Chegámos à estação de São João do Estoril pouco passava das 18h, Kappa Jotta já nos aguardava junto ao carro, com o Virus na mão. Após os habituais props e cumprimentos seguimos para umas escadas a pouco mais de 500 metros da estação, onde parámos para a conversa. As primeiras impressões de um dos rappers mais promissores da nossa geração revelaram uma postura de boa energia e humildade, uma lição de saber estar e um respeito pela cultura, próprios de quem está seguro do que atingiu.
O caminho começou a ser traçado em 2004, quando Kappa começa a utilizar o rap como expressão de desabafo. Entre problemas familiares e stresses próprios da idade foi num cd do irmão que encontrou o hip hop, Podes Fugir Mas Não Te Podes Esconder dos Da Weasel.
E foi no hip hop que o puto revoltado encontrou um método de organizar e exprimir as suas ideias. Sempre influenciado pelos “patrões” Sam the Kid e Dealema, mas principalmente por grupos da zona como Da Blazz, Suspeitos, Movimento Colectivo, estreou-se no rap no grupo Guerrilla Urbana com Mnémiko e Arma Vokal.
Depois de algum tempo de indecisão e de 3 mixtapes do grupo terem sido, literalmente, perdidas, Kappa lançou-se a solo com Joker e teve o seu momento de afirmação. Sempre céptico do poder da distribuição 2.0 preferia vender de mão em mão e passar o trabalho a pessoal da zona. Foi o feedback desse pessoal que o fez render aos social media e tentar por lá a sua sorte. É desde então um dos nomes mais promissores e assíduos da Linha C.
Movimento Linha C
Linha C é, mais de que uma zona, um mote que une um movimento de rappers. Nascido duma expressão de França, irmão de AL-X, já quase retirado do meio, foi ficando como símbolo da cooperação entre o pessoal da área. Hoje em dia corre pelas bocas de todos e é uma das marcas em maior crescimento no rap tuga mas na origem é apenas a expressão natural de um grupo de amigos.
França, AL-X, Seth, Arma Vocal e Kappa cresceram juntos pela mesma zona e desde sempre partilharam o mic. Em paralelo, na área cresciam também outros nomes como Dillaz, Piruka, DJ BIG, Jackpot BCV ou Khapo com quem o intercâmbio foi inevitável. Entre projectos conjuntos e colaborações, foi cooperando que fizeram o movimento despontar.
Vírus
Em 2013 lançou o EP Joker, o seu primeiro trabalho a solo. Depois de anos de experiências em Guerrilha Urbana, foi a partir daqui que se afirmou perante a generalidade do público hip hop, saindo da sua zona de conforto. Aproveitando as redes sociais e lançando alguns videoclips, começou aos poucos a propagar este vírus um pouco por tudo o país. E o feedback não podia ter sido mais positivo.
A motivação e fome de rap foram aumentando e após o aquecimento com Joker, não podia ter deixar cair-se no esquecimento, e é então que em 2014 surge a mixtape (A)Firma riscada pelo DJ BIG. Este projecto só veio aumentar ainda mais a expectativa e o vírus tornou-se impossível de manter em quarentena.
Após o lançamento dos singles, “Sem Convite”, “Para Captares”, “Perfume”, “Rap Rua” e “Mais Feeling”, assistimos então ao lançamento do álbum Virus, composto por 16 temas, que incluem participações de Carolina Deslandes, DJ Big, Jackpot BCV, Bispo, Carolina Quadros, Khapo e Tamura, para além de produções do Last Hope, Mixstereo, Sensei D, Slotmachine, Khapo, Charlie Beats e do próprio Kappa Jotta.
Virus está disponível desde 1 de Outubro e pode ser adquirido nas lojas Bana e Son of a Gun ou encomendado através do e-mail virus.encomenda@gmail.com.
Texto em colaboração com: João Ribeiro
Fotos: Marco Brandão/Shifter
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