Pokemon Sleep: para que serve um jogo para quando estás a dormir?

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Pokemon Sleep: para que serve um jogo para quando estás a dormir?

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"O conceito do jogo é para incentivar os jogadores a acordar todas as manhãs", disse o seu criador, durante a apresentação.

Jogar uma coisa qualquer é uma das actividades mais antigas da humanidade. O que começou com brincadeiras rudimentares que serviam para queimar as horas vagas nos tempos idos ao longo dos séculos foi acompanhando a humanidade com sucessivas adaptação. Provavelmente tudo começou com as brincadeiras sem regras mas mesmo alguns dos jogos como os conhecemos hoje remontam a um passado longíquo — como os pré-históricos, chinês Go ou egípcio Senet. Dos jogos analógicos que evoluíram como hoje todos podemos testemunhar, a coisa foi evoluíndo e houve uns anos em que parecia que jogar nem era assim tão fixe para o cidadão comum — era uma coisa de nicho, de nerd ou, ocasionalmente, de momentos sociais em volta das máquinas de café.

Tudo mudou com os smartphones; a possibilidade de jogar em qualquer lado, sem a necessidade de um equipamento específico, como consolas ou computadores xpto, fez com que o mundo dos jogos ganhasse um novo sangue e acabasse por se reinventar, mais uma vez. A revolução que os smartphones trouxeram para o mundo do gaming nem sempre é mencionada mas facilmente se constata — para se ter uma ideia, o mercado de jogos para smartphone, segundo a Newzoo, no final de 2018 valia qualquer coisa como 70 mil milhões de dólares. Por um lado, toda a gente que tenha um smartphone tem um equipamento capaz de jogar qualquer coisa, por outro, o facto de andarmos com ele para todo o lado, faz com que os próprios jogos possam sair do espaço/tempo a que estavam confinados e explorar novas realidades através da tecnologia. O Pokémon Go foi um excelente exemplo de como, agora, até andar se pode tornar um jogo e é da mesma produtora que surge mais uma intrigante proposta.

Chama-se Pokémon Sleep e, como o próprio nome indica, pretende gamificar o tempo que um jogador (?) passa a dormir. Foi o próprio Tsunekazu Ishihara, Director Geral do Franchising Pokémon, que anunciou o plano para lançar este novo produto em 2020.

Se o Pokémon Go se revestia da promessa saudável de pôr os jogadores a andar, acabando com o estereotipo do jogador sedentário, este surge com uma mensagem semelhante, ao incentivar a padrões de sono ajustados. Ainda não se sabe ao certo qual a mecânica do jogo, ainda em desenvolvimento, mas tudo leva a crer que os jogadores sejam beneficiados por não carregarem no snooze e terem padrões de sono saudáveis. “O conceito do jogo é para incentivar os jogadores a acordar todas as manhãs”, disse Ishihara durante a apresentação que decorreu em Tóquio. E segundo se sabe será vendido um dispositivo em forma de pokébola que os jogadores devem colocar ao lado da almofada para monitorizar o seu sono.

Perante o carácter inusitado do jogo têm sido várias as reações ao seu anúncio. De qualquer um dos lados – da crítica ou do louvor – uma coisa parece unânime, a de que este jogo representa os tempos que correm de um modo quase caricatural. Tornar dormir divertido é uma promessa mais curiosa e intrigante do que aquilo que parece à primeira leitura. A ideia de que precisamos de um incentivo exterior, neste caso dado por um jogo, para suceder em algo que é uma necessidade biológica mostra como a nossa ligação aos smartphones pode tornar toda a nossa vida numa espécie de jogo. Mesmo que o jogo consiga fazer com que miúdos possam dormir melhor, será esta a melhor forma de os educar para tal?

Ian Bogost, filósofo e game-designer, redator ocasional para o The Atlantic e autor do livro “Play Anything”, no qual explora as possibilidades infinitas de tornar a seca da vida num jogo, foi um dos que apontou críticas. Uma das ideias que se subentende do tweet de Bogost é a interessante diferença entre os jogos mentais/pessoais como o exemplo clássico de contar carneirinhos face o aproveitamento dessa tendência para uma questão comercial.

https://twitter.com/ibogost/status/1133551555825885184

A ideia de um jogo que nos segue a cada passo, e até quando vamos para a cama, pode parecer entusiasmante para os mais novos mas pode ser demasiado imersiva e condicionadora do normal desenvolvimento. Por outro lado, as políticas de utilização desta aplicação também podem permitir à empresa obter informações sobre a utilização do smartphone dos seus jogadores sem que estes tenham consciência disso ou sequer se preocupem a ler os termos & condições a que se sujeitam no momento do download.

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  • João Gabriel Ribeiro

    O João Gabriel Ribeiro é Co-Fundador e Director do Shifter. Assume-se como auto-didacta obsessivo e procura as raízes de outros temas de interesse como design, tecnologia e novos media.

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