Estónia a “hackear” a crise do Covid-19

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Imagem via Hack The Crisis/Garage48

Estónia a “hackear” a crise do Covid-19

Na Estónia, onde vivo, decorreu um hackathon, cujos objectivos eram precisamente mitigar a crise ou preparar a retoma para o país e sociedade envolvente. No pitch final, a própria Presidente da República, Kersti Kaljulaid, compareceu online para agradecer o empenho.

Enquanto todo o mundo, ou quase todo o mundo, está em quarentena, há algumas fugas para a frente. Tentar tirar partido de crises não é uma coisa nova.

Há opções que se tomam. Ser reactivo ou ser activo em relação a soluções. Na memória recente ouvimos dizer que enquanto uns choram, outros vendem lenços. Há soluções que têm que ser encontradas para mitigar o problema e para acelerar a retoma quando finalmente o bicho da corona for dormir.

Com os efeitos económicos a fazerem-se sentir, há necessidade de criatividade. Na Estónia, onde vivo, decorreu um hackathon, que, para quem não sabe, é uma maratona de desenvolvimento de 48 horas, cujos objectivos eram precisamente mitigar a crise ou preparar a retoma para o país e sociedade envolvente. O tempo pode variar mas a solução tem que estar a funcionar no final dos dois dias. Todo o evento foi completamente remoto, como não podia deixar de ser. O Slack, plataforma de trabalho online, conseguiu 1000 participantes em várias localizações. Foi tudo improvisado e o processo de preparação foi feito em 24 horas. O tiro de partida foi a declaração de estado de emergência pelo governo da Estónia. O evento começou online as 3 da tarde com pedidos de apresentação de ideias. Às 6 da tarde de sexta-feira 13, foi o primeiro webinar, com membros da comunidade startup do sítio e o ministro da tecnologia e inovação participou.

Desde sempre a sociedade Estoniana viveu no espectro da crise, com uma atitude prática face a problemas. Nos tempos da União Soviética, com crises de abastecimento, a população habituou-se a esperar em filas ou a produzir em casa o que precisava. Com a recuperação da independência, a missão nacional foi designada. O país ia dedicar-se às tecnologias de informação e apostar na economia de inovação. Inúmeras start up apareceram e o governo foi totalmente digitalizado para os seus cidadãos. Esse projecto foi de tal maneira bem sucedido que passou a apostar em cidadãos estrangeiros, daí criar uma residência digital para estrangeiros que queiram usar os serviços de notariado e contabilidade.

É neste contexto que chegamos ao hackaton digital deste final de semana.

No pitch final, a própria Presidente da República, Kersti Kaljulaid, compareceu online para agradecer o empenho. 30 equipas apresentaram uma solução para um problema concreto, fosse ele criar ventiladores artesanais, sistemas de alerta para zonas onde as pessoas foram infectadas, ou até uma plataforma online para concertos, com partilha de câmaras por parte de artistas e audiência, para mitigar os inúmeros cancelamentos de concertos.

Houve vários prémios proporcionados pelo governo da Estónia e outros parceiros, desde 5000 euros, à ajuda prática na inseminação e propulsão de uma start up. A revista Forbes considerou a iniciativa um “exemplo” de liderança.

Caso estejam aborrecidos em casa, uma busca por “Hackathon Covid 19” no Google revela que já existem vários a acontecer pelo mundo. Noutro programa, a União Europeia também está a chamar pelas start up para apresentarem soluções. A data limite é dia 18 de Março.

Boa sorte.

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  • Miguel Melo

    Miguel Melo estudou Relações Internacionais na Universidade do Minho e mais recentemente na Universidade de Tallinn na Estónia, onde vive correntemente. Isso é o resultado de uma vida passada numa atmosfera internacional e da presença constante em organizações não governamentais. Os tempos livres são passados com duas obsessões: animação (especialmente japonesa) e música (manifestamente pesada). Hoje trabalha numa empresa de tecnologia de vendas como consultor de parcerias digitais (como quem diz construir pontes entre plataformas online).

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