar um sinal de esperança. Pode não estar à vista e não merecer o destaque dos algoritmos mas na internet há bom conteúdo filosófico que nunca mais acaba. O arquivo da RTP e as Conversas Vadias, ou o brilhante documentário sobre o filósofo Agostinho da Silva, são disso um bom exemplo e longe de ser único. No YouTube existem dezenas, se não centenas, de palestras, documentários, entrevistas, apresentações… enfim, tudo e mais alguma coisa.
5.5 – Hip Hop Tuga
Este ponto pode ser meio simplista e provavelmente exagerado mas se escolheres os rappers certos, acredita que não é e o fenómeno desdobra-se em duas vertentes. Por um lado, tens a exploração da palavra e da realidade, que nas músicas de rap chega, por vezes, a pontos de questionamento fascinantes; por outro, em rappers como Maze e Keso encontras referências concretas e alusões a filósofos como Agostinho da Silva. Neste campo, é preciso estar bem atento e ter o ouvido alerta para detectar as pérolas. Por exemplo, quantos repararam que no novo disco do Sam the Kid, o Lancelot se compara com o Schopenhauer? Pois é, uma palavra difícil, um Google rápido e podes muito bem estar “into it” sem te teres apercebido.
Em suma, e como podes perceber, há inúmeras formas de entrar neste universo sem mergulhar de cabeça. O importante é que comeces por algo que te agrade e que possas ir seguindo essa linha de raciocínio até sentires vontade ou necessidade de pegar em literatura mais à séria, até lá vais desfrutando do caminho. Afinal de contas, nesta disciplina sem fim não há nada mais importante do que o meio.
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